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No dia seguinte, acordei com Otávio me enchendo de beijos.

—Acorda porque hoje é o nosso dia!— Falou com um sorriso.

—A gente não faz aniversário hoje...— levantei coçando os olhos.

—Cice... Todo dia é o nosso dia!— Me olhou meigo.

Eu amava como Otávio era romântico.
Ele me fazia surpresas em dias comuns, me acordava com café na cama quando desse na telha, me acordava já jorrando amor.

Acho que nunca encontrarei alguém que me ame como ele.
Todos os homens da minha vida só eram apaixonados pelo meu físico, exceto Otávio.

— Eu amo você, maluco!— disse com um sorriso sem graça.

—Eu te amo ainda mais!

Levantei para escovar os dentes e dar um jeito no cabelo.
Após fazer um rabo de cavalo, segui para a sala.

—Quer comer algo?— Me perguntou logo quando me sentei ao seu lado.

— Não to com fome.— deitei minha cabeça em seu ombro.

— Você? Que não perde um donnut?

— Tem donnut? Você comprou?— meus olhos brilharam, não duvido.

Ele apenas sorriu e acenou positivamente com a cabeça.

Na mesma hora minha falta de fome sumiu. Me bateu uma vontade enorme de comer o bendito donnut.

Corri até a cozinha e abri a caixa.
Só os meus favoritos!

— Eu te amo, cacete!— Gritei feliz da vida.

Sentei na bancada e devorei 4 em menos de 10 minutos.

— Quer sair?— Otávio gritou da sala.

— O que você fez? Tá gentil demais hoje...— perguntei brincando.

Ele ficou um tempo em silêncio.

— Preciso te contar uma coisa...— disse.

Me bateu um medo misturado com nervosismo e receio.

Andei até a sala, parei de frente para ele e o olhei séria.

— O que foi?

— Senta...— bateu a mão no sofá.

— Não! Fala logo!

Meu estômago tinha o péssimo hábito de revirar quando eu ficava muito, muito nervosa, e por algum motivo, ele estava agora, mesmo sem saber o que Otávio tinha pra falar.

—Se lembra daquela garota que estava no meu quarto quando você esteve lá?

—Lembro.— minha voz deixava claro que eu estava com ódio.

O nervosismo só aumentava e meu estômago estava ficando pior.

—Antes de você chegar, tinha uma outra garota comigo lá...— Ele estava ainda mais nervoso do que eu.

Era possível ver uma gota de suor escorrendo pela sua tempora. Ele não parava de apertar as mãos uma com a outra. Até sua forma de falar demonstrava nervosismo.

—E o que tem isso?— Eu não sabia o que esperar, mas já estava segurando as lágrimas.

—Essa outra garota... Me ligou ontem..

Nesse momento eu já tinha uma pequena ideia do que estava por vir. As lágrimas escorregam. O nó na minha garganta parecia apertar cada vez mais.

—Primeiro eu preciso dizer que ela era virgem até aquele dia e...

—Fala logo Otávio!— Gritei.

—Ela está grávida...

Era o meu maior medo.
Meu peito apertou. Eu não tive nenhuma reação, mas por dentro, eu desabei.

—Ela me mandou foto dos exames e ela está com exatamente o mesmo tempo de gravidez que tem de tempo daquela noite.

—Você engravidou ela porque eu não quero ter filhos.- Falei com a voz baixa.

—Não Cice! Eu nunca faria uma coisa dessas! Eu nunca teria um filho de outra só porque você não quer me dar!— Se levantou e tentou vir até mim.

O empurrei e fui para o outro lado da sala.

Eu só sentia ódio e dor. Meu coração parecia ter sido dividido em mil pedaços.
Eu nunca suportaria estar com ele sabendo que existe um filho de outra.

Eu chorava de soluçar. Me sentei no chão, com as costas na parede por não conseguir me manter de pé.

—Além de me trair, você engravidou outra por pura vingança a mim. Destruindo todos os nossos planos! Como vamos fugir se agora você tem um filho? Você estragou tudo!— Eu dizia entre os soluços e as lágrimas que desciam como cachoeira.— Você engravidou uma qualquer! Como tem coragem de dizer que me ama? Como você pode fazer isso? Olha o tanto de coisas que fizemos juntos! Todos os planos. Eu vou casar com um velho só pra podermos ir em bora! Mas agora não vamos mais ir, porque fez o desfavor de engravidar sua amante! Olha tudo que aguentamos. Tudo que eu aguentei pela gente. E agora olha o que você fez! Olha a dor que está me fazendo sentir... Olha todos os planos indo pro ralo...

Eu não conseguia descrever exatamente o que estava sentindo.
Era uma dor que parecia um machado partindo os pedaços já quebrados do meu coração.

Eu nunca teria coragem para fazer algo nesse ponto com ele. Nunca!

—Eu juro, Cice! Eu nao queria isso!— Ele chorava tanto quanto eu.— Me perdoa pelo amor de Deus! Me perdoa!

Ele tentou me tocar, mas rapidamente me levantei, entrei para o quarto e tranquei a porta.

—Vai em bora! Esta tudo acabado de uma vez!— Gritei.

—Não, Clarice! Isso não! Por favor! Eu amo você! Pelo amor de Deus!— Ele batia na porta e gritava com sua voz de choro.

—Vai viver a sua vida ao lado do seu filho e da mãe dele!— Eu falava com o coração apertado. Mas o que eu poderia fazer? Impedir que ele tivesse a família que sempre sonhou? Deixar ele abandonar o filho?

Abandonado ou não, essa criança sempre vai existir. Eu não conseguiria levar uma vida sabendo da existência dela, muito menos o Otávio!

— Eu só quero uma família com você! Mesmo que não tenhamos filhos! Uma família de marido e mulher com você!

—E vai fazer o que com o teu filho? Jogar no lixo? Abandonar? Mandar ela abortar?— abri a porta e olhei em seus olhos.— Você não teria coragem para isso!

Ele apenas me olhou. Não negou e nem confirmou. Apenas manteve seus olhos em mim.

— Vai em bora, por favor. Se me ama, respeite esse meu último pedido. Não adiata o quanto peça, acabou! Então por favor...— Pedi com as lágrimas ainda caindo.

Ele secou o rosto com a mão, andou até a porta devagar e a abriu.

— Eu vou amar você pro resto da minha vida! Com um filho ou não!— Disse a última coisa antes de ir em bora.

Como eu ia seguir dali? Todos os meus planos envolviam ele. Toda a minha vida envolvia ele, fugir com ele...

Meu estômago já pedia socorro. Senti que iria vomitar. Nunca cheguei a vomitar por conta do nervosismo, essa seria a primeira vez.
Corri para o banheiro e coloquei os 4 donnuts para fora.
Odiava vomitar, mesmo que depois eu me sentisse aliviada.

Logo após lavar a boca, me sentei na tampa do vazo e voltei a chorar.
Eu não podia e nem queria estar longe do Otávio, mas como poderíamos continuar juntos? Nossos planos envolviam tudo que um filho não permitiria.

Depois de tantos anos alimentando tantos planos... Agora nada mais faz sentido.
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