Capítulo 37

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Houve um burburinho no tribunal, acalmado com uma martelada da juíza. Alexandre, que até então vinha ignorando Anahí, adotara uma postura defensiva que nem parecia ter percebido que tinha ao redor dela. Anahí só conseguia encarar a mulher. Sabia que sua mãe se chamava Mary, e só. Sempre adotara o sobrenome dela por Portilla, e nunca se atentara que Mary podia ser um apelido. O sobrenome dela era todo do pai; não havia registro da mãe nos documentos.


Verdade fosse dita, era justo dizer que Nate era um excelente advogado. Em uma sondagem com Alfonso, ele só soube dizer que Anahí tinha mãe, mas ela abandonara o lar, o que ele (Alfonso) acreditava ter sido uma estupidez total. Nate tomou nota disso... E ele não deixara nem um grão de areia passar, mas esse foi particularmente trabalhoso. Teve que cavar fundo até encontra-la, mais fundo ainda pra entender a história, e foi impossivelmente complicado convencê-la a vir, mas ele não abriria mão de nenhuma arma, essa não era exceção. Lá estava ela.


Arthur: Tem algo a dizer a este tribunal sobre o caso em andamento? – Perguntou, parecendo desgostoso.


Mary: Não tomei conhecimento dos acontecimentos até ver as notícias nos jornais. Logo em seguida fui procurada pelo doutor Archibald. – Reconheceu.


Arthur: Sem mais perguntas. – Admitiu, recuando.


- Com a palavra, a defesa.


Nate: Senhora Abrams. – Começou, o olhar parecendo profundamente satisfeito – Pode nos dizer qual a sua relação com a menor?


Mary: Nenhuma. – Admitiu, e Nate esperou – Eu sai de casa, deixei Alexandre e Anahí pra trás quando ela ainda era um bebê.


Nate: Pode dizer a este tribunal qual foi o motivo da sua partida? – Perguntou, cruzando os dedos. Alfonso observava tudo agora parecendo interessado.


Mary: A gravidez foi acidental. – Disse, respirando fundo – Éramos casados, mas ainda era muito cedo pra isso. Enfim, aconteceu, ela nasceu, sadia, mas eu tive depressão pós-parto. Uma bastante severa. – Alexandre tinha o maxilar trancado – Eu nunca consegui amar o bebê. Ouvi-la chorar me incomodava profundamente, mas pegá-la no colo, dar de amamentar... Eu nunca quis aquilo tudo. Eu tentei alertar Alexandre. Quando a situação se mostrou insuportável, eu fugi. Deixei uma carta e fugi. – Admitiu.


Nate: Foi sua última interação com a menor? – Mary assentiu.


Mary: A última vez que a vi de perto, havia acabado de crescer o suficiente pra ficar sentada sozinha. – Admitiu – Porém voltei, anos depois. Refiz minha vida, me casei novamente, tive outros filhos. Nunca me esqueci dela.


Nate: Voltou para procura-la? – Perguntou, sondando – Tentar a guarda, talvez?


Mary: Não. Eu refiz minha vida, e minha vida nova funciona muito bem. Com o divórcio, Alexandre tratou de que eu fosse retirada dos registros da menina. Não briguei por isso. Eu nunca tive espaço para amor por Anahí, no decorrer dos anos. – Explicou. Anahí tinha o cenho franzido, e um burburinho alto começou na plateia – Ainda assim, ela saiu de mim, era minha responsabilidade também.

Como Eu Era Antes de VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora