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Dois dias depois, acordei cedo preparada para a consulta, porém, com um enjoo forte. Teria que esperar até o horário marcado para saber mais sobre esse bebê.

Elias me fez cortar tudo que poderia fazer mal a ele. Bebida, certos medicamentos, comidas com temperos fortes... Ele mesmo inventou uma dieta onde só posso comer legumes, frutas, carnes e vegetais.
Nesses dois dias eu tenho seguido, mas confio mais na doutora.

Essa noite ele não dormiu comigo e por algum motivo ainda não apareceu, o que não era normal.

Fiquei horas acordada até dar a hora do almoço, comi e me arrumei rápido.

Cheguei na clínica 13h em ponto.

— Clarice?— a doutora chamou pondo a cabeça para fora do seu consultório.— Vamos?

Me levantei e entrei junto à ela.

— Eu preparei a sua dieta. Daqui a pouco eu te entrego tudo anotado.

— Vamos fazer o que agora?

— Vamos ouvir o coração do bebê!

Eu sempre ouvi que o sentimento que toma conta do seu corpo quando ouve pela primeira vez o coração do seu filho é de imensa felicidade. Isso foi crucial para minha mãe me aceitar.

Todas as grávidas que conheci disseram que se antes não conseguiam amar seu bebê, depois de ouvir os batimentos do pequeno passaram a amar imensamente.

Comigo não estava sendo assim...
Não estava sentindo nada. Eu não conseguia sentir todo esse amor que dizem.
A única coisa q eu sentia era o nervosismo de ter um bebê do meu primo, mais nada.
Aquele bebê não me despertou nada. Nenhum amor, nenhum sentimento bom, nenhum nada!

— Eu sou horrível por não sentir nada?— perguntei para a doutora enquanto a mesma passava a pequena máquina na minha barriga.

— Não... claro que não! Isso acontece com algumas mulheres, mas depois que o bebê nasce, ele se torna tudo na vida dela!

— Tem filhos?

— Não...

— Ah... queria que me dissesse como é cuidar de um bebê.. Aliás, nem sei sei vou ficar com o bebê.— Ri nervosa.

— Na verdade tive um... mas morreu ainda bebê... Se chamava Lucas. Foi tirado de mim.

— Como assim tirado de você? Desculpa perguntar.

— Eu era bem jovem e engravidei de um moço bem mais velho. Ele deu um jeito de tirar a vida do meu filho antes mesmo dele nascer. Mas eu superei isso!

A expressão dela parecia perturbada. Não parecia de alguém que superou a perda.

— E o meu bebe? Como está?— tentei mudar de assunto.

— Como eu disse, muito pequeno. Não está saudável.— Mantinha os olhos fixos na tela.— Quer saber o sexo?

— Tanto faz... pode dizer!

— É um menino... Esta esmirradinho mas da pra ver com nitidez.

Um menino... não posso escolher nome para não me apegar. Não posso nem pensar na hipótese de me apegar!

Ao terminar a consulta, voltei para o hotel e avisei minha mãe que eu estava esperando um menino.

Logo quando enviei a mensagem alguém me ligou. Otávio... era ele..

Porque ele estaria me ligando? O que ele quer comigo? Alguém falou sobre o bebê? Minha mãe teve coragem de dizer? Ou meu tio não soube se controlar?

Sem pensar mais, atendi.

— o que foi?— perguntei bruscamente,

— Eu só queria saber de você.. eu sinto saudade, Clarice!— Disse cabisbaixo.

— eu sinto muito por isso, mas quem ocasionou isso foi você.— Me doia o coração, mas eu não podia ceder.

— E eu me arrependo!

— Arrependimento faz alguma coisa mudar?

— Cice, eu abro mão dela e desse filho! Eu dou um jeito dela tirar esse bebê!

Ele não faria isso. Sempre quis um filho!
Me traiu, mentiu para mim. Porque estaria fazendo isso agora? Depois de já ter me perdido, já ter ocasionado tanta dor.. Porque faria isso agora?

— Otávio, por favor... Não minta mais para mim!— Desliguei a ligação e joguei o celular na cama.

Eu não estava pronta para ouvir sua voz mais uma vez. Não deveria ter me ligado!

Por incrível que pareça, não fiquei nervosa como teria ficado se meu único problema fosse Otávio. Eu não fiquei bem em falar com ele, mas também não fiquei como uma menina de 14 anos.

Saí dos pensamentos com o telefone do quarto tocando. Provavelmente era Elias lá em baixo.
Atendi e disse a recepção que ele podia subir.

Elias... Esse homem está comigo em todos os momentos. Me dando apoio e carinho. Ele merece mais do que apenas sexo comigo. Merece mais do que aquilo que eu dou. Eu não consigo sentir nada mais sério por ele do que apenas desejo, mas ele merece mais do que apenas uma transa toda noite.

Em alguns minutos Elias bateu na porta e foi rapidamente atendido.

— Porque não veio mais cedo? Podia ter ido na consulta comigo!— Sorri.

— Estava ocupado comprando uma coisa pra você! Foi difícil escolher uma que agradasse os dois gostos.— Sorriu radiante.

Levantei as sobrancelhas como quem dissesse "diga logo".

— Quer namorar comigo?— puxou uma caixinha vermelha com duas lindas alianças dentro.

Perecia que havia acabado de ler a minha mente, mas graças a Deus não, pois Otávio invadiu meus pensamentos novamente.

Sua voz pedindo para reatar, sua disposição para resolver nossos problemas... E se fosse verdade? E se ele realmente estivesse disposto?
Ele me ama, e eu sei que nada supera esse amor!

Não! Não devo perdoar! Não posso!

— Sim!— Respondi antes que mais pensamentos surgissem.

Sem pensar muito seria menos pior.

Colocamos as alianças, confusos sobre qual era o dedo de compromisso, esquerdo ou direito, mas colocamos na que escolhemos.

— Eu amo você!— Ele disse.

Droga!

Consegui apenas sorrir e abraçá-lo para esconder minha cara sem graça.

— Vamos ter uma vida agora!
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Um novo papai pro bebê?

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