23. true colors

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Cada minuto do dia era uma tortura. Eu passava toda parte do tempo me perguntando mil coisas, e a voz de Noah ainda ecoava no fundo da minha mente sem parar. Era como se tudo que eu fizesse me remetesse à algum sentimento que eu sentia antes, mas não compreendia. O meu coração ainda tava apertado, mas após as palavras de Noah eu senti como se muitas coisas tivessem agora uma explicação. Era estranho imaginar que nós dois, há alguns meses atrás, éramos apenas vizinhos, e eu era a irmã do seu melhor amigo. Ter um carinho especial por Noah era inevitável, mas eu entedia agora que tudo isso era muito maior do que eu imaginava.

Isso era injusto com Bailey, e eu só percebia agora. Nada disso anula a proximidade que eu e Bailey desenvolvemos em pouco tempo, e também não anula a vontade que eu tinha de tê-lo por perto grande parte do dia. Mas parecia que todas as coisas que senti, todas as palavras que eu disse e todo o carinho que eu expressei fossem destinados à outra pessoa. E eu me sentia muito mal por isso.

Esses pensamentos me atormentaram o dia todo, especialmente durante a aula de dança, e especialmente quando encontrei com Sabina e Krys na academia. Eu não tava me sentindo muito bem, então assim que a aula terminou, voltei pra casa. Krys veio comigo, e eu passei longas horas explicando pra ele toda a situação. Eu precisava dividir isso com alguém, e não pensaria em outra pessoa a não ser meu melhor amigo. Nossa conversa foi interrompida algumas vezes quando mamãe nos chamou pra jantar e quando Sina me ligou para combinarmos uma despedida surpresa para Bailey e Sabina no dia seguinte. Por um breve segundo, passou pela minha cabeça que talvez assim que Bailey fosse embora, toda essa confusão e aflição iriam também, e isso me fez sentir mais culpada ainda.

Krys amenizou bastante o meu desespero. Assim que eu contava o que havia acontecido, pequena parte do meu sofrimento saía junto com as palavras. Ele me deu o conforto que eu precisava, e no dia seguinte eu acordei até um pouco mais leve. Pensar em tudo isso fez um bem danado, e eu precisava agora tentar deixar o tempo passar e as coisas seguirem o caminho que deviam.

Assim como combinado com Sina, logo após minha aula eu fui até o supermercado do centro para comprarmos comidas e planejarmos a surpresa de domingo. Sina e Heyoon tavam paradas ao lado dos carrinhos, segurando um papel na mão e parecendo um pouco preocupadas. O sorriso que elas deram ao me verem entrando me deu um pouquinho do ânimo que eu precisava.

- Joalin! A voz da razão. Você chegou pra nos salvar. - Sina me abraçava.

- O que foi?

- Bom... A gente tava pensando em fazer um bolo, certo? Vamos fazer metade morango e metade chocolate, porque cada um dos dois gosta de um sabor... O que além de bolo você acha legal? - ela dizia toda concentrada, olhando pro papel e para mim.

- Hmmm... Panquecas? Ou cupcakes? - eu sugeri no mesmo segundo em que Lamar se aproximou de nós. Ele surgiu todo sorridente, segurando uma embalagem enorme de chocolate em pó.

- Eu achei!!!! - ele comemorava, jogando a caixa no carrinho. Assim que me viu, ele pareceu se sensibilizar um pouco, procurando ser cuidadoso comigo. - Joalin! Você veio!

- Sim. - eu sorri.

- Bom, ok. Eu gostei das suas ideias, Jo. Então pode ser bolo, panquecas e cupcakes? A gente pode pegar ingredientes diferentes e fazer panquecas doces e salgadas, ne? - Heyoon dizia toda pensativa.

- Boa!!! - nós todos concordamos e começamos as compras. Sina e Heyoon iam na frente segurando o carrinho e anotando as coisas no papel, e eu e Lamar fomos encontrando coisas no meio do caminho que poderiam ser úteis. Apesar de todo o turbilhão de coisas que eu sentia por causa de Noah e Bailey, eu tava mais que aliviada ao perceber que Lamar era agora a última das minhas preocupações. Eu finalmente não sentia nada negativo a seu respeito mais, e muito pelo contrário, sua presença parecia ser tão divertida como era antes.

- Como tão as aulas? - ele me perguntou enquanto a gente seguia Sina e Heyoon. Eu o lancei um olhar com um pouco de dúvida, e ele deu um sorriso. - O Bailey me contou... Era pra ser um segredo? Me desculpa. Ele disse que você tava bem animada.

- Não, não é segredo. - eu ri. - Eu adoro dar as aulas. As crianças são bem legais, e elas se divertem bastante.

- Você vai continuar? Ou é só pelo período das férias?

- É só pelas férias. Eu vou sentir saudade delas... Mas tenho que me formar primeiro, né?

- Claro. Dá pra imaginar que a gente tá terminando o ensino médio? - ele demonstrava um pouco de medo.

- Nossa, nem me fala.

- Eu to preocupado. Com a vida, com o futuro, com tudo. Dá um desespero pensar nisso.

- Sim! Mas a gente ainda tem um tempinho sobrando antes de desesperar tanto. 

- É verdade. - ele sorria, e parte de mim se sentia bem em conseguir conversar com ele desse jeito tão normal e amigável. Não era como se nada daquilo tivesse acontecido, mas era como se tudo o que eu precisava pra perdoá-lo fosse um pouco de tempo. Eu me sentia bem ao lado de Lamar novamente.

Alguns longos minutos depois de grandes análises de preços e do que fazer na despedida, nós terminamos as compras. Sina passou tudo no cartão dos seus pais, e antes de eu me preocupar, eu imaginei que aquilo fosse normal pra ela. Nós levamos tudo pro seu carro, e no caminho de casa combinamos como seria a despedida no domingo, que aconteceria na casa de Sina. Tudo já tava comprado e planejado, e só quando cheguei em casa a ficha caiu que em dois dias eu me despediria de Bailey e Sabina, que se tornaram grandes amigos meus em tão pouco tempo. Talvez eu ainda não tava preparada. 

Best for Last | NoalinOnde histórias criam vida. Descubra agora