Capítulo 8

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-Ah! Merda!

Ergueu a bandeja bruscamente, impedindo que o suco derramasse em cima das torradas. A melodia foi interrompida e o silêncio que se fez foi o suficiente para lhe indicar que havia feito besteira. Virou-se para encará-lo e, quando seu olhar cruzou com o dele, foi como se todo o ar da sala houvesse desaparecido.

Adrien mantinha-se paralisado, como se um animal selvagem prestes a atacá-lo tivesse entrado e não sua hóspede. Cassie não sabia se falava algo ou se largava a bandeja em qualquer lugar e ia embora o mais rápido possível. Naquela situação, era difícil deduzir quem estava mais em choque.

-Pensei que estava dormindo. – Adrien foi o primeiro a falar, mas sua voz saiu fraca.

Foi o suficiente para que ela despertasse e pigarreou para limpar a garganta.

-Não, mas... – Sua mente parecia em branco, sem saber exatamente o que falar naquela situação. A única coisa que funcionava nela era o aperto firme que tinha na bandeja. – Eu vim trazer seu café da manhã.

Foi o melhor em que conseguiu pensar. Depositou a bandeja sobre uma escrivaninha de vidro, logo abaixo de uma coleção de violões pendurados na parede. No entanto, Adrien apenas franziu o cenho e encarou duramente a comida.

-Então o que ainda está fazendo aqui? – Disse rispidamente.

Se ouvisse algo do tipo ainda ontem, Cassie tomaria a ofensa e já teria uma resposta afiada na ponta da língua. Mas não dessa vez. Ela permaneceu muda, sem saber como abordar o assunto da noite anterior sem alarmar Adrien que, a essa altura, mais parecia um animal acuado.

-Gostei de lhe ouvir cantar. – Disse por fim.

Adrien enrijeceu no lugar, desconcertado e com o fôlego travado na garganta, piscando repetidas vezes para se certificar de que aquilo era mesmo real. Cassie sentiu o próprio peito aquecer ao pensar que finalmente havia dito algo capaz de diminuir o desconforto entre ambos.

Isso até Adrien trincar os dentes e se levantar rapidamente da cadeira. Ela mal se dera conta do que acontecia quando havia disparado por ela sem dizer uma única palavra.

Ela agarrou seu braço por instinto, arranhando sua pele com as unhas pelo movimento repentino. Adrien virou-se para ela, apenas para ver a expressão de pura súplica estampada em seu rosto. Cassie não sabia ao certo o porquê de estar fazendo isso, apenas não podia deixá-lo ir embora assim.

-Por favor, não vá. Eu... – Sua voz saiu baixa e rouca, estranha para seus próprios ouvidos ao fazer o pedido. – Aquilo foi lindo.

Adrien não moveu um músculo ou emitiu qualquer som, apenas permaneceu parado, encarando-a dividido entre a curiosidade e o espanto. Cassie engoliu em seco, abandonando todo o orgulho para criar forças e dizer:

-Caso não seja um estorvo... – Hesitou ainda incerta do que fazia. – Eu gostaria de poder lhe ouvir cantar de novo.

Em um súbito ato de coragem, ergueu o rosto para encará-lo diretamente e não soube identificar o que ele sentia. Entretanto, teve o vislumbre da euforia mínima que deu aos seus olhos um brilho que Cassie jamais vira antes.

-Certo. – Ele disse.

Adrien retornou para dentro do cômodo e sentou-se de volta na cadeira, assumindo a mesma posição de antes. Cassie ainda estava de pé no mesmo lugar, sentindo-se estúpida pelo o que acabara de pedir. O que deu em mim?! Repetia várias e várias vezes em sua própria mente enquanto ele ajustava as cordas e posicionava os dedos no braço do violão, buscando pelas notas que trariam o tom certo.

-Sente-se. – A voz dele foi suficiente para retirá-la dos seus pensamentos. Indicou um pequeno sofá marrom que havia ao seu lado. – Disse que queria ouvir, não foi?

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