Capítulo 20

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Era o canto mais quieto da casa. O mais calmo, mais quieto, mais arrumado, impecável. Havia paz naquele cômodo, e nenhuma das discussões nunca chegava até ali. Christopher passou por fora da porta, vendo a luz acesa, e hesitou. O quarto nunca era trancado, mas a proibição do acesso a aquele local era violenta. Mesmo assim, ele entrou.


Branco e rosa bebê. Tudo muito delicado, muito terno. Havia um tapete de pelúcia no chão, bege, e uma cadeira de amamentação branca. A luz era reduzida, tornando o fluorescente não tão agressivo. Em uma lateral, o guarda-roupas dela. Na outra, uma estante com bonecas de pano, todas tão impecáveis com o se tivessem sido postas ali ontem. Haviam outros ursos e bonecas pelo quarto, inclusive uma panda enorme, sentada em uma das poltronas. Havia uma cadeira de balanço, nunca usada. Um trocador, uma estante, tudo em madeira marfim. A janela tinha uma cortina de renda, e havia um berço ali. Era oval, e tinha um pequenino brinquedo pra distrair o bebê, feito de bichinhos de pelúcia de frutos do mar.


Se lembrava de quando montaram aquele quarto. Madison não podia se agitar muito, tinha a placenta deslocada, então todos os outros trabalhavam. Arrumaram uma cadeira de rodas motorizada e excessivamente acolchoada pra ela, e ela geralmente ficava na porta, os pés em cima de um puf, as mãos protetoramente na barriga, ralhando ordens. Lembrava de Clair sentada no ombro de Nate, e a expressão dele olhando pra cima enquanto ela colava os adesivos de estrela no teto, que ainda estavam lá. Tudo estava lá... Só o bebê nunca viera.


Madison arrumava a cama dela. Fazia isso sempre, uma vez por semana, no mínimo. Os lençóis nunca tocados eram substituídos por novos, o bercinho estava sempre fresco. Ela se sobressaltou com a abertura da porta, pronta pra briga, mas era ele. Christopher nunca fora ali desde que ela decidira manter o quarto; absurdo, dissera. Continuou o que fazia e ele observou o carinho com o qual ela afofava o travesseirinho da filha, em seguida apanhando a boneca de pano na cama e levando-a até a estante. Cada semana era uma boneca diferente. Fez a troca com cuidado e repôs a boneca no canto do berço impecável... E vazio.


Ela se abraçou, como sempre fazia, recuando um passo e se abraçando, como sempre fazia, para avaliar o trabalho feito. Nada nunca mudava, só as bonecas e os lençóis, mas ela fazia aquilo como se fosse de uma importância vital. Sentiu ele se aproximar, tocando os braços dela, mas ficou quieta por um momento.


Madison: A essa altura ela já estaria engatinhando. – Disse, os olhos perdidos no berço, e sentiu ele lhe beijar o cabelo.


Christopher: Sim. Tropeçando pra aprender a andar, agora. – Madison fechou os olhos, absorvendo a mensagem vinda da voz dele. Fez o oco no ventre dela parecer mais doloroso que nunca.


Ficaram em silencio um bom tempo, observando o berço vazio. Era uma perda dos dois, a perda que os destruíra. O quarto ainda tinha aquele cheiro que quarto de bebê têm, muito puro, muito delicado.


Madison: Não culpo você. – Disse, por fim – Pelo que aconteceu a Brianna. – Completou, quieta. Era a primeira vez que voltavam ao assunto.


Christopher: Nem eu a você. – Ele a viu negar brevemente com o rosto. Tinha que ter feito alguma coisa. Se ela tivesse ficado mais quieta, se ela tivesse pedido pra ser internada só por precaução... – Não, Madison. Não havia como. Se houvesse, você teria feito. Teria ido ao invés dela, se fosse uma opção. Não é sua culpa.

Como Eu Era Antes de VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora