Inferno

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Eu nunca corri com tanto desespero na minha vida. Pouco me importava que eu estivesse em forma humana e que, nessas circunstâncias, qualquer vampiro fosse mais rápido do que eu; só consegui parar e me afastar do corpo inanimado de Anna quando adentrei na biblioteca dos Cullen conduzido por Edward, me deparando com Carlisle distendendo uma mesa de cirurgia no meio do tapete.

— O que aconteceu? – Carlisle interpelou já no caráter profissional de médico à medida que Edward me ajudava a deitá-la com cuidado sobre a superfície acolchoada, os dedos correndo pelo rosto lívido. Os olhos dela estavam completamente revirados quando ele levantou as pálpebras.

— Não faço ideia...! Estávamos conversando, ela reclamou de dor de cabeça, começou a sangrar pelo nariz e apagou! – atropelei-me com as palavras, a voz ficando embargada quando notei que o volume de sangue praticamente triplicara; agora o fluxo não escorria apenas pelo nariz como também pelos ouvidos e pela boca. Inclinei-me sobre ela, afagando seu cabelo. – Anna, meu amor, pode me ouvir?

Edward fitou Carlisle de esguelha com um ar sombrio.

— Eu disse que ela estava estranha.

— Ela está sofrendo uma hemorragia interna – Carlisle sussurrou como se não o tivesse escutado, o tom consternado sobrepondo a expressão de choque. – Edward, vá pegar minha maleta com os equipamentos de titânio, depressa! – E em uma batida de coração, o vampiro desapareceu porta afora. – Pessoal, tragam tudo para a biblioteca! Precisamos estabilizá-la, aplicar a morfina antes de desobstruir as vias respiratórias!

Edward não retornou sozinho. Trazia Alice a reboco, carregando uma maleta ao mesmo tempo em que ele batia na ponta de uma seringa metálica, a agulha respingando. Atrás deles, os outros Cullen apareceram um a um, posicionando objetos que de repente transformaram a biblioteca em uma ala de emergência improvisada. Carlisle aceitou sem ver a seringa que Edward entregou a ele, os olhos dourados concentrados na veia que em posicionou a agulha para depois espetar a injeção.

Automaticamente, Anna se sentou com as costas duras sobre a maca, quase translúcida na luz forte e branca do refletor. Todos estancaram no lugar, porque ninguém esperava por isso, muito menos pela cor vermelha e brilhante que consumia seus olhos – mais intensa e mais intimidadora do que a de qualquer recém-criado.

— Anna? – murmurei por reflexo, sentindo no fundo da alma que era inútil. Ela já não estava mais ali.

Sua mão se fechou em punho diante do rosto e fomos brutalmente arremessados contra as estantes de livros em uma única contração de puro poder. Bati as costas com tamanha violência que senti um dos ossos da costela se partindo e fiquei sem ar quando caí no chão. Fechei meus olhos por apenas um segundo, tentando me recuperar, e um apito insistente arriou em meus ouvidos – um apito que perdurou e ficou mais alto, mas que repentinamente se cessou.

Quando abri os olhos, eu não me encontrava mais na biblioteca moderna dos Cullen, repleta de aparelhos de hospital. Os móveis de mogno ao meu redor pertenciam a um escritório antigo, iluminado precariamente por um lustre de cristal. Ergui meus dedos para olhá-los de perto e em seguida toquei minhas costelas, no ponto onde há segundos antes eu havia escutado o estalo de um osso. Mas não havia dor, não havia nada. Meu corpo estava inteiramente intacto.

Um vulto cruzou a porta aberta à minha esquerda; e que escolha eu tinha, a não ser ir atrás dele? Segui os passos e o riso de uma garota até acabar no topo de uma larga escadaria, próximo a um vitral colorido. Era o ângulo perfeito para assistir ao casal que dançava no centro do hall de entrada, os movimentos tão suaves ao som da valsa que eles pareciam simplesmente flutuar sobre o mármore. Com um sobressalto, reconheci Anna entre os rodopios, mas o louro que a guiava não era David Dalaker – não, aquele cara era maior, mais musculoso, mais velho.

Estrela da TardeOnde histórias criam vida. Descubra agora