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Quando acordei, estava na cama do Otávio. O mesmo se encontrava à minha esquerda, sentado ao lado da Alina.

—Acho que bebi demais.— falei a primeira coisa ao abrir os olhos.

—Não o suficiente pra ficar bêbada, mas suficiente pra desmaiar?— Otávio perguntou ironicamente.

—Levantei rápido demais!— falei.

—A bebida, mais o nervosismo fazem isso mesmo...— Minha mãe comentou.

Me levantei e assim que vi meus saltos no pé da cama, os coloquei.

—Já vai em bora? Deixa eu te levar!— Alina se ofereceu.

—Não! Quero ir sozinha!

—Deixa o Otávio ir com você pelo menos...

—Que seja!

Desci as escadas, me deparando com a sala de estar, que ainda abrigavam meus familiares.

—Temos que conversar!— Dyn se levantou da poltrona e de maneira grosseira pôs o copo de whisky na mesa de centro.

—Será daqui a algumas semanas. Mandarei convite para todos vocês. Aceitem se quiser e não precisa levar presente!— falei sobre o casamento sem me importar com suas palavras.

Passei direto sem ter algum contato visual com qualquer um presente.

Logo que saí da casa junto com Otávio, ele disse o quão odiada eu seria se esse casamento fosse a frente, mas não me disse para não casar. Afinal, ele quer isso tanto quanto eu.

—Beba menos da próxima vez!— mudou de assunto.

—Chega desse assunto!— já estava cheia.— Preciso pensar no casamento! Maurício está resolvendo tudo, mas maquiador e cabeleireiro, eu fiz questão de ser eu a decidir!

Entramos no meu carro. Otávio ficou no volante.

—Falei com os meus pais que iria pra uma balada depois de deixar você lá.

—Divirta-se!

—Não, tonta! Eu vou ficar contigo!— riu.

—Bom, divirta-se!— sorri.

- Você ainda deve estar meio mole, mas isso não vai me impedir de te foder!- brincou.

—Pra você eu fico boa em um estalar de dedos.— sorri maliciosa.— agora da partida logo!

Um trânsito infernal impediu que chegássemos rápido em casa. A bebida me fez ter dores de cabeça.
5 copos de whisky, 2 garrafas médias de Budweiser e 2 shots de vodka, que foi o que eu bebi, eram suficiente pra me deixar zonza, mas não mal a ponto de desmaiar. As vezes sentia dor de cabeça com 3 copos de whisky.

Quando minha avó me chamou eu ainda estava bem, durante o jantar também, mas foi só levantar que bateu.

Finalmente chegamos em casa, certamente transamos, e muito!


Uma semana depois, eu já estava cansada de tanto telefonar para maquiadores e cabeleireiros. Era exaustivo demais!

Os convites já haviam sido enviados.
Optamos por convidar 500 pessoas. Maurício não tinha família (felizmente). A grande maioria dos convidados eram colegas de ttabalho, sócios, empresários que ele ainda queria fazer negócios, e etc.

Tenho sorte de ter nascido numa família privilegiada! Meu futuro não seria outro, além de me casar com um homem rico. Nasci em berço de ouro e vou ser enterrada em caixão de diamante!

— Cice.— Otávio me chamou.— Porque não vende aquela casa do seu pai?

—Ele tem tantas...

—poderia vender todas, mas eu falo da mais valiosa. A casa de quando você era bebê!

A casa valia muito mesmo. Cômodos grandes, lugar calmo.. Tudo que qualquer pessoa iria querer. Isso foi o que eu ouvi, porque nunca fui lá.

Ótima ideia a de Otávio. Só olhando, ela valeria uns 10 milhões.

Ela foi abandonada logo assim que meu pai foi preso. Esta vazia a 25 anos. Até onde eu sei, simplesmente saíram de lá, deixando tudo para trás.

—Eu vou ver isso!—Respondi.

E vi mesmo!

No dia seguinte lá estava eu. Na porta principal, apenas criando coragem para girar a massaneta e entrar.

Eu estava sozinha, entrando numa casa abandonada, às 17h.

Depois de alguns minutos, entrei.

Acendi a lanterna que havia levado, já esperando o breu da casa.

Estava inteiramente tomada por teias, insetos e poeira.
Mas também haviam muitas lembranças.

Vi fotos lindas de quando eu era bebê. Fotos dos meus pais comigo.
Queria tanto me lembrar do momento em que o botão da câmera foi apertado...

Olhei cada canto do primeiro andar.

Ainda haviam dois talheres na pia junto a um copo.

Eu sentia uma enorme nostalgia.
Eu vivi aqui por um tempo, mesmo que tenha sido tão pouco. Aqui foi a minha casa. O meu lar.

Subi as escadas, me deparando com um corredor que para mim era grande.

Entrei em cada porta, ate chegar no quarto que certamente foi o meu.

Tudo foi arrumado de forma tão bonita..
Eu podia ver minha mãe sentada na poltrona me dando de mamar. Podia ver meu pai me ninando no berço. Até a tia Nick eu conseguia ver brincando comigo.

Abri uma gaveta do armário, e encontrei várias roupinhas.

—Minhas roupas...— comentei rindo com ternura.

Eu queria ter crescido aqui. Com meu pai e minha mãe. Sem toda essa história de estupro, mentiras, traições, prisão...

Eu queria ter todas as memórias que uma possoa normal tem com seus pais.

Quando eu era pequena, eu achava que algum dia meu pai apareceria com um lindo cachorrinho, dizendo que a partir dali, tudo seria perfeito. Eu, ele, Alina e o cachorro.

O que estragou minha vida, foi justamente o que me fez existir.

Nesse momento as lágrimas já estavam caindo.

—Eu não vou vender minha casa!— falei para mim mesma tentando conter o choro.— É o último e único lugar onde tive minha vida perfeita, mesmo que eu nem me lembre...
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Ela não parece tão má as vezes...

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