13. time after time

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O nosso dia foi bem calmo. Noah foi para sua casa depois de comermos, e depois voltou para almoçar com a gente. Josh e mamãe cozinharam várias comidas gostosas, enquanto eu, Hina e Noah arrumávamos as coisas na mesa. Mamãe parecia alegre, e eu acabei percebendo que eu passava tanto tempo fora de casa que a gente quase nunca tinha esses momentos tranquilos. Ela contava para Hina diversas histórias de Josh quando criança, e Noah ajudava nos detalhes, fazendo meu irmão corar as bochechas de tanta vergonha. Ele a olhava, se aproximava e dava um beijo na sua bochecha e ela ficava toda tímida. Eu não entendia se eles eram afinal, um casal mesmo, mas tava meio óbvio que os dois se gostam bastante.

Assim que terminamos de comer, mamãe foi para seu quarto dormir, e nós quatro fomos até o quintal do fundo de casa, que dava para a varanda do fundo da casa de Noah. Nos sentamos na grama e ficamos a tarde toda jogando conversa fora. Assim que o sol começou a se pôr, Hina foi embora e Noah foi logo depois, para ajudar seu pai com o jantar. Eu subi para o meu quarto e arrumei toda a bagunça dos colchões da noite anterior. Minutos depois, o telefone tocou e era Krys.

- Como você tá? - ele parecia preocupado.

- Tô bem. Hina e Noah passaram a noite aqui com a gente, e to me sentindo melhor.

- Que bom, Jo. Eu tava planejando passar aí pra te ver, mas meus pais me arrastaram pra um almoço de aniversário e eu cheguei só agora.

- Não se preocupe, Krys.

- Bom, assim que aquilo aconteceu e vocês foram embora, as meninas falaram algumas coisas pra ele.

- Quem?

- Di e Any. Elas não acharam legal, sabe, e comentaram que aquilo foi bem desnecessário. A Sina e Heyoon tentaram amenizar a situação, falando que era só uma brincadeira e tal, mas no final acho que até elas ficaram preocupadas com você. O Lamar disse que "ficar com você era motivo de comemorar", e a Diarra deu um esporro nele. - Krys ria um pouco. - Ela falou que comemorar era diferente de expor e humilhar dessa maneira, ainda mais que a maioria ali não te conhece tão bem e não sabe o que é melhor pra você.

- Nossa... - eu fiquei feliz de saber que Diarra e Any me defenderam dessa forma.

- Sim. Antes de sairmos eu tentei conversar com a Sina, porque ela é bem próxima dele. Ela me pediu pra perguntar como você tava, porque aquilo acabou deixando um climão no grupo.

- Uhum.

- Mas enfim, Jo. Eu to com você nessa. Nós todos estamos. Se você quiser tacar papel higiênico na casa do Lamar, nós faremos isso com prazer, tá bom? Se você não quiser fazer nada e simplesmente ignorar ele pro resto da vida, a gente te ajuda a tirar ele do seu caminho. - ele me fazia rir.

- Krys. Obrigada.

- Claro. Eu te amo, garota.

- Também te amo.

- Minha mãe tá me chamando. Amanhã a gente se fala. Fica bem, Jo.

Ele me acalmou mais um pouco. Desliguei o telefone e me deitei na cama, tentando imaginar como tudo aquilo poderia ter sido diferente. Eu tava gostando de ficar perto do Lamar, ele me fazia rir, ele parecia gostar da minha companhia, e ele foi praticamente o primeiro garoto a demonstrar interesse em mim tão diretamente assim. E isso mexeu comigo de certa forma. O nosso beijo foi ótimo, mas infelizmente a única memória que eu tinha dele foi estragada com todas aquelas risadas e humilhação. Talvez conversar com ele sobre tudo poderia deixar as coisas mais leves e tirar um pouco essa tensão entre nosso grupo, mas eu não me sentia pronta pra isso ainda, e nem sei o que falaria.

Me levantei e fui terminar de arrumar o quarto. Organizei algumas coisas no meu guarda-roupa e assim que peguei minha mochila do chão, um envelope caiu do bolso de fora. Era um envelope roxo, que eu demorei alguns segundos pra identificar como o envelope que Noah havia me dado ontem cedo, com uma 8-track pra mim. Meu coração acelerou um pouco e um sorriso invadia meu rosto. Abri o envelope, coloquei a fita no tocador e respirei fundo antes de dar play. A primeira música era a nossa música do baile, Your Love, do The Outfield. Todas as vezes que eu a escutava, eu viajava de volta pra aquela noite, e me lembrava do tanto que foi incrível.

Fechei a porta do quarto e me deitei no carpete, encarando o teto e ouvindo todas as músicas. Cada uma parecia ter um significado diferente, e todas elas me traziam um sentimento quentinho aqui dentro. Time After Time, da Cyndi Lauper tocava e a letra parecia se encaixar totalmente com tudo o que eu sentia no momento e com tudo o que eu sentia por Noah. "Se você tiver perdido você pode procurar e vai me encontrar, tempo após tempo. Se você cair, eu vou te segurar e você vai me encontrar, tempo após tempo". Era isso.

Muitas outras músicas que eu não conhecia me encantaram muito, e outras que eu já gostava me fizeram amar ainda mais. Bryan Adams, Simple Minds e U2 dominavam aquela playlist. Eu consegui fechar os olhos e respirar tranquilamente no chão do meu quarto, sentindo em cada respiração que eu nunca ficaria sozinha porque tinha pessoas incríveis ao meu lado, sempre. Noah seria sempre uma delas, e o que mais me surpreendia era como ele conseguia através do silêncio, através de uma playlist ou através de tocar sua mão na minha, entender o que eu sentia e transmitir a segurança que eu precisava.

Horas depois, acordei no chão do quarto com o céu escuro do lado de fora da janela e o toca fitas em silêncio. Eu acabei cochilando e já havia anoitecido. Comi alguma coisa, tomei um banho quente e fui dormir bem cedo, sentindo todo o cansaço, preocupação e medo indo embora a cada segundo que passava. Independente do que acontecesse comigo, com Lamar ou com o grupo, eu tava começando a perceber que o mais importante era o meu bem-estar, algo que eu nunca havia prestado tanta atenção antes.

Best for Last | NoalinOnde histórias criam vida. Descubra agora