Capítulo 55

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Anahí saiu do banho e passou o domingo inteiro em casa, sozinha. Desligou o telefone, trancou a porta e se deitou, se curvando em bola de toalha mesmo. Não chorava mais, apenas olhava a parede. Conseguiu construir um lugar seguro dentro da sua mente, e dentro desse lugar não haviam pensamentos. Nenhum tipo deles, nem sobre Henry, ou Alfonso, ou mesmo Kristen. Sentia uma tristeza profunda, mas conseguia não pensar em nada ali.


Não quis abrir as janelas dessa vez. Nem mesmo quis deixar a luz do sol entrar.


Não comeu, apenas deixou seu emocional processar o baque do que acontecera. Fizera o certo. Fora opção dela ficar, e na época pareceu mais fácil. Agora era hora de ficar, enquanto os outros iam. Ela devia estar indo também. Deixando essa maldita cidade pra trás... Mas ela ficaria ali. Por mais oito anos. Pra sempre.


Não notou quando anoiteceu. Teve um sono conturbado, todo interrompido. Não quis deixar outro dia começar, mas amanheceu. Ligou o celular, que vibrou violentamente com inúmeras chamadas perdidas de Henry e Kristen. Haviam mensagens de texto também, que ela não conseguiu ler. De Alfonso nenhuma. Porém havia um lembrete pro dia de hoje, que a fez levar a mão a testa: Sua licença finalmente terminara. Queria continuar ali, onde havia silencio, onde era seguro, mas tinha que voltar ao estágio.


O pessoal do estagio a recebeu de braços abertos. Fizeram até um bolinho em comemoração ao fato dela estar 100% recuperada, uma vez que estivera a beira da morte. Ela se obrigou a sorrir, os olhos se enchendo d'agua, e agradeceu, abraçando todo mundo ali. Não podia chorar. Se recomeçasse, não conseguiria parar, e não podia passar a vida inteira chorando. Dessa forma retomou a rotina, agora sem o colégio, passando as tardes se atentando aos problemas que levavam outras pessoas a terapia, e empurrando os seus para o canto.


Porém na quinta-feira, não resistiu. Sabia o horário dos vôos, sabia os portões. Tentou demais, mas não resistiu.


Se vestiu com moletom, o cabelo preso. Só iria até lá, olharia eles dois de longe, uma ultima despedida, e seria isso. Ficou atrás de uma pilastra e o viu. Haviam duas malas em volta, ele tinha uma mochila no ombro, sempre tão grande, fácil de distinguir na multidão. Ela se escondeu, garantindo que não ia ser notada, e sorriu de canto, olhando-o. Parecia meio abatido, não tinha a alegria normal, mas no momento estava ocupado demais impedindo a mãe de beijá-lo no meio do terminal. A mãe era baixinha perto dele, o que tornava a missão mais fácil, mas estava destinada. Ela não conseguia ouvir, mas parecia dar recomendações. Ele assentia, agoniado, e ela riu de leve. Texas. Tocou o peito, vendo ele desistir, derrotado, e abaixar o rosto, recebendo um beijo demorado da mãe no meio do aeroporto. O próximo foi o pai, que se reservou a dar um daqueles abraços de homem, com dois tapas fortes no ombro dele.


Então ela foi pega. Uma mão a puxou pelo ombro e ela se sobressaltou... Se batendo com Kristen.


Kristen: Sou eu. Sou só eu. – Anahí olhou por cima do ombro, garantindo que não haviam sido vistas, e se escondeu de novo – Vá até lá. Se despeça dele. – Disse, e Anahí negou com o rosto.


Anahí: Já machuquei ele uma vez. Não faz sentido repetir. – Era o que ela dizia a si mesma.


Kristen: Ele está preocupado. Eu estou. Só não fui atrás de você porque ele não deixou. – Anahí a olhou – Você está um lixo. – Anahí deu de ombros.

Como Eu Era Antes de VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora