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Logo no meu primeiro dia na Inglaterra recebi diversas mensagens do Maurício.
Eram ameaças. Dizia que iria me matar por ter abandonado ele no altar.

" Me esqueça para sempre!" Enviei entes de bloquear seu número.

Eu estava hospedada em um hotel. Não era luxuoso, mas supria todas as minhas necessidades. Nada me faltava.

Eu passei o dia no quarto chorando. Só queria ele aqui comigo... Otávio.

O telefone do meu quarto tocou às 21:30. Era da recepção.
Alguém queria me ver.

Meu corpo gelou. Era Maurício! Só podia ser!

"Me diga quem é..." falei com medo.

" Ele não disse nome, mas é um moço bonito e parece que vai ficar pelo tamanho da mala."

Otávio? Ele viria atrás de mim? Viria me consolar? Voaria dos Estados Unidos até aqui por mim? Para mim?

Larguei o telefone e corri para fora do quarto.
Corri pelo corredor até o elevador.
Em poucos segundos eu já estava lá em baixo.

Era ele! Veio por mim!
Abri um sorriso e corri para me enfiar entre seus braços.

—Era tudo o que eu precisava, Otávio!— Falei soluçando de tanto chorar.

—A tia Ali me disse onde ia estar...—Senti seu hálito quente em meu ouvido.

Ele ali para mim, naquele momento era tudo que meu coração precisava.

Não. Não nos beijamos como nos filmes. Apenas matamos a dor um do outro por alguns minutos.  Presos um no amor do outro.

Eu precisava dele ali, mas não voltaria atrás na decisão de acabar com o relacionamento.

...

—Sua mulher não achou ruim você vir?—Perguntei já no quarto.

—Eu não falei com ela. Apenas entrei no avião com uma mala que arrumei em 10 minutos.—Respondeu olhando fixamente para os meus olhos.

Uau...

—E como vai o feto?

—Você quis dizer o bebê. Bom ele está crescendo saudável. Apenas um mês de vida, mas saudável.

—Eu tô com medo do Maurício. — Mudei de assunto.

Eu não queria falar do bebê. Não mesmo. Na verdade eu queria que ele sumisse.

—O que ele falou pra você?  

—Não importa agora. Não quero ter que te dizer cada uma das ameaças que ele me fez.

Eu queria desabafar, mas desisti. Eu não queria ter que me abrir a Otávio dessa forma. Sabe, é muito difícil olhar para ele agora, aqui, na minha frente, mas eu preciso dele nesse momento. Mesmo com a minha mãe e a Lia, eu não iria sorrir como sorrio com ele, não iria estar mais calma do que quando fico com ele. Mesmo com toda essa situação, apenas ele faz meu peito ficar mais leve. Apenas ele me deixa tranquila. Essa noite eu posso dormir bem, mesmo com tudo que ouvi e li do Maurício, porque Otávio está aqui.

Ele me olhava de forma estranha; como se estivesse tentando conter todo o sentimento dentro dele. Eu sei que ele me ama. Sei que ainda sou tudo para ele, mas não posso suportar viver com isso.

—Quer dar uma volta?— Perguntei tentando não olhar mais em seus olhos.

Precisávamos sair dali. Eu estava louca para agarra-lo, beija-lo, mas não podia fazer isso. Não podia voltar atras ou dar qualquer esperança de que pudéssemos nos resolver, porque não poderíamos nessa situação.

—Não quer me perguntar o porque de eu ter sido babaca de voar ate aqui por você?—Perguntou olhando para as próprias mãos.

—Eu sei porque veio, Otávio. Você me ama e sabe que eu não estou bem.

Ele me olhou suavemente, deu um aceno positivo com a cabeça e voltou a olhar para as maos nervosas que não paravam de se enrolar uma na outra.

—Vamos dar uma volta, mas amanhã!—Disse convicto.—Me leve para conhecer esse lugar. Vim sem saber nada. Cada loucura por amor, não é?

Eu estava um pouco sem graça com tudo isso. Separados, mas juntos. Nós estamos interligados um ao outro de uma forma inexplicável.

Falar de amor era algo que me deixava desconfortável. Eu queria estar fazendo amor com ele, não falando de amor, já que isso agora já é uma coisa impossível.

Passamos o dia seguite rodando por londres. Comemos em alguns lugares apenas para provar a comida. No geral, nos divertimos.

...

—Quando vai em bora?—Perguntei enquanto deitava na cama após o dia cansativo.

—Provavelmente quando você for.

—Eu nao tenho data pra ir para casa e também não tenho uma mulher e filho me esperando em outro país.

—Eu to tão confuso, Cice. Eu já desisti de tentar fazer você me perdoar. Sei que não vai rolar, mas também não quero ficar com ela... Só o que me prende a ela é esse bebe. Eu não to feliz e nunca vou estar enquanto eu estiver com ela, mas agora eu já apresentei ela a todos, já falei do bebe...—Ele estava quase chorando.

—Não devia se importar com os outros. Você voou até outro país por causa da sua prima sem avisar nada a ela. Se tiverem que falar alguma coisa de você, já estão falando.

Tentei ser imparcial. Eu sei que ele está sofrendo pela minha falta, mas nesses momentos prefiro fingir que não é de mim que ele precisa, não é por mim que ele chora, não e o meu beijo que ele quer. No final de tudo eu me lembro que é de mim sim, mas pelo menos eu evito sofrer por segundos.
Eu sei que na verdade, ele mais sofre por não estar comigo do que por estar com ela.

—Eu amo você, Clarice. Não se esqueça disso e boa noite...

ele apenas se deitou na cama improvisada no chão e se virou para o lado.

—Boa noite...

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Tudo para ClariceOnde histórias criam vida. Descubra agora