Promessa

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Estava na sala de aula. Desta vez, não se atrasou, então pegou seu típico lugar na primeira carteira da janela. Gostava desse lugar porque a impossibilitava de ver os outros alunos.

Aos poucos, os alunos foram entrando, causando um pequeno tumulto de risadas, cadeiras se arrastando e falatório.

Ninguém falou com Tzuyu.

Como sempre.

Sana foi uma das últimas pessoas a chegar. Entrou rindo com sua amiga, Dahyun. Cumprimentou algumas pessoas e foi para o seu lugar, no fundo.

Tzuyu se perguntava se Sana estaria feliz pela conversa de ontem.

A professora de inglês não tardou a chegar e, aos poucos, o barulho foi cessando. Calmamente depositou seu material sob a mesa, que ficava na frente das carteiras do meio da sala. Instantes depois realizou a chamada já com a sala em silêncio.

Assim como todos os outros professores, pulou o nome de Tzuyu ao ver que estava presente. Isso sem dúvidas contribuía para sua total invisibilidade, uma vez que nem assim, os alunos paravam para olhá-la.

— Minatozaki Sana — disse a professora com a voz entediante de sempre.

Segurou-se para não olhar para trás, aonde a mais velha estava sentada. Ainda estava extasiada pela a conversa de ontem.

— Presente — respondeu com sua linda voz.

No entanto sua felicidade se esvaiu ao constatar que Sana nunca seria alguma coisa a mais na sua vida. Nunca.

Sana era heterossexual e se referia a Tzuyu como garoto, porque é isso que ela achava que Tzuyu era. Um garoto.

Discretamente abriu o aplicativo de mensagem e escreveu um "bom dia" para Sana. Desistiu. Apagou a mensagem e guardou de volta o celular. Não queria incomodar a japonesa.

A aula seguiu em silêncio, sendo interrompida apenas pelo o sinal que indicava o início da próxima aula. Enquanto a professora pegava os materiais usados na aula, a turma se alvoroçava novamente. Tzuyu continuou em silêncio, fazendo alguns rascunhos de desenhos no canto do caderno.

Após mais duas aulas, o sinal do intervalo tocou, fazendo com que todos os colegas se mexessem e falassem alto. Tzuyu esperou todos saírem para só depois sair da sala.

Desceu calmamente até seu canto favorito no pátio, totalmente isolado dos outros alunos. Trouxera uma fruta como lanche e ali ficou. Ela e a maçã. A maçã e ela. Seria engraçado se não fosse de certa forma, trágico.

E assim seu dia seguiu.

Normalmente.

Sendo invisível.

Como sempre fora.

Chegou em casa um pouco antes do almoço, sua mãe já havia preparado um delicioso almoço. O cheiro estava muito bom.

— Boa tarde — ela disse carinhosamente ao ver a filha adentrar a casa — Suba e se troque, hoje eu fiz seu prato preferido, meu amor!

— Boa tarde, mãe — disse delicadamente, indo até seu quarto em passos um tanto quanto rápidos. Não podia esperar para provar a comida de sua mãe.

Ao entrar no quarto, deixou a mochila sob a mesa de estudos e tirou os tênis. Se despiu calmamente, tomando cuidado ao dobrar o uniforme antes de colocá-lo no lugar. Tzuyu simplesmente odiava ver seu cantinho desorganizado.

Vestiu sua típica roupa de casa. Um short de moletom e uma blusa velha de sua irmã que um dia já fora branca.

Logo desceu para almoçar.

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