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Dois dias depois estava eu lá, passeando com meu novo carro pra lá e pra cá.

Depois de dar uma volta, cheguei em casa por volta de 12h. Senti o cheiro da comida da Maya e meu estômago roncou de fome.

— Maya, eu vou lavar as mãos e trocar de roupa. Não deixa ninguém comer antes de mim! To grávida! Privilégios!

— Sim senhora!— Maya respondeu rindo.

— Elias já chegou?— Gritei do topo da escada.

— Já sim. Está no quarto do bebê.

Fui até ele. Dei três batidas na porta entre aberta e a empurrei mais um pouco.

— Elias esse quarto já está brilhando. Não há mais o que fazer, mas você continua inventando...— Sorri.

— Eu finalmente terminei de colocar o papel de parede. Acho que agora é só esperar as coisas chegarem amanhã.

— É, só esperar.

Andei até ele, dei um beijo e o abracei.

— Você está suado. Toma um banho pra gente almoçar.

— Claro.

— De manhã quando acordei você não estava. Onde foi?

— Fui comprar cola pro papel de parede.

Peguei em sua mão e o conduzi até o quarto.

— Eu to com fome, então toma banho rápido!

Troquei de roupa enquanto ele estava no chuveiro. Tirei a maquiagem leve que passei mais cedo e penteei os cabelos que se esvoaçaram por conta do vidro aberto do carro.

Em alguns minutos ele saiu do banho, se vestiu, e descemos.

Maya assistia tv enquanto preparava a mesa.

— Maya, você não acha melhor contratarmos uma pessoa pra te ajudar? Acho que você faz coisas demais aqui.— Falei enquanto nos sentávamos.

— A casa é bem grande, mas dou conta. Não é muito trabalho.— Ela respondeu.

— Hm, entendi! Então vamos contratar alguém pra cuidar das roupas e dos quartos enquanto você cuida da parte debaixo da casa.— Elias falou.

— Então a minha opinião não importa né?— Falou rindo.

— E quando foi que importou?— Ellie falou aparecendo na cozinha.

— Ah garota, você está muito abusada!— Maya falou e nos fez rir.

— Anda Maya senta logo pra gente comer!— Elias pediu ainda rindo.

Ellie sentou ao lado da mãe e finalmente começamos a comer aquela lasanha de carne e queijo.

— Ai Maya, porque tudo que você toca fica divino?....— Perguntei enquanto saboreava.

— É o dom!— Respondeu em tom de brincadeira.

Senti um movimento estranho na barriga. Acho que um chute. E o filho da puta acertou minha costela.

— Filho da puta!— Falei alto.

— O que foi?— Elias perguntou.

— O bebê chutou minha costela!

— Ele se mexeu?— Ellie perguntou animada.

Puta merda! Pela primeira vez eu senti meu filho dentro de mim. Ele se mexeu. Tem um bebê vivo dentro de mim e eu senti ele...

— Eu não diria apenas "se mexeu", diria que ele está lutando contra as amarras da vida aqui dentro, porque porra... ele me deu um chute na costela!

Ficamos por um tempo falando sobre como a nossa vida mudaria depois que ele nascesse, até que começou uma reportagem na tv... sobre a minha família!

"Parece que a família Kovalenko, uma das mais ricas dos Estados Unidos, ganhará um novo herdeiro!"

Fotos nossas foram passando pela tela.
Toda a família reunida em eventos. A foto de família que foi tirada para por na entrada da nossa casa, até fotos que eu nem sabia que a imprensa tinha acesso.

"Otávio Nollan Kovalenko, filho de Dylan Kovalenko e Nicole Nollan, está esperando um bebê!"

Apareceu uma foto de Otávio e a mãe do filho dele. Estavam de mãos dadas saindo de alguma festa, ou boate.

"A família foi vista reunida em uma festa de negócios há poucos dias e já deu até pra ver a barriguinha da grávida."

Outra foto deles, mas nessa dava pra ver melhor a barriga dela. Ainda estava pequena, mas visivelmente grávida.

"Clarice Kovalenko não foi vista nas últimas reuniões da família. Estava sempre junto de seu primo Otávio, mas ultimamente esse papel se tornou da mãe do pequeno herdeiro."

Foram colocadas fotos onde eu e Otávio aparecíamos sozinhos saindo de algumas nas milhares de festas e fomos juntos. Fotos de eventos junto da família, fotos de quando éramos mais jovens. Uma em específico me chamou mais atenção. Estávamos de mãos dadas, tentando ignorar as câmeras viradas para nós, saindo do aniversário de uma amiga nossa.

Nesse dia nós tivemos uma briga terrível, mas como sempre, resolvemos transando. O diferencial dessa noite foi que transamos dentro do uber enquanto íamos em bora trebados, mas mesmo que estivéssemos com álcool até no cu, conseguimos ser discretos. Foi um dia muito louco!

Peguei o controle e desliguei a tv.

— Porque tem uma tv na cozinha?— perguntei.

— Gosto de ver e fazer as receitas nos canais de culinária.— Maya respondeu.

— Aquilo era um canal de fofoca, não de culinária!— Falei alterada mas tentando parecer calma.

— Está tudo bem?— Ela perguntou.

— Ela só está com saudade da família...— Elias olhou para mim e segurou minha mão.— Não é Cice?

— É... muito tempo longe!— Afirmei.

Terminei de comer rápido e subi pro quarto.

Quando não é o próprio Otávio me apurrinhando, são os canais de fofoca!

Infelizmente eu estava sentindo falta dele. Ver aquelas fotos dele com outra me destroçaram. Ele deveria estar comigo!

Iria ficar todo bobo com o chute do bebê. Consigo imaginar seu sorriso ao sentir o bebê se mexendo. Ele passaria o dia todo com a mão na minha barriga só pra conseguir sentir algum movimento do nosso filho.

Não contive as lágrimas. Eu queria ele comigo. Eu, ele e esse bebê. Mas infelizmente ele tem uma outra mulher e um outro filho.

Eu sou prima dele, como algum dia isso seria aceito? Somos primos!

Como a gente pode deixar isso acontecer? Porque não nos colocamos nos nossos lugares? Porque não nos freiamos?

Tudo isso seria evitado se não tivéssemos deixado o desejo falar mais alto. Não teria se tornado amor, não teríamos feito um filho...

Eu nunca parei para pensar no quão errado a nossa relação era. Mas acabou se tornando tudo isso. Não tem mais volta e temos que lidar com o que está acontecendo!

Temos um bebê, que eu vou cuidar como se não fosse dele, inclusive, com outro pai. Ele criou uma nova família e agora tudo vai andar como deveria ter andado. Primos sendo apenas primos e cada um com a sua família formada!

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