Aconteceu tudo tão rápido que, se eu não fosse vampira, dificilmente teria acompanhado o desenrolar da catástrofe. Junto aos meus pés, Seth explodiu no imenso lobo cor de areia, sendo seguido pelos irmãos que um a um foram irrompendo de dentro das roupas. Os garotos próximos aos Anciãos e às moças na roda se arrastaram pelos cotovelos para se transformar e, em uma batida de coração, eu estava rodeada de dezesseis horripilantes lobisomens do tamanho de cavalos. Tive tempo apenas de trocar um único olhar com David, um olhar límpido e indecifrável, antes que ele disparasse feito um falcão para o interior da floresta com os lobos em seu encalço, que preencheram a noite com rosnados.
Naquela atordoante situação estupefata, demorei a entender que eu devia ir atrás deles, impedir a qualquer custo o combate iminente – e não era pelo meu outrora irmão adotivo que eu temia; David não era benevolente como eu e não hesitaria um instante em matar a todos. Com o desespero se espalhando pelos músculos, minhas pernas se moveram devagar, quase mecânicas ao que eu mergulhava na escuridão entre as árvores com a sensação de que o solo estava ruindo sob a sola dos meus tênis. Alcei voo, testando meus limites de velocidade à medida que a mente procurava se conectar com as matilhas.
Parem!, gritei na cabeça de todos e fui respondida com palavrões e mais rosnados. Seth e Leah reduziram a corrida até que eu os alcançasse, mas também não pararam; o poder de alfa de Jacob estava atiçado ao estado máximo com o calor do perigo e era imperativo que eles o seguissem. Tentei focalizar os dois enquanto desviava das árvores, para que eles vissem a urgência em meu rosto e tomassem isso como um pedido de desculpas para o que eu estava por fazer.
Estendi meus braços para frente, impondo a gravidade a tocar os lobos e os que estavam mais perto de mim foram abruptamente interrompidos, suas patas suspensas no ar ainda tentando recobrar o ritmo da perseguição. Esforcei-me a fazer o mesmo com os que estavam mais adiante, entretanto além de eles serem muitos, os veteranos encabeçados por Sam e Jacob estavam longe demais da minha abrangência. E estavam próximos demais de encurralar David. E a única vez em que vi Dave fugir da raia, era porque nós dois sabíamos das consequências se fôssemos derrotados – ele seria o objeto da barganha que os Volturi usariam para me coagir a me tornar membro da Guarda.
Sem ver qualquer outra alternativa para evitar um massacre, lancei mão de um de meus dons proibidos, um dos dons que eu havia jurado jamais usar – o dom de Jane. O olhar da dor saltou de mim como um projétil e de súbito duas coisas – pelas quais eu não esperava – ocorreram simultaneamente. A primeira foi que não foi somente Sam que desabou em agonia; todos que estavam em contato telepático comigo foram afetados, inclusive Seth e Leah. A segunda foi que, feito a abelha que morre após da ferroada, o ataque ricocheteou para mim com intensidade expandida.
Meu grito agudo foi abafado pelo uivo dos dezesseis lobos torturados e eu caí cavando um sulco pelo solo, encolhida ao que as mãos apertavam a cabeça. Fechei os olhos na tentativa afoita de me livrar do sofrimento, concluindo em algum lugar distante da mente que aquilo era resultado do poder empata que herdei de Jasper – de sentir o que os outros sentem. Que merda. E foi sentindo o que os lobisomens estavam sentindo, a raiva que emanava deles, que abri os olhos. Seth e Leah mal conseguiam se interpor entre eu e Sam, Jared e Paul, que avançavam com os focinhos recuando sobre os dentes.
O que pensa que está fazendo, bruxa?!, grunhiu Sam, furioso. Defendendo o invasor?!
Arfei repetidas vezes, sem fôlego para me justificar. Já Seth, tremeu e se eriçou inteiro. Mais respeito com a minha Anna, Sam, alertou, ainda que Sam não pudesse escutá-lo. Fiquei de pé entre a terra molhada com dificuldade, os joelhos moles ameaçando ceder, e afastei Seth com um olhar advertente e um toque no flanco. Interpus-me toda maltrapilha defronte para Sam, ficando cara a cara com ele e precisando erguer um pouco o queixo para olhá-lo nos olhos.

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Estrela da Tarde
FanfictionAnneliese Masen está longe de se considerar uma vampira sortuda. Ao longo de sua existência, ela já ficou sem família duas vezes, já perdeu seu grande amor e se vê prisioneira de um poder inconstante que desperta a cobiça de inimigos poderosos. Enq...