Capítulo 24

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Nevava na Escócia quando o avião pousou. Houve o processo no aeroporto, com a documentação e tudo mais, mas Anahí se abraçava, olhando a neve. Fez o trajeto de carro se lembrando do olhar de repreensão de Kristen quando se despediu dela, da expressão decepcionada de Henry quando ela disse que não ia passar o ano novo com eles, como haviam programado.


O carro parou na frente de uma mansão de estilo rustico, antigo, parecendo ter três andares. Não tivera foco o suficiente pra observar os jardins cobertos de neve; se perguntava se tomara a decisão certa, ou se tomara alguma decisão, ao fim das contas. Passou o natal muito calada, e com o ano novo se aproximando desenvolveu um quadro de ansiedade que piorava com os dias. O silencio a sufocava. Só parou quando ela ligou pra ele, dizendo que topava ir na viagem, como amigos.


Disse ao pai que seguiria o roteiro de ir pra praia com os amigos, e Alexandre não fez muito caso: Era normal. Ela passava o natal com ele, e por uns dois dias no ano novo sumia com Kristen. Já havia dito que haviam alugado uma casa pequena no litoral, pra ver os fogos. Apenas ressaltou todos os conselhos mais umas dez vezes, e ela partiu.


Esteve muito calada durante o voo inteiro, o que não era da personalidade dela. Quando viajavam, Anahí sempre ficava elétrica nos voos, indo e vindo, os olhos atentos, fazendo suposições sobre os lugares para onde estavam indo. As vezes era irritante de tão animada. Dessa vez apenas se encolheu na poltrona, quieta. Estavam na primeira classe, com todo o conforto do mundo, mas toda vez que ela olhava em volta se lembrava de onde ele tirara dinheiro pra pagar por aquilo, e ela suspirava, tentando se acostumar com a ideia. Ainda não dera certo.


Alfonso: Bem, essa é a casa onde Madison cresceu. – Disse, decidindo finalmente romper o silencio. Anahí olhava pra cima, observando a estrutura da mansão que lembrava um castelo, feito de pedras escurecidas pelo tempo. Estava afundada em um casaco fofo, os cabelos destacados no tecido preto, e os olhos passeando aqui e ali.


Anahí: Onde estão os pais dela? – Perguntou, se percebendo rouca. Passara tempo demais calada.


Alfonso: Vivendo com todo o conforto do mundo em uma mansão na Inglaterra. – Resumiu, se aproximando – Vamos entrar?


Era grande demais. Anahí tentou imaginar Madison criança; uma criança pálida feito cera, de cabelos e olhos pretos demais, crescendo e brincando ali, mas não conseguiu. A entrada principal dava para uma escada que bifurcava no meio, e acima havia uma linda vidraça, onde os mosaicos de vidro traçavam cores que podiam variar conforme a luz lá fora. Agora era tudo em tons frios, pálidos. Pôde entender, entretanto, de onde a outra retirara aquele ar cosmopolita, refinado, de quem sempre tivera tudo do melhor: Independente do que fazia agora, tivera tudo desde criança.


Alfonso a guiou pela casa, apresentando-a, de cima pra baixo. Anahí descobriu que o terceiro andar era literalmente um sótão, onde não houve muito pra ver além de tubos de ventilação, iluminação e aquecimento. No segundo andar, quartos. Suítes, e um banheiro independente. De volta ao térreo havia uma sala de jantar, uma biblioteca, uma sala de TV e uma de leitura.


Alfonso: Pros fundos ficam a cozinha, dependência dos empregados, e o banheiro desse andar é ali. – Apontou, e ela assentiu. Ele caminhou pela sala, indo até a lareira que crepitava. Se direcionou até o console da lareira, apanhando algo e voltando – E aqui temos a coisa mais horripilante de toda a propriedade.

Como Eu Era Antes de VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora