Os olhos encheram de água imediatamente assim que aquelas três palavras saíram de forma firme de sua boca. Seu lábio inferior tremia, assim como seu corpo em si. Sequer havia se preparado para se assumir, não ensaiou um discurso, não falou com Sana, apenas falou.
Mas agora que começou, iria ter que terminar.
— Eu sou lésbica desde que me entendo por gente! E-Eu sempre gostei de garotas, sempre. E isso me causa tanta dor que você não tem noção... Por muito tempo eu achei ser uma aberração, eu pensava sobre mim como um erro! — continuou a falar quase que de forma desesperada, sem dar tempo para o homem mais velho dizer qualquer coisa — Demorou muito para que eu pudesse me aceitar, e não importa o que o senhor diga, eu não vou mudar! Eu s-sou normal, ok?!
Nesse ponto, Tzuyu já chorava e não se importava com o fato de estar falando alto em plena madrugada. Ficou com aquilo preso na garganta por anos, precisava dizer, precisava colocar tudo para fora.
Seu pai continuava sem expressão e lhe encarava com olhos intensos, Tzuyu recuou quando percebeu o rosto ainda sem expressão, mas não tinha terminado ainda.
— E antes que o senhor resolva me expulsar de casa, me bater, gritar comigo ou fazer qualquer coisa, eu quero dizer que isso é culpa sua! Toda essa situação é culpa sua! — acusou agora com raiva na voz — Sabe o quão difícil foi viver como sombra?! Como segunda opção?! Era sempre Mina, Mina e Mina! O senhor nunca, sequer uma vez, notou o quanto era difícil para mim tentar ser a melhor?! Eu não quero ser a melhor, pai, eu quero ser eu! Se você tivesse sido um pai decente, provavelmente eu não teria que estar gritando aqui agora!
Ele nada disse. Tzuyu começava a entrar em desespero, acima de tudo, começou a ficar com raiva. Qual é, ele iria mesmo não dizer nada?
— Você não disse que eu tenho que ter certeza das coisas, que eu devo defender meus ideais?! Pois bem! Eu, Chou Tzuyu, sou lésbica e namoro Minatozaki Sana!
Viu pela primeira vez desde que começou a falar um pingo de mudança no Chou mais velho com a menção do nome da japonesa. Ele parecia surpreso com isso, mas foi apenas por pouquíssimos segundos, porque logo ele estava sério de novo.
A mais nova ficou indignada. Ele não iria se pronunciar? Ele iria ficar mesmo ali, sem dizer nada? Começou a chorar mais alto. Nem mesmo percebeu que não estava mais sozinha com seu pai ali. Sua mãe e Mina estavam presentes, e não soube dizer em que momento elas chegaram. Um suspiro escapou de seus lábios e acabou por sorrir sem humor, enxugando os olhos com as mãos.
— Ok, acho que já sei o que o senhor pensa... — curvou-se respeitosamente para seu pai e em seguida para sua mãe — Se me dão licença, vou me retirar.
Soluçando, foi em passos rápidos em direção a porta de entrada e demorou alguns segundos para conseguir a destrancar. Suas mãos tremiam muito. Quando finalmente o conseguiu fazer, fechou a porta e permitiu-se chorar ainda mais.
Não teve coragem de olhar para sua mãe no caminho. De alguma forma, seu pai sempre foi uma espécie de um homem que lhe causava medo, então já estaria acostumada com o olhar de decepção e repugnância que ele com certeza a daria nos próximos dias. Mas sua mãe... não, sua mãe não. Não aguentaria ver aquele olhar nela, iria se sentir a pior pessoa do mundo por isso. Ela com certeza estava chorando agora, e se odiou por ter sido a causa desse choro.
Começou a andar pelas ruas solitárias, se afastando daquela casa na qual provavelmente não era mais bem-vinda.
Para onde iria agora?
Sana? Não. Nayeon, Dahyun e Chaeyoung dormiam na casa da Minatozaki, e as mesmas foram as que mais beberam. Não iria atrapalhar o sono delas e ainda as fazer acordar com uma bela dor de cabeça, elas não mereciam isso.
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Secreto
أدب الهواةChou Tzuyu era talentosa, genial e tímida, muito tímida. Para seu enorme azar, acabou se apaixonando por Minatozaki Sana, a garota que além de popular, é hétero. Devido ser basicamente invisível para todos e péssima em relacionamentos sociais, Tzuyu...