Capítulo 2

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Eram onze horas da manhã quando finalmente havia terminado de comunicar pelo telefone que o Sr. Austen não poderia comparecer aos eventos e reuniões.

Como já esperado, houve protestos e queixas, mas nada que sua lábia não pudesse contornar. A maneira com que se expressava com classe e desenvoltura era capaz de milagres, por isso ele ainda a manteve como secretária, Cassie possuía talento com persuasão e uma oratória incrível. No fim, todos aceitaram remarcar para outro dia.

Ela retirou os óculos de grau preto e esfregou os olhos com o polegar e o indicador, estava exausta e ainda nem era meio dia. Decidiu que seria melhor avisá-lo para quando foram remarcados a fim de evitar que qualquer outro contratempo a atrapalhe novamente.

Saiu pelo corredor branco e bem iluminado pelo sol em direção a sua sala que possuía longas portas de vidro fosco. Estava prestes a bater quando ouviu gritos, seguidos por um estrondo alto que a fez se encolher no lugar.

-Caralho, Adrien! – Ela ouviu seu chefe gritar. – Por que não vê que eu só quero o seu bem?!

Cassie encolheu-se no lugar ao ouvir a forma com que falava. Jamais havia presenciado um comportamento daquele tipo vindo dele, era uma mudança tão radical que chegava a assustar.

-Meu bem uma merda! Não finja que se importa comigo! – Uma segunda voz se sobressaiu a dele, tão alterada e descontrolada quanto. – Já disse que não quero isso para mim e que se foda você e essa agência!

O som de estilhaços retinindo foi o bastante para lhe fazer estremecer com a descarga de adrenalina em suas veias.

Cassie abriu a porta de uma só vez e entrou na sala, quase quebrando o vidro no processo. No mesmo instante dois pares de olhos arregalados voltam-se para ela, igualmente tão esbaforidos e surpresos. O Sr. Austen estava de pé por trás da mesa de madeira escura, seus cabelos antes bem alinhados agora caiam sobre os olhos. Suas mãos estavam espalmadas sobre a mesa, mas uma delas tinha os nós dos dedos machucados com uma coloração avermelhada.

Porém, o que de fato chamou sua atenção era o outro rapaz. Este lhe encarava com o rosto vermelho, o olhar um misto de espanto e raiva que destacava ainda mais aqueles olhos familiares. Era o mesmo que lhe derrubara no saguão mais cedo.

Cassie engoliu em seco e apertou a pasta em seus braços com mais força. Já havia feito a besteira de se intrometer e não recuaria agora, qualquer passo em falso e não hesitaria em ligar para a recepção para enviar os seguranças para retirar o estranho daqui.

-Está tudo bem, senhor? – Sua voz saiu baixa e cuidadosa. – Precisa de alguma coisa?

Estava clara a insinuação em suas palavras. Apenas uma ordem e Cassie não hesitaria em telefonar a recepção para que enviasse os seguranças e tirar o estranho do prédio. Em último caso, ligaria para a polícia, mas não ficaria parada vendo um cara descontrolado gritar dessa forma com um homem como o Sr. Austen, não importava qual motivo fosse.

Ele apenas suspirou fundo com os olhos fechados e deixou a cabeça pender de cansaço e exaustão.

-Não, está tudo bem, Cassie... – Seu tom deixava explicito o quão esgotado estava. – Por favor, entre e feche a porta.

Cassie lhe fez o que foi pedido, entrando com um olhar de aço dirigido ao estranho como se esperasse por algum outro escândalo. Suas mãos ainda tremiam levemente com o susto. Como seu chefe continuava tão calmo diante essa situação ela não conseguia entender.

-Sinto muito por ter lhe exposto a isto, Cassie. – O pesar e constrangimento em sua voz foi o suficiente para suavizar um pouco da tensão que ela sentia. – Este é meu filho, Adrien. Espero que possa nos perdoar. – Era como se algo amargo houvesse lhe chegado à boca ao falar seu nome e nem mesmo encarou o filho ao apresentá-lo.

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