Secreto

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— CHOU TZUYU! — gritava a mãe impaciente da menina pela escada.

Abriu os olhos lentamente e deu de cara com o relógio. 7h35. Estava atrasada. Em um pulo impossível, levantou da cama e em fração de segundos já estava em frente a cômoda pegando novas roupas íntimas e seu uniforme.

— PERDI A HORA, MÃE! — gritou, correndo para o banheiro.

Levou para o chuveiro sua escova de dentes para tentar agilizar o processo. Concentrou-se ao máximo em apenas lavar as partes íntimas, não iria lavar o cabelo dessa vez. Seu pai não tolerava atrasos.

Por isso, em 15 minutos já se encontrava na cozinha devidamente uniformizada e sendo encarada por seu pai, que estava sentado em seu costumeiro lugar na mesa com um olhar intimidador.

— Insônia de novo? — sua mãe pergunta, lhe beijando o topo da cabeça.

Assentiu levemente, tentando evitar ao máximo o olhar repreendedor do pai. Concentrou-se no café da manhã.

— Precisamos levá-la ao neurologista! — disse a mãe preocupada.

Finalmente seu pai se pronunciaria, após longos segundos de um silêncio que seria capaz de ensurdecer multidões. Apoiou os cotovelos na mesa e se inclinou mais para Tzuyu.

— Chou Tzuyu — com a voz firme e assustadora, que fez apenas a tímida garota levantar o olhar medroso em sua direção. — Você acha que eu fui promovido chegando tarde ao trabalho? — fez-se silêncio. Ninguém ousaria a contrariá-lo. — Não seja uma vergonha a esta família, entendeu? Não gastarei um tostão sequer com tratamentos de sono, então trate de dormir a noite. — a garota apenas concordou.

Seu pai era totalmente preconceituoso e rígido, diferente de sua mãe, que a apoiava e chegava a esconder algumas coisas do marido, como o gosto de Tzuyu por arte. Seu futuro já estava traçado na cabeça do pai. Iria o suceder na carreira de tecnologia, já que a irmã cursava engenharia, o que enchia o pai de orgulho.

Tzuyu não entende como uma mulher doce como sua mãe se casou com alguém como seu pai. Tzuyu era muito grata a sua mãe e nunca faria nada que lhe desapontasse.

O pai levantou e se dirigiu até a porta, fazendo Tzuyu entender que estava na hora de encerrar o café da manhã e seguir até o carro do pai. Todos os dias era levada de carro para escola, que ficava algumas quadras a frente. Voltava sozinha, a contragosto do pai.

Durante o caminho, Tzuyu ouviu o pai encher a boca de orgulho para falar em como sua irmã era incrível, sensacional e boa moça. Já estava até conseguindo várias propostas grandes para quando terminasse a faculdade. Que orgulho.

Tzuyu nada disse. Permaneceu com a postura rígida e os olhos assustados e perdidos. Temia todos os dias que seu pai desenvolvesse a habilidade de ler mentes e descobrisse seu maior segredo e vergonha. Podia jurar que às vezes o pai lhe olhava como se soubesse de algo.

O carrasco-pai estacionou em frente a escola e ligou o pisca-alerta para que a filha descesse. Tzuyu abriu a porta mas antes que pudesse descer teve seu pulso seguradi pela mão forte e firme se seu pai.

— Não me envergonhe. — disse sério, Tzuyu apenas assentiu e saiu pálida do carro.

Sentia-se tonta. Havia dormido mal, acordado mal e comido mal. Sua vida era um pesadelo. Pensava diversas vezes que seria melhor morrer do que continuar vivendo esta tortura. Tudo que a impedia era sua mãe. Aquela doce e simpática mulher que se esforçava ao máximo para tirar um sorriso da filha e lhe dar esperanças.

Sua escola, assim como seu pai, era rígida. 8h05. Estava 5 minutos atrasada, ainda assim, iria perder a primeira aula. Sentiu um arrepio na espinha ao pensar que teria uma falta no boletim, seu pai não toleraria. Sentou no banco da coordenação, esperando o sinal da segunda aula tocar.

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