Anneliese Masen está longe de se considerar uma vampira sortuda. Ao longo de sua existência, ela já ficou sem família duas vezes, já perdeu seu grande amor e se vê prisioneira de um poder inconstante que desperta a cobiça de inimigos poderosos.
Enq...
A saia do meu vestido se abria no ar enquanto ele me girava pelo salão de fortes luzes douradas. De fato, aquele não era o meu modelo favorito, porém era bem típico da época; a renda branca do corpete se alongava por todo o comprimento de meu pescoço e braços, contrastando com o marrom-rosado da parte de baixo, que era da mesma cor do laço de seda dos meus cabelos. Em nada destoava das demais damas conduzidas por garbosos cavalheiros de smoking ao redor, apesar de ter o seu encanto particular.
Sorri para os olhos negros de Seth, que estava simplesmente arrasador em seu smoking.
Espere... Isso estava certo?
Bastou eu questionar que tudo mudou. Seth me largou e eu caí para trás, mas de repente estava em pé novamente, agora na praia de La Push, diante da ilha James. Meu All Star afundava na areia e eu não usava nada além de um short xadrez vermelho e camiseta do Led Zeppelin. Minha mão estava entrelaçada a de alguém, e eu me sobressaltei ao me deparar com Hans, me fitando com os olhos azuis ansiosos e vestindo um moletom escuro e bermuda jeans.
Não. Isso estava completamente errado.
Essa descoberta me trouxe o caos. O ambiente à minha volta se desfez e me revelou uma sala repleta de espelhos. Fechada no centro deles, percebi horrorizada que cada reflexo trazia uma aparência que já tive um dia, o retrato de uma era. Ainda humana, usando meus trajes de ballet. Com o vestido de noiva que nunca saiu do costureiro. Já vampira, com os grossos casacos de peles da Rússia. O glamour da rica vida que segui com os anos junto à Joseph e David. E a imagem atual distorcida, tentando encontrar sua identidade.
Quem sou eu?, exigiram todas com os braços estendidos, mendigando por uma resposta e sem demora ficando furiosas com o meu silêncio. As unhas compridas então cavaram a superfície do espelho em direção à mim, buscando na minha carne a resolução de suas dúvidas.
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Levantei-me de supetão, meus cabelos seguindo o movimento repentino. Não havia respiração acelerada, tremedeira ou lágrimas. Esperei pelos sentimentos familiares que sucediam meus pesadelos, como o medo ou a dor, no entanto não havia nada além de confusão – tanto pelo sonho ruim quando o panorama geral defronte aos meus olhos. Jasper se situava feito uma colunata aos pés de minha cama, a expressão alarmada fazendo jus aos músculos tesos, e os demais – Alice, Rosalie, Emmett, Esme e até Carlisle – se amontoavam sob o batente da porta, espiando na defensiva.
Não demorei a compreender o que os assustou. Os livros e os CDs da minha estante estavam todos pairando pelo quarto, junto com o violão e a guitarra e até o pufe, e toda a extensão da parede de vidro estava irregular – haviam se formado pequenas protuberâncias, como se o vidro estivesse derretendo na direção da cama. A sílica estava reagindo ao meu comando.
— Perdão por invadir sua privacidade, Anna – Jasper se desculpou, afastando-se devagar da cama, arrastando com ele a sensação de paz que me aninhava feito uma manta. De súbito me senti acuada e alerta, precisamente como no sonho. – Consegui sentir seu pânico lá de baixo e não sabia o que fazer para despertá-la.