Capítulo 23

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Mais de uma semana já havia se passado e as coisas não retornaram ao normal.

Conforme os dias passavam, Cassie sentia-se cada vez mais atarefada e a única forma que encontrou para tentar dar conta de tudo foi sacrificando umas boas horas de sono todas as noites.

Agora eram duas da tarde de uma sexta-feira e Cassie já possuía mais cafeína que hemoglobinas correndo em suas veias.

Praticamente debruçava-se por sobre o notebook, enquanto esforçava-se para manter os olhos bem abertos ao analisar um caso recente que se acumulava na pilha dos não lidos. O cenho franzido e a cabeça apoiada em uma das mãos ao tentar se concentrar no que fazia apesar da dor de cabeça persistente que lhe acompanhou desde a segunda-feira.

E isso graças à Tess.

Havia começado sua semana com uma mensagem da amiga com um anexo. Era o anúncio de um evento que havia ocorrido no fim de semana passado em uma boate LGBT+ de Nova York. Agradeceu mentalmente ao perceber que Tess não estava lhe chamando para sair, porque depois de passar quase a semana inteira sem ver a luz do sol não havia a menor possibilidade de sair e perder seu valioso tempo.

Ainda enrolada nos lençóis, Cassie estreitou os olhos e afastou o celular para observar melhor o que havia em meio a explosão de cores berrantes que permeavam sua tela. Dessa forma, teve uma visão melhor do que se tratava e, em meio a tantos nomes, leu algo em específico que lhe fez pular da cama no mesmo instante.

O nome Rossetta Gouthier também estava estampado no anúncio.

Então, entre quebrar o celular na parede e perder um tempo precioso, que nem ao menos tinha, discutindo com Tess sobre todas as razões pelas quais ela preferia manter total distância de qualquer coisa relacionada ao filho do seu chefe, Cassie preferiu bloqueá-la e seguir com sua vida.

Mas isso fora quatro dias atrás e ela não conseguiu seguir tão bem quanto gostaria.

De instante em instante pegava-se questionando sobre o que Adrien estaria fazendo nos Estados-Unidos. Por que estava tão perto de casa se nunca quis que o pai soubesse de toda a verdade? Algo havia acontecido? Ele estava bem? Essas perguntas permearam sua mente ao longo dos dias e isso não fez nem um pouco bem para sua enxaqueca.

Mas o pior era saber que sua curiosidade ia mais além. Porque estaria mentindo se dissesse que não gostaria de ter visto essa apresentação ao vivo e a cores. Lembrava bem de quando lhe dissera, na noite que compartilharam no terraço, que nunca havia se apresentado fora de Paris. Então, agora só lhe restava imaginar o que Adrien havia aprontado naquela noite.

E essa era uma das razões que lhe impediam de se concentrar em algo e principalmente em seu trabalho, que já não era tão simples de lidar em condições normais. Tudo isso por causa de Tess, por isso nem se deu ao trabalho de ler as inúmeras mensagens que havia após a imagem. Apenas bloqueou e procurou ignorar a sensação de culpa que lhe deixou um gosto amargo na garganta. Ao menos isso ela conseguiu fazer muito bem já que o tanto de trabalho que ainda precisava fazer lhe distraía de qualquer coisa.

Exceto, claro, por Adrien e a merda da apresentação.

Foi então que se deu por vencida e fechou a tela do notebook com um grunhido abafado. Retirou os óculos e esfregou o espaço entre os olhos, já sentindo-se incapaz de raciocinar e cada vez mais improdutiva com cada minuto passado. Há três semanas atrás já teria concluído a analise do caso e enviado para que o estagiário redigisse a petição. Mas agora, havia perdido duas horas e não passou da terceira página.

Agora, a única coisa que lhe restava era fazer uma pausa.

Seguiu até o corredor do seu andar em direção ao bebedouro para pegar um pouco d'água. Porém, o botijão estava vazio e não havia sinal de alguém com intenção de trocá-lo.

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