Capítulo 22

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Cassie já aguardava na agência há mais de uma hora.

A maioria dos funcionários não costumava chegar essa hora, exceto pelos seguranças do turno matutino e alguns responsáveis pela limpeza. Entretanto, ela mal reparou em nenhum dos presentes já que subiu às pressas para o décimo terceiro andar e passou o tempo inteiro em sua sala.

Endireitava o blazer acinzentado de instante em instante, sentindo-se inquieta em ter de esperar para resolver sua situação. Já havia concluído a agenda semanal do Sr. Austen durante o percurso no avião, mas ainda havia alguns prazos pendentes além do problema com o estagiário. Este já teria sido substituído há muito tempo, se não fosse pelo fato de que Cassie não tinha tempo nem disposição para abrir uma nova remessa de entrevistas. A última coisa que precisava agora era ter de passar a semana ouvindo jovens cuja maioria só se formou porque os pais praticamente pagaram pelo diploma dos filhos. Havia coisas muito mais preocupantes ocorrendo em sua vida nesse momento.

Como, por exemplo, o fato de que não trocou uma palavra com seu chefe desde tudo o que houve em Paris.

Ele ainda tentou ligar algumas vezes, mas Cassie não tinha coragem suficiente para atender e acabou rejeitando todas as chamadas. O máximo que conseguiu foi enviar um email formal, avisando que estava tudo bem e que poderiam conversar melhor na agência. Pessoalmente.

Desde então, não recebeu mais retorno algum da parte dele e sentia-se tensa dos pés à cabeça enquanto repetia todo o discurso que criou durante o restante de seu fim de semana. Torcia para ter alguma chance de manter sua recém adquirida posição, mas no fundo sabia que teria sorte se ao menos mantivesse o emprego após tudo aquilo.

Ainda não conseguia aceitar a tamanha burrice que cometeu. Só de lembrar em como se permitiu cair nas mãos de Adrien já sentia a enxaqueca aumentar e precisou baixar os papéis de um caso recente que tentava ler para se distrair. Retirou os óculos e reclinou-se na cadeira, focando o olhar cansado no teto branco da sala. Fechou os olhos com força e lembrou-se de como bastava um sorriso dele para fazê-la querer lhe dar tudo de si se significasse manter aquela expressão radiante em seu rosto.

E enquanto se afundava nisso, seu próprio mundo desmoronava e Cassie estava deslumbrada demais para perceber.

Seu pensamentos pareciam se afundar cada vez mais nele e lhe veio à memória ambos correndo pelos corredores do Museu Rodin e uma careta amarga surgiu em seu rosto. Patético, pensou. Após tudo o que descobriu sobre Adrien acabou esquecendo-se de que no fundo ele apenas alguém ingênuo, imaturo demais e sem o menor senso de responsabilidade. Era acostumado a levar uma vida despreocupada e fácil e Cassie quase se deixou ser tragada para toda essa infantilidade, como algum tipo de adolescente vivendo o primeiro amor.

Dias inteiros foram desperdiçados assistindo comédia romântica ou rindo sobre qualquer besteira por entre as ruas e monumento de Paris. A forma com que ele sempre entrelaçava seus dedos aos dela enquanto caminhavam ou como sorria abertamente, sendo sempre gentil e atencioso em tudo. Lembrava-se da euforia que lhe vinha todas as vezes em que a encarava diretamente sem se importar se parecia um tolo apaixonado ao fazer isso ou como nunca hesitava em repetir o quanto a amava sempre que lhe dava vontade. Como se essas palavras fossem algo tão comum e banal que, para ele, não pareciam carregar o mesmo peso que tinham para Cassie. Um peso grande demais para ela suportar.

E foi então que todas as lembranças da última discursão lhe vieram à mente, como uma enchente.

A forma com que seu rosto contorcia-se dolorosamente com a expressão de decepção. Ainda agora Cassie podia ouvir claramente sua voz frágil e quebradiça escapando por entre seus lábios trêmulos ao dizer:

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