Compromisso

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Eu sabia que ainda estava sorrindo antes mesmo de abrir os olhos. Suspirei, sentindo a pulsação acelerar à medida em que minha memória reacendia e rolei na cama, escondendo o rosto com o travesseiro na tentativa de retornar para a inconsciência. Não queria despertar. Tinha medo de me deparar com a realidade e descobrir da maneira mais cruel que tudo não passara de um sonho.

Um sonho... o mais lindo de todos.

Toquei meus lábios, relembrando a sensação; não haviam palavras adequadas ou fortes o suficiente para explicá-la. Eu nunca havia sentido nada parecido em um beijo. Será que isso era consequência da meia-vida, do aumento das emoções que vem junto com o vampirismo? Ou simplesmente era uma reação natural para o encontro de duas metades em um todo? Não havia resposta, desse fato eu estava ciente. Minha única certeza naquele instante era que meu coração já não me pertencia – de que por toda a eternidade, até o fim dos dias, ele seria de Seth.

Seth. Meu Seth.

Pensar no garoto-lobo fez com que eu me sentasse, acordando para a manhã de sábado já ansiosa para vê-lo outra vez. A chuva na janela não ia além de uma fina garoa e previ que até a hora do almoço não passaria de uma neblina, então decidi por visita-lo pela tarde – assim, não pareceria tão desesperada. Para me distrair até lá, decidi por ocupar o tempo livre com dança – vesti a meia cor de rosa, um collant preto de mangas compridas e as sapatilhas em velocidade recorde, descendo as escadas para o café da manhã enquanto prendia o cabelo.

Encontrei Esme na cozinha, revirando uma omelete de queijo na frigideira, determinada no esforço de me compor uma farta refeição. Havia de tudo na mesa; torradas açucaradas, pães recheados com parmesão, donuts com creme, frutas vermelhas frescas, ovos Benedict com bacon, tarteletes de limão, suco de laranja... Culpa e remorso se afundaram no meu peito aos poucos; ela só estava se dando a esse trabalho porque acreditava que precisava me compensar, que a minha partida de Forks se devia a algo que me faltara por parte de Cullen – como se não fora apenas a consequência de meus problemas se voltando contra mim. Vi-me de mãos atadas, sem ideia do que fazer para tirar esse pensamento horrível da cabeça dela.

— Bom dia, mãe – cumprimentei-a com um beijo na bochecha. – O cheiro está maravilhoso.

Esme não se virou, mas reparei que seu sorriso, em geral ameno, se alargou até mostrar os dentes. Havia uma clara intenção de resposta quando ela me girou a cabeça, a boca entreaberta, todavia sua voz se abafou ao focalizar meu rosto. Os olhos dourados se estreitaram, apesar do sorriso ter permanecido igual conforme me analisava, identificando o brilho nos olhos, o rubor acentuado, a expressão iluminada. Vi por sua mente o quanto cada detalhe era gritante e tentei disfarçar me sentando defronte à mesa, bastante trivial ao assaltar uma torrada açucarada da cestinha.

Ela piscou para se recompor, me servindo a omelete e um frapê de morango.

— É melhor que esteja, mocinha – advertiu, procurando compor uma seriedade no rosto de coração –, pois não quero ver sobrar nem migalhas nesta mesa.

— Seu desejo é uma ordem. – E lhe bati continência antes da primeira garfada.

Não demorou muito para que me encurralassem. Alice foi a primeira; sentou à minha direita e apoiou o queixo sobre os dedos cruzados, fitando-me com seu sorrisinho amolado de fada. Emmett apareceu logo em seguida, sentando à esquerda com uma expressão obscena. Edward foi a cartada final, segurando meus ombros como se estivesse fazendo massagem, mas na realidade só estava me impedindo de fugir. Revirei os olhos no que Jasper parou, encostando casualmente no batente com a sobrancelha arqueada, entretanto terminei de comer tudo bem devagar, sabendo que minha demora iria torturá-los mais.

Estrela da TardeOnde histórias criam vida. Descubra agora