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—Se ele é capaz de pagar até 200 milhões em um vestido, imagina quanto ele deve ter!— Otávio dizia enquanto passava os dedos entre as fendas dos diamantes.

—Muito, Otávio! Muito!— falei calmamente.

—Só esse vestido já é suficiente pra você não precisar casar com ele!

—Como você mesmo disse, se ele pode pagar tudo isso num vestido, imagina quanto ele deve ter! Eu quero tudo, Otávio!— falei com entonação.

Na noite do dia seguinte, me arrumei para um jantar familiar.

As vezes era chato ter uma família rica, porque seus jantares não tinham motivo, mas eu deveria aparecer como se estivesse indo para uma festa chique.

Pelo menos tenho o que jantar!

Toquei a campainha do meu tio Dylan.

—Estava com tanta saudade!— Ele disse animado ao me receber.

—Eu também, tio!— sorri e o abracei.

Ele sempre me recebia como se eu ainda fosse uma menina.

Com o meu pai preso e Marcos sendo um nojo, Dylan era o que eu tinha de mais próximo de um pai.

Passei muitas férias na casa dele, assim como muitos finais de semana. Foi desse jeito que aos 16 anos perdi minha virgindade com Otávio. Um garotinho de 15 anos que tirou minha virgindade faltando um hora pro meu aniversário. O plano dele era ser no dia, mas safado do jeito que é, não soube esperar.

Quando lembro das coisas que fazíamos tão novos, me perco e vou além, mas enfim...

Logo que entrei, vi minha mãe sentada no sofá, ao lado da minha avó.
Estranhei muito Nicole também estar presente.

—Convenci meu pai a chamar nossa avó e minha mãe! Afinal, também são nossa família! Sem contar que meus pais ainda são apaixonados e algum dia vão casar!— Otávio disse com um sorriso descontraído.

—Cala a boca, moleque!—Dylan falou enquanto colocava wisky num copo.

—Somos uma família independente do...

Dei uma pausa, pois me toquei que não seria muito legal falar sobre meu pai, mas todos me olharam já sabendo a merda que eu iria dizer.

— das desavenças...— continuei, corrigindo.

—Eu e a Cice somos a única coisa que une nossas famílias e nunca merecemos sofrer com as desavenças de vocês, mesmo que essa desavença tenha sido foda!— Otávio comentou.

—Não foi uma desavença, Otávio. Foi um estuprador que enganou a vítima e sua família! Hoje você existe porque fomos enganados!— Dylan falou com o olhar na janela.

—Tá vendo! Desde pequenos eu e Otávio temos que lidar com isso! Desde que éramos crianças! Chega! Não dá pra fingir que somos uma família normal?— falei aborrecida.— quer ir pro Jardim beber, Otávio?

—Lógico! Quando o jantar começar, nos chamem.

Olhei para Nicole, vendo seu olhar de raiva em cima de mim por chamar Otávio.

—Falta Amélia chegar, e aí começamos.— Meu tio falou.

—Ah, mãe. Como está o meu irmão?

—Esta melhorando, Cice.— minha mãe me respondeu dando um simples sorriso.— Marcos está com ele.

—Meu pai quase teve que sequestrar Alina pra ela estar aqui agora!— Otávio disse, fazendo todos da sala rirem.

Bebemos um pouco no Jardim. Conversamos sobre o casamento. Sobre como eu contaria pra família.

Depois de 30 minutos, nossa avó veio nos chamar para jantarmos.

—Lia já chegou. Vamos!

Nossa avó era a melhor pessoa das nossas vidas. Sempre foi doce.

—Oi, tia!— disse me sentando a mesa.

—oi amores!— falou conosco.

Depois de uns 10 minutos na mesa, olhei para Otávio, que me olhou como se mandasse eu dizer logo.

—Eu tenho uma coisa pra falar!—interrompi a conversa sobre empresas dos mais velhos.

—Aconteceu alguma coisa?—Minha mãe perguntou.

—Vai acontecer!— Respondi.

—o que, minha filha?— minha avó perguntou.

—Eu vou casar!—falei rápido.

Todos me olharam com espanto.
Com razão! Nunca me viram com um namorado e do nada vou casar.

—Como assim?—Alina perguntou, mais nervosa do que qualquer um a mesa.

—Com Maurício Heydan!—falei de uma vez.

Meu tio arregalou os olhos e soltou o talher que ainda segurava.

Minha mãe estava pálida. Sem acreditar.

—Esta louca?—Amélia disse e logo deixou o corpo cair no encosto da cadeira.

—Minha nossa!— minha avó disse e se levantou.— Santo Deus, não é possível.

—Não se contenta com tudo que roubou do Christian?— Nicole perguntou.

—Como assim?— Dyn perguntou.

—ela convenceu o Chris a dar toda a fortuna dele para ela!— respondeu.

Dylan bateu forte na mesa e se levantou furioso.

—Qual o seu problema, Clarice?— gritou de uma forma que eu nunca tinha visto antes.

—Esse homem já foi sócio dos seus avós! Me lembro de quando eu era criança e ele ia conversar com meu pai sobre os negócios da empresa!— Alina falou, também furiosa.

—Você foi atrás do Christian, vai se casar com um velho que já foi amigo dos meus pais, já falou poucas e boas pra sua mãe... O que mais vai fazer pra envergonhar nossa família?— Meu tio estava fora de si.

—Você não precisa fazer nada disso! Cresceu tendo tudo! Esta parecendo uma mulher pobre que casa por interesse! Uma vagabunda!— Minha mãe começou a chorar.

—Esta falando do que? Você me deserdou!— dei minha primeira resposta.

—Você é minha filha! Acha que eu morreria deixando você sem nada? Acha que eu permitiria que você virasse uma mulher pobre? Eu deserdei você, mas já pensando no quanto eu deixaria na sua conta quando estivesse velha.

Meu coração estava quase pulando pra fora da boca. Eu nunca estive tão nervosa.

—Não importa o quanto iria deixar! Eu não quero só o que nossa família tem! É pouco para mim!—me levantei.— sou maior de idade e me caso com quem quiser!

Dei as costas para todos ali presentes, mas não me movi para sair. Não consegui. Todos falavam, mas eu só ouvia o barulho de suas vozes, sem conseguir dissernir o que estava sendo dito. Parei de sentir meu corpo. Minha visão ficou escura e simplesmente apaguei.

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