Capítulo 3

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Mais de 24 horas havia se passado e Cassie ainda não tinha notícia alguma de Tess. Muito menos do seu carro. Também não atendia as ligações e ignorava por completo as mensagens enviadas. Sabia que era insensível de sua parte, mas estava há dois dias sem o carro e havia passado o suficiente por uma vida inteira. Mas ao menos desta vez ela já sabia o que esperar e como deveria se preparar para o dia.

Hoje não cometeria erros. Acordou uma hora antes e chegou 40 minutos adiantada, com tempo mais que suficiente para preparar completamente a agenda semanal do Sr. Austen, que ainda não havia chegado, antes de acompanhar o andamento dos processos pendentes. Provavelmente precisaria ligar para seu novo assistente e pedir que o rapaz fosse ao cartório buscar alguns documentos em falta.

Mas isto ficaria para depois.

Após o término das atividades atrasadas de segunda-feira, estava se dirigindo à sala do Sr. Austen exatamente às 8 horas, com uma pasta e um copo de café em mão. Hoje se sentia mais leve. Era surpreendente como a sensação de um trabalho bem feito era capaz de melhorar seu humor. Não havia nada melhor que o simples fato de deter o total controle da situação, sem imprevistos, aborrecimentos ou pessoas indesejadas, apenas a boa e velha rotina de sempre. Porém, parou por alguns instantes antes de se aproximar da porta de seu chefe e bateu.

-Pode entrar. – A voz dele se sobressaiu.

-Bom dia. – Ela o cumprimentou com um sorriso. – Aqui está. Café forte, com pouco açúcar.

Cassie entregou o copo preenchido pelo líquido preto, já morno.

-Obrigado. – Ele lhe lançou um sorriso fraco e levou o copo aos lábios, estalando a língua ao sentir o sabor. –Está perfeito, exatamente como eu gosto. – Seu sorriso se desfez e assumiu uma expressão pensativa. – Não sei o que faria sem você.

-Está tudo bem senhor? – Perguntou-o, preocupada.

O Sr. Austen suspirou pesadamente, o olhar baixo e sem o ânimo costumeiro que lhe dava brilho aos olhos.

-Você é quem mais possuo de confiança nesta vida, então, serei honesto e admitir que não. – Ele disse, esfregando a testa ao soltar um longo suspiro. – Estou preocupado e imagino que até já saiba o motivo...

Cassie assentiu. Sabia exatamente a quem ele estava se referindo e compreendia sua aflição.

-Entendo senhor. Espero que as coisas melhorem. – Logo retirou um papel em meio aos tantos outros da pasta que tinha em mãos e mudou inesperadamente de assunto. –Aliás... Aqui está sua lista de afazeres semanais. E os eventos de ontem já foram todos remarcados.

Aquele gesto repentino sequer pegou o Sr. Austen de surpresa.

-Sim. Claro. – Falou enquanto pegava a folha e analisava o quanto estava atarefado.

-Bom, se precisar de mim, estarei em minha sala.

-Espere um pouco. – Ele a interrompeu. – De que horas planeja almoçar, Srta. Novak?

-Acho que por volta de meio dia... – Lhe respondeu hesitante, curiosa pela pergunta inesperada.

-Caso não seja um incomodo, gostaria que me acompanhasse em seu intervalo. Existem certos assuntos que gostaria de tratar com você.

-C-Claro.

Cassie apressou-se e sair da sala antes que algo mais pudesse ser dito. Ao mesmo tempo, não pôde ignorar o gosto amargo que lhe veio à boca ao pensar no conteúdo dessa conversa. Porém, logo lhe veio à memória as cenas da noite anterior e bateu com a mão na própria testa. É óbvio que o Sr. Austen reparou como passou o jantar inteiro fuzilando o filho dele ao invés de interagir adequadamente. Mesmo que não se dessem bem, ainda era pai e deveria sentir quando seu filho não era bem visto ainda que também o achasse um imprestável. Neste momento, apenas pensava na infeliz possibilidade de perder a promoção e pôde sentir o café chegar à garganta. Mas não podia surtar. Ainda não. Era impossível que tanto esforço fosse por água abaixo devido a uma atitude infantil. Ao menos, ela torcia para que fosse.

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