Capítulo 7

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No mesmo instante o elevador cria vida e as portas se fecham. Cassie se atira entre elas e quase é esmagada ao tentar sair da cabine às pressas. O movimento brusco lhe fez tropeçar nos saltos e caiu na sala de joelhos. Um grunhido escapa de sua boca e a única coisa que lhe distraiu da dor foi perceber Adrien recuando com um passo vacilante.

O queixo de Cassie caiu mais uma vez ao encarar o rosto carregado de maquiagem a sua frente, cheio de pavor, semelhante a um cervo apanhado pelos faróis de um carro instantes antes do desastre. Ambos estavam petrificados no lugar, sem saber como digerir o que acabara de acontecer.

-Adrien... – Foi a primeira a falar e sua voz não passava de um mero sussurro enquanto se reerguia. – Era você na boate... Não era?

Se ela tivesse socado seu rosto doeria menos.

Ele encolheu-se no lugar, como se apenas o som de sua voz fosse capaz de lhe causar dor física e parecia prestes a vomitar. Seu olhar vacilava ao perscrutar o cômodo inteiro, procurando por alguma fuga enquanto o mundo parecia desabar sob seus pés.

Antes que Cassie pudesse dizer mais uma palavra, Adrien largou tudo no sofá e saiu às pressas para dentro da casa.

-Adrien, espera! – Arrancou os próprios saltos e correu atrás dele. – Eu só quero conversar!

-Não há nada para conversar! – Retrucou sem diminuir o passo.

Foi inusitado ouvir a voz grossa dele enquanto ainda usava o mesmo corset e cinta liga da apresentação. Se não tivesse o visto na própria casa jamais teria notado que seria Adrien.

-Há sim! – Insistiu enquanto caminhava ainda mais rápido para alcançá-lo. – Para um instante e me deixa falar!

Conseguiu chegar perto o suficiente para agarrar seu braço, porém Adrien desvencilhou-se do seu aperto e se virou com um olhar fulminante.

-Não! Não quero ouvir nada de você! – Gritou com uma fúria que fez Cassie recuar. – Já chega dessa mesma conversa!

-O que...? Que conversa? – Murmurou atordoada pela explosão repentina. – Do que está falando?

-Não seja cínica! – Ela a encarou de cima abaixo com os lábios retorcidos de repulsa. – Vocês são todos iguais... Acham que qualquer um fora da sua caixa é um erro que precisam consertar a todo custo, mas eu já estou farto disso. Não vou deixar você continuar a esfregar na minha cara o quanto se acha superior!

Um silêncio opressivo instalou-se na casa ao terminar de gritar. Cassie permanecia muda, incapaz de pensar em algo para responder ou desviar o olhar do seu rosto contorcido de raiva e amargura. Apesar de tudo isso, pôde perceber seus olhos lacrimejando por trás dos longos cílios e ela sentiu seu próprio peito comprimir com aquela visão.

De repente, Adrien suspirou pesadamente e se arrastou para sala de jantar, onde afundou em uma das cadeiras com as mãos apoiadas na testa. Ela apenas observava na soleira, dividida entre ir até ele e reconfortá-lo ou sair daquele lugar enquanto ainda restava tempo de sair do lamaçal de confusões para onde foi tragada. Mas, a essa altura, sentia que não poderia sair disso nem se quisesse.

As palavras de Adrien ecoavam em sua mente e seu estômago pareceu revirar ao refletir sobre seu significado. Tudo se tornava mais claro e o peso de suas palavras parecia finalmente desabar sobre ela ao se dar conta da real situação em que se enfiou. Mais do que nunca precisava consertar isso.

-Adrien...

-Seja lá que porra você tenha para me falar... – Ele a interrompeu. Sequer deu-se o trabalho de lhe encarar. – É melhor nem se dar ao trabalho porque pode ter certeza que já ouvi todo o discurso várias e várias vezes. Você não é a primeira então me poupe.

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