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Fiquei tão surpreso com o flagrante que meu corpo inteiro entrou em estado catatônico. Não consegui piscar, respirar ou mover um músculo que fosse – nem mesmo para cobrir minha nudez exposta para quem quisesse ver. Já Anna, em compensação, se retesou e abriu os olhos como se tivesse levado um chute, a expressão de uma lucidez atípica ao se endireitar na cama com um movimento alerta.

— Alice! – guinchou, tardiamente puxando o lençol sobre os seios. – O que está fazendo?

— Que tal salvando o seu traseiro? – A vampira atirou algo entre as minhas pernas, que demorei a entender que eram as minhas roupas emboladas umas às outras. – Vistam-se, coelhinhos, não temos muito tempo! – E sumiu no corredor.

Anna ficou de pé, me encarando de cenho franzido e com os cabelos desgovernados. Seus olhos então perderam um pouco o foco e ela ofegou, correndo feito um raio para o interior do closet e retornando inteiramente vestida e recomposta em questão de segundos. Foi o rastro de urgência que entrevi no seu olhar me arrancou do estupor – saltei do colchão e coloquei minhas roupas enquanto a seguia para fora do quarto rumo a sala, as luzes se acendendo à medida que íamos passando.

Alice nos aguardava na base da escada, a fisionomia carrancuda e reprovadora contrastando com o amplo sorriso afiado de Jasper, parado tranquilamente logo atrás dela. Ambos estavam usando trajes de gala, o que de início achei estranho – até me lembrar que eles deveriam estar no casamento dos Denali. Nas mãos, ela trazia meu muito surrado par de tênis, que me entregou sem dizer uma única palavra.

— Não posso acreditar que você não os viu chegando, Anna – sibilou em repreensão. – Quanta falta de responsabilidade.

— Desculpe, eu estava...

— Distraída – completou Jasper, sardônico. – Foi exatamente o que eu disse a ela.

— Como se eu já não soubesse. – Alice bufou. – Só existem duas coisas capazes de distrair um vampiro, e todos nós sabemos que você não caça. – Sua sobrancelha fez um arco insinuante. – Quando os vi assustados na floresta e o futuro desaparecer depois de um uivo, percebi depressa que não era você que os tinha interceptado. Até tentei ligar, mas essa sua porcaria de telefone só caía na caixa postal.

Senti que Anna me fitou de esguelha antes de responder, provavelmente me ouvindo criar especulações sobre aquela conversa e questionando o porquê de eu estar tão sossegado, até mesmo assobiando para amarrar os tênis. Mas tinha certeza de que não era nada grave – Jasper não estaria naquela paz imaculada, caso fosse um problema de fato.

— Se não os vi – ela começou na defensiva, checando o celular antes de devolvê-lo ao bolso do jeans –, é porque estou monitorando nossos amigos da Itália.

Jasper riu.

— Querida, se você estava monitorando alguma coisa, era algo dentro das calças do Seth.

Meu sangue queimou por debaixo da pele, entretanto Anna não se deixou intimidar.

— Sério, Jazz? – Ela cruzou os braços. – Em geral, espero esse tipo de piada de Emmett, não de você.

— Ah, não. Pode apostar que Emmett vai fazer piadas bem mais sujas sobre aquilo . – Ele apontou para cima, se referindo ao quarto em ruínas.

Em vez de retrucar à altura, como pensei que faria, Anna se encheu de um súbito horror. Sua postura ficou mais ereta no lugar e ela prendeu a respiração.

— Edward já está voltando também? – esganiçou baixinho.

Alice lutou sem sucesso para reprimir uma careta:

Estrela da TardeOnde histórias criam vida. Descubra agora