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Acordei com o sussurro nervoso de Otávio ao telefone.

—Eu não quero mais reclamações! Eu vou voltar a hora que eu bem entender! Ela é minha prima, quase irmã e precisa de mim agora!- Deu uma pausa longa.—Não! Se ousar tirar o meu filho de mim eu te caço até o inferno!

Ele estava a cinco passos de mim, sentado na poltrona que era virada para a TV.

—Otávio...—O chamei.

Sem se despedir da pessoa que provavelmente era a mãe do bebê dele, desligou a ligação e se levantou.

—O que houve?—Perguntei.

—Ela quer eu volte!

—Eu percebi, Otávio..

Ele entendeu que minha pergunta precisava de uma resposta mais detalhada.

—Ela acha que eu traio ela com você!

—Foi meio o contrário, né...—Debochei.

—E quer que eu volte imediatamente.— Ignorou minha implicância.

—Volte.

—Não! Eu quero ficar aqui, com você.—Respondeu indignado.

—Você vai ser pai agora, Otávio. Sem contar que ao invés de manter uma ligação apenas com seu filho, decidiu começar algo sério com ela. Porque fez isso, aliás?

—Só queria tirar você da cabeça, já expliquei essa história.

—Não explicou, não.

—Então foi pra outra pessoa, Sei lá...

Me levantei e pedi o café da manhã do hotel.

—Jaja chega.

Acho que algo que comemos ontem não me fez bem. Senti meu estômago da mesma forma de quando eu e Otávio terminamos. Fui para o banheiro quase que correndo e nem preciso terminar de contar. Não tinha nada pra sair, então foi só aquele líquido ácido do estômago.

Otávio apareceu alguns instantes depois. Segurou meu cabelo enquanto dizia " Meu Deus, que nojo!".

Logo após essa "nojeira", como Otávio sempre chamou o vômito, lavei a boca e caí na cama de novo.

—As merdas que a gente comeu ontem devem ter sido demais pro meu estômago!—Falei sentindo minha garganta ranhenta.

—Já pensei que tava grávida.—Falou rindo em tom de brincadeira.

Para ele era brincadeira. Não para mim. Tudo começou a fazer sentido. Enjoos, dores de cabeça, sensibilidade... Eu sequer havia pensado nessa possibilidade.
Não podia e nem queria ter um filho! É a coisa que mais rejeito na vida.

Eu contive o nervosismo e apenas ri de sua "piada".

—Sabe que me cuido pra não me acontecer essa desgraça.

—Já gozei dentro várias vezes só nesses últimos três meses.

—Acha que eu não tomei a pílula do dia seguinte e acha que não fiz o teste de gravidez um semana depois pra ter certeza?

Eu não tinha feito nenhuma das duas coisas.

—E deu negativo?—Me olhou sarcástico.

—Sim!

Se eu estivesse, nunca permitiria que ele soubesse. Ele já tem um bebê a caminho. Eu não poderia contar, porque além de ele já ter formado uma família, somos primos! Eu nunca deixaria esse bebê nascer.
E eu tenho certeza que é dele, já que sempre fiz Maurício usar aquelas camisinhas grossas e como Otávio mesmo disse, já transamos várias vezes sem proteção.

Otávio estava tranquilo, ele confiava que eu não fosse permitir que essa merda acontecesse.

O nervosismo só crescia. Eu não aceitaria uma gravidez nunca na minha vida e sei dos riscos de um aborto.

Tentei agir o mais natural possível durante o resto do dia.

...

Durante a madrugada do dia seguinte, saí enquanto ele dormia.

Havia uma farmácia 24h de frente para o hotel. Entrei nervosa. Já sabia o que iria comprar.
Passei pela fileira de remédios e bati meus olhos nos remédios que eu sabia que funcionariam em uma tentativa de aborto. Peguei três cartelas com quatro comprimidos cada.

Enrolada no casaco, me protegendo do frio do ar condicionado, continuei andando pela farmácia atrás dos testes de gravidez; em especial, os que mostravam as semanas.
Encontrei em uma prateleira perto do caixa. Peguei 3.

A atendente, ao ver os remédios e os testes, me olhou já sabendo a situação.

—Um filho é uma benção.—Comentou enquanto ensacava os produtos.

—Prefiro não ter um bebê do que ter e não conseguir amar.

—Antes uma gravidez interrompida do que mais uma criança sofrendo.—Seu colega de trabalho falou.

Lancei um olhar de "Exatamente!" e passei o cartão.

—Pensa bem se realmente estiver grávida!—A moça falou enquanto eu saia da loja.

—Pode deixar!—Respondi antes da porta se fechar.

Ao retornar para o quarto, pus a pequena sacola dentro do bolso do casaco pro caso de Otávio estar acordado.

Abri a porta e o vi sentado no sofá.

—Onde você foi?—Perguntou um pouco estressado.

—Fui na farmácia comprar um remédio pra dor de cabeça..

—E cadê o remédio?

—Não tinha o que eu queria.

—Da próxima vez me avisa ou leva o celular!—Se levantou e foi deitar na sua cama improvisada.

Fui para o closet e pus o casaco no cabide. Ele não encontraria a sacola lá.

Eu pretendia voltar e fazer o teste, mas agora teria que deixar para outra hora.
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