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No dia seguinte, enquanto tomávamos café da manhã, comecei a pensar mais aprofundado sobre o que estava acontecendo.

Porque Elias havia se metido nessa de forma tão aberta?

— Elias...— chamei.

— Que foi?— respondeu de boca cheia.

— Porque você abriu mão da sua vida de solteiro tão rápido por uma grávida que acabou de conhecer?— Não enrolei.

Ele terminou de mastigar e respondeu:

— De inicio a intensão era ajudar, já que você estava sozinha aqui, e passando por tudo isso, só que eu sou muito emocionado e vendo você todo dia, beijando você, transando com você, acabei sentindo mais coisa do que só a vontade de ajudar. Eu me apaixono muito rápido, mas com você eu bati o recorde de uma semana.— riu descontraído.— Eu costumava demorar mais.

Eu não mereço esse homem!

— Hmm.. se eu souber que você já andava me seguindo de antes e quer se aproximar de mim pra me matar a mando de alguém eu juro que não vai ser tão fácil e minha família vai te encontrar até no inferno!— brinquei.

— Clarice, nós somos pessoas públicas! Se eu quisesse matar você, eu é quem iria contratar alguém!— falava enquanto ria.— imagina uma pessoa pública matando outra.. nem se eu fosse um desconhecido eu teria essa coragem, muito menos se tratando de uma das famílias mais famosas dos Estados Unidos.

— E porque você já tem tudo isso pensado? Isso está bem estranho em..— Continuei com um pequeno sorriso.

— Meu Deus, que garota chata!— Falou rindo e logo encheu a boca de comida.

— Eu sou precavida, é diferente!

— Come logo isso aí garota!

Ele havia feito questão de acordar mais cedo para fazer donuts do zero. Ficou quase igual aos das lojas, só que mais saboroso.

— Qual o seu favorito?— perguntou se referindo aos donuts.

— De frutas vermelhas. Já provou? Eles são perfeitos!

— Da próxima vez que eu fizer, vai ter de frutas vermelhas então..

— Não demora muito porque a preferência pode mudar! Eu to grávida, daqui a pouco começa os desejos e vai que tenho desejo de donut de banana?

— Aí eu vou pra cozinha e faço o de banana!

— Onde você aprendeu a cozinhar?— perguntei.

— Quando eu fui adotado, meus novos pais não passavam muito tempo em casa, aí eu passava a maior parte do meu dia, depois de voltar da escola, na cozinha com a Maya, aí fui aprendendo.

— E porque ela deixou de trabalhar na casa dos seus pais?

— Minha mãe pôs na cabeça que ela ficava de olho no meu pai, mas isso era coisa da cabeça dela! Eu ficava o tempo todo com a Maya e via que ela nem tinha tempo pra olhar pra alguém além de mim.— Ele respondia descontraído.— Foi assim até meus 18 anos, quando a minha mãe decidiu que não precisava mais dela e aí a demitiu.

— Sua mãe era muito ciumenta?

— Sim, com relação a tudo. Acho que o fato de eu ser mais próximo da Maya do que dela também a afetava, porque vira e mexe eu visitava ela e minha mãe ficava furiosa.

— Ela era como sua mãe?

— Eu era bem pequeno quando meus pais biológicos morreram, e aí fui adotado por uma família que não tinha tempo pra mim. Quem estava lá o tempo todo era ela. Tinha por volta de 20 anos quando começou a trabalhar lá, mas cuidava de mim como filho.

— Ou seja, sua mãe não agia como mãe, mas também não queria que você tivesse outra..— O fiz rir.

— Exatamente, mas não vou reclamar porque tive um ótimo estudo graças a eles e se hoje tenho uma empresa nas costas, é graças a eles também!

— Minha mãe tentou me dar o máximo de amor possível pra que eu não sentisse falta de um pai. Depois de uns anos se casou e teve o meu irmão e aí fui introduzida na nova família dela.— Iniciei cabisbaixa.

— Isso te entristece?

— Não sei. Aquele homem não era meu pai e nunca agiu como tal. Eu queria o meu pai de verdade, mas ele está preso. Só fui o conhecer há alguns meses atrás.

— Você sempre soube a verdade sobre seus pais?

— No fundo sim. Durante muitos anos ouvia meu tio brigando com a minha tia. Culpando ela, ou até brigando pela guarda do meu primo.

— Como assim? Seus tios tiveram um filho?

— O irmão da minha mãe se envolveu com a irmã do meu pai e acabaram tendo um filho. A minha tia sempre soube sobre o estupro mas escondia da minha mãe junto com meu pai, já que a minha mãe não se lembrava do rosto do homem, e quando tudo veio à tona, minha tia perdeu a guarda do Otávio, minha família se voltou contra ela, a afastou do filho e essas coisas.

— Esse é o seu primo que você teve um caso?— Perguntou tentando parecer descontraído.

— Não foi um caso, foi um relacionamento às escondidas que durou muitos anos.

— Isso é bem estranho! Me desculpa, mas não consigo me imaginar tendo um relacionamento com alguma prima.— riu.

— Começou como coisa de adolescente e acabou se estendendo. A gente vivia junto e acabou rolando.— Comentei sem parecer me importar.

Falar de Otávio trazia todas as nossas boas lembranças de volta.
Desde que éramos adolescentes nos queríamos, e podíamos se ter quando quiséssemos.

Estava sentindo saudade do toque dele, das coisas românticas que fazia, do tanto de amor que me dava.

Teríamos tudo que ele sempre sonhou agora, uma família!

Acariciei minha barriga de cerca de cinco meses, imaginando como ele estaria feliz com esse bebê. Ficaria animado pra arrumar o quarto, escolher roupas, brinquedos...
Do jeito que Otávio sempre foi louco por um filho nosso, todo dia ele chegaria em casa com alguma coisa nova pro bebê.

Imagino como nós dois iríamos discutir sobre qual seria o nome desse menino, como brigaríamos pra decidir a cor das paredes do quarto e como entraríamos numa guerra para saber quem passaria mais tempo com ele.

Esse bebê é a única coisa que me restou do Otávio. Como posso entregar à adoção um fruto do nosso amor? Eu e Otávio fizemos um bebê juntos. É um pedaço de nós em um só!

— Cice?— Elias me chamou.— Você foi pro mundo da lua.

— Só estava pensando em coisas aleatórias.

— Sabemos bem no que estava pensando, não precisa mentir pra mim. Eu entendo e está tudo bem.

Se levantou e começou a tirar a mesa, já que tínhamos terminado.

— Você vai trabalhar hoje?— mudei de assunto.

— Sim, quer ir comigo pra conhecer?

— Claro!
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Mais um pra matar a saudade

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