Encontros

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O voo foi exatamente a completa chatice que eu previ. Senti-me aliviada quando desci ao continente – era ótimo pensar que eu só dependia dos meus pés despertos para chegar ao meu destino. Passei correndo feito um tornado pelas cidades sem ser notada e admirava cada paisagem ao meu redor tentando prender a atenção a sua magnificência. Era espetacular. As folhas cor verde-esmeralda – que lembravam muito meus olhos – se fechavam ao meu redor, tendo poucas brechas pelas quais eu passava. Fui reduzindo a velocidade quando as florestas ficaram mais densas e a brisa imponente me trouxe fragrâncias conhecidas. Suspirei, sentindo de novo. Sem dúvida eram eles. O rastro estava fresco, portanto deviam estar por perto.

— Nahuel! Você está aí? – gritei para as árvores. – Huilen!

O som da minha voz ecoou fundo na floresta. Olhei para os dois lados. Nada. Em um suspiro pesado, sentei em uma pedra enorme que estava por perto e olhei minhas roupas, percebendo que ainda estava na limpeza imaculada de antes de embarcar no avião na Noruega.

Não durou um segundo. Barulhos começaram a chegar de oeste e logo um vulto passou voando, carregando-me consigo a três metros no solo poeirento, criando uma cratera por onde passamos. Lá se foi a roupa limpa.

— Anna! — gritou Nahuel. – Que saudade! É bom ver você de novo.

— Olá, Nahuel. Fico satisfeita por ver que sentiu minha falta – murmurei, sarcástica, enquanto olhava o buraco que se abriu por onde ele me arrastou. – Faz com que eu me sinta amada.

Ele riu e saiu de cima de mim. Fui me levantando e tirando as folhas das minhas roupas.

— As coisas andam paradas, ao que parece. Levando em conta a sua reação ao me ver, é o que posso deduzir – falei enquanto batia nas roupas para tentar se livrar do pó também. Minhas luvas rasgaram, então eu as arranquei e as joguei longe.

— Quem dera. Hoje em dia eu estaria pagando para ter de novo aquela boa calmaria. – Ele deu de ombros, rindo. – Isto, é claro, se eu tivesse dinheiro.

Foi quando Huilen surgiu detrás de uma seringueira, os olhos franzidos.

— Agora consigo entender porque ele saiu correndo feito louco – Huilen resmungou. – Não precisava ter me deixado falando sozinha, Nahuel. Eu sei correr também. Olá, Anna. Que prazer tê-la aqui novamente, querida. Você está linda, como sempre.

— Obrigada, Huilen. Você também está ótima. – Sorri. – Fiquei com saudades, então resolvi visitar. Espero não ter chegado em uma hora ruim.

— É claro que não. Venha me dar um abraço.

Sorri mais largo, atirando meus braços em seu corpo moreno e frio. Minhas mãos quentes, agora livres das luvas, tocaram seu rosto sorridente e as imagens vieram. Os olhos rubis em um rosto de papiro dando um contraste perturbador com o cabelo escuro e liso, dois grupos enormes separados em uma campina com restos de neve espalhados pela grama, o rosto incrível e familiar emoldurado por um cabelo cor castanho-avermelhado impossível de esquecer.

Caí no chão. Meus olhos estavam arregalados de descrença e minha respiração foi aos poucos se tornando acelerada e ofegante. Fiquei olhando para o nada, analisando as imagens que vieram da mente afetuosa de minha anfitriã.

— Anna, o que aconteceu? – Nahuel perguntou, alarmado.

Eu não estava ouvindo. Levantei-me em um átimo e, de repente, estava sacudindo Huilen pelos ombros.

— Huilen, onde você o viu?

— Viu quem?

— O homem de cabelo castanho-avermelhado na campina com vampiros. Onde e quando?

Estrela da TardeOnde histórias criam vida. Descubra agora