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No dia seguinte, recebi logo cedo uma mensagem do Elias.

"Hoje vamos no Burguer Palace, se for da sua vontade, claro!"

"Tipo Burguer king?" Perguntei ironicamente.

"Só que Palace"

"Vamos hoje à noite. 19 horas me encontra aqui na recepção"

" Marcado ✅ "

Fui para o closet procurar uma roupa pra ir almoçar, e mais uma vez meus olhos bateram na bendita sacola com os testes.

Eu ainda não estava pronta.
Parece que me faço de despreparada. As vezes sinto que eu me engano para não bater de frente com a verdade de uma vez.

Peguei a sacola e tirei dela os testes.
Me virei para sair do closet e ir para o banheiro, mas não consegui. Não criei coragem.

—Vai esperar não dar mais tempo de abortar, otária?—Perguntei a mim mesma.

Criei forças e fui para o banheiro.
Abri os três testes e segui o passo a passo de cada um. Manuseei os três de forma que eu não visse a telinha.

Depois de fazê-los, deixei os três virados para baixo na pia. Já estavam feitos, agora eu só precisava criar coragem para virá-los.

—Só um minuto..—Falei como se eles tivessem vida e sai do banheiro.

Pedi o almoço no quarto, desisti de descer.
Quando terminei de comer, ainda não tinha ido ver o resultado.

—Vai ficar lá até quando eu decidir ir ver!—Falei para mim mesma.

Passei a tarde deitada vendo TV, até receber uma ligação da minha mãe.

"Oi..." Falei.

"Oi amor, como você está?"

Sem responder, comecei a chorar.

" O que foi, filha? Otávio fez alguma coisa com você?" Já estava preocupada.

"Não!" Respondi ainda chorando.

" O que houve, então?"

" Eu acho que tô grávida e eu não sei o que eu fazer!" Falei sem enrolar antes de eu mesma perder a coragem de dizer.

" De quem?" Sua voz parecia nervosa.

Chorei mais ainda.

" Meu Deus, Clarice!"

Nada respondi.

" A quanto tempo vocês estiveram juntos?"

"Desde que ele tinha 15 anos nós temos algo."

Naquele momento, eu não estava me importando em falar sobre tudo.

"Meu Deus! Como ninguém nunca desconfiou? Mas... mas me diga, porque acha que está grávida?" Estava muito nervosa.

" Todos os sintomas de uma gravidez, e percebendo agora, minha menstruação está atrasada."

"Faz um teste!"

" Eu fiz três, mas não tive coragem de virar eles e ver o resultado."

" Cice, Otávio é seu primo e já vai ser pai, o que você vai fazer?" Estava mais preocupada que eu naquele momento.

" Eu não quero um bebê. Do Otávio ou não, eu nunca serei mãe. Eu já comprei remédios pro caso de eu estar grávida mesmo."

"Vai abortar? Meu Deus! Não!"

" Como você mesmo disse, ele é meu primo e já tem um bebê a caminho..."

" Mas... mas você tem outras opções!"

" Adoção? Não! Eu não conseguiria. Se eu abortar, posso sentir a culpa de nunca ter dado a chance dessa criança ser amada, mas se por pra adoção, eu sempre saberei que ela existe e está em algum lugar por aí! Se ficar comigo, pode nunca ser amada!"

" Eu dizia exatamente a mesma coisa sobre a sua gravidez... e hoje você está viva e com saúde pensando na mesma coisa que eu pensei..."

" Eu não posso ter um filho do meu primo!"

" Em que merda você foi se meter!?"

" Eu não sei o que eu faço com tudo isso!"

" Vá ver os testes!"

" Não posso!"

" Ele sabe disso?"

" Não pode nem sonhar! Ele sempre quis um filho comigo, mas eu nunca quis engravidar. Se ele souber que eu posso estar grávida, ele é capaz de me forçar a ter esse (talvez) bebê!"

" Sai pra esfriar a cabeça, amor." Ainda aparentava segurar o nervosismo.

" Eu vou me arrumar agora pra isso!"

"Então vai, e se diverte!"

Nos despedimos e fui me arrumar.

Coloquei uma roupa simples de frio, um cachecol, um sobretudo, calça jeans grossa e botas.
Simples pra Inglaterra.

Já eram 18:30 e eu já estava pronta.

Virei os testes? Não! Cadê a coragem?
Não pretendia virar ainda.

Fiquei meia hora olhando as redes sociais. Quando bateu 19h desci para a recepção. Elias já estava lá.

—Parece melhor.—Falou assim que me viu.

—Sim, estou melhor.—Sorri.

Me deu um abraço forte.

—Fez o teste?—Me perguntou enquanto saíamos do hotel.

—Fiz..

—E deu o que?

—Eu não tive coragem pra olhar. Os três estão na pia do banheiro.

—Porque tanta enrolação? Olha logo e faz o que tiver que ser feito de uma vez.

—Eu não sei... Eu prefiro fazer as coisas no meu tempo.

—Tem razão..

Entramos no carro dele que estava estacionado do outro lado da rua.

—Me fala mais de você...

—Minha família é pública no ramo administrativo e você é desse ramo, então já deve saber bastante coisa sobre mim.

—Você sabe sobre mim?

—Não...

—" Você é desse ramo, deveria saber!" —Fez uma voz irritante, mas que me fez rir.

Deu partida no carro e fomos conversando pelo caminho.

—Bom, cresci sem meu pai, pelo motivo que já deve saber. Tive um boa vida. A alguns meses as herança do meu pai veio pra mim. Eu fiquei bem feliz, ja que não vou precisar ter uma vida ruim, como a de tantas pessoas. Mas minha vida não se resume a minha família, então vou falar do meu interior. Gosto de sair, beber, comer, transar, conhecer gente.. ahmm... também gosto de doces, gosto de ficar em casa assistindo algum filme às vezes. Amo donnuts! Muito mesmo! Prefiro noite do que dia. Sexo do que carinho. Acho que qualquer coisa se resolve na cama entre um casal.

—Concordamos nessa ultima parte então!

—Ahhh que ótimo!— Me animei na fala, o fazendo gargalhar por alguns instantes.

—Eu sou o oposto em alguma coisas. Não tive uma boa vida, passei muita coisa depois que meus pais foram mortos. Prefiro ficar em casa, bebo às vezes, prefiro coisas salgadas, também gosto de ficar em casa vendo filmes, mas eu não faço isso só às vezes. Prefiro o dia do que a noite e também acho que tudo se resolve na cama.

—Vamos brigar?

—Não precisamos de briga pra irmos pra cama. Se quiser vamos agora.—Virou o olhar para mim e me olhou convicto.

—Prefiro comer antes!
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Já falei que esse promete!

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