Luz e Trevas

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O desafio pairava no ar do The River's feito uma névoa. Ninguém ousava falar, e estávamos todos tão perto que eu podia sentir a respiração de Leah na minha nuca. Estreitei os olhos para meu adversário já meio bêbado, um homem grande de olhos mínimos e nariz largo – visivelmente um pescador, a presumir pelas mãos calejadas e cheias de cicatrizes –, e peguei a taça com o líquido verde para junto dos lábios.

Mal havia encostado a boca na bebida quando meu celular tocou. Larguei a bebida e ergui um dedo:

— Só um minuto – pedi, tirando o celular do bolso do jeans e levando para a orelha.

— Onde você está, Anna? – interrogou Edward logo que atendi.

Revirei os olhos, a mão na cintura.

— Na igreja. – E cantei um fragmento de Oh Happy Day. Todos os homens entorno caíram na gargalhada.

— Está em algum bar?! – supôs ao som das vozes, incrédulo. – Você é inacreditável!

— Não se preocupe, Ed. – Analisei as unhas, indiferente. – Leah está comigo.

Isso não o apaziguou:

— Venha para casa – rosnou. – Agora.

— Chego daqui a pouco. Primeiro, vou terminar de depenar um frango. – E desliguei sem esperar resposta, vertendo a taça de uma vez só; o absinto fez cócegas ao passar pela minha garganta. O bar todo fez um estardalhaço quando não vomitei com a famosa Fada Verde e Stu, o proprietário e balconista, se inclinou sobre a superfície de madeira, embasbacado.

Meu adversário me apontou o indicador, grogue:

— Você tem topete, ruiva. Eu tenho que admitir.

— E então, vai amarelar? – Minha mão voou nas quatrocentas pratas acima da mesa, arrastando nas notas para o meu lado.

A mão dele prensou a minha nas cédulas e os olhos se apertaram:

— Quantos anos você tem? – retrucou, tentando me intimidar. – Aposto que não tem o suficiente para beber.

— Aqui. – Joguei o celular junto à taça dele com um sorriso torto descarado. – Meu telefone tem uma linha direta com o chefe de polícia Swan, se quiser ligar e perguntar. Além do mais, ninguém pediu minha identidade. – Pisquei e soprei um beijo para Stu, que ficou vermelho no ato e desviou o olhar, assobiando. – E por que isso importa, afinal? Tem medo de perder no levantamento de copo para uma garotinha?

O bar inteiro uivou para ele. Leah se inclinou e deu-lhe tapinhas no ombro.

— É, Chuck, ela está chicoteando o seu traseiro – ela tripudiou, se esforçando para parecer triste. – Se eu fosse você, desistiria enquanto pode. Já perdeu até as calças no pôquer.

Mais risos.

Ele arrotou um sorriso frouxo e apanhou a taça, por um segundo parecendo muito corajoso e decidido, mas eu conhecia bem aquela expressão. Puxei Leah para trás no que ele deu o primeiro gole, porque logo em seguida o tal Chuck se engasgou, virou a cabeça para o lado e vomitou um jato nos pés de dois recém-chegados, que por sinal eram Jacob e Paul. Leah e eu choramos de tanto rir, escoradas uma na outra, à medida em que o bar entoava o coro da vitória. Fazia anos que eu não me divertia tanto.

— Isso foi nojento e totalmente desnecessário. – Guardei o celular e o dinheiro nos bolsos. – E eu ganhei. – Leah e eu batemos um high-five.

— Espere! – Stu saiu detrás do balcão com uma máquina fotográfica. – Isso merece ser registrado. Nunca vi nada igual. Segure a garrafa perto do rosto, por favor.

Estrela da TardeOnde histórias criam vida. Descubra agora