20. a kind of magic

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A cada avião que passava por cima da nossa cabeça, a gente dava vários gritos e aplausos pro ar, brindando os nossos refrigerantes. O céu que antes tava todo colorido do pôr-do-sol agora era inundado de estrelas, como eu nunca havia visto antes por estarmos tão longe da cidade. Quanto mais anoitecia, mais frio o vento que batia por nós se tornava, e Bailey se aproximava discretamente um pouquinho mais a cada segundo, agora sem a cesta no meio de nós dois. Nossos cotovelos já se tocavam a esse ponto, e a gente olhava pro céu enquanto comia chocolate.

- Minha irmã tá esperando a resposta do programa de uma escola de dança em Nova York. - ele cortou o silêncio frio. - Se ela conseguir, nós vamos nos mudar em poucas semanas.

Ele falou em um golpe. Eu não disse nada, esperando que ele cortasse o nervosismo. O quê isso então significava? Que antes mesmo de começarmos qualquer coisa, já havia acabado? Que se eles se mudassem, a gente nunca mais se veria de novo? Que eu me despediria de Sabina e Bailey muito em breve?

- Me desculpa por falar isso de uma vez. Mas é uma coisa que a Sabi tá esperando por tanto tempo, sabe? Eu quero muito que ela consiga, ela só fala nisso o tempo todo. Ela queria te contar há alguns dias, mas a gente não quer comemorar antes da hora.

- Ok.

- E eu não queria ser injusto com você. Porque a gente tá se aproximando a cada dia que passa, Joalin. Eu tenho medo de sei lá... Te magoar. - ele soava tão sincero. A gente se olhava, ouvindo as turbinas dos aviões a todo vapor no fundo.

- Você terminaria o ensino médio lá?

- Sim. Minha mãe tá pesquisando alguma escola que eu poderia entrar no meio do ano letivo. Essa é a parte complicada, na verdade, porque eu não duvido que minha irmã vai conseguir esse programa.

- Ok. - eu tentava formular qualquer frase pra dizer o que tava sentindo, mas eu não conseguia entender o que passava pela minha cabeça.

- Eu não queria te assustar. Não to conseguindo ler o que você tá pensando.

- Eu não sei o que to pensando.

- Eu acho que a gente tem duas opções. - ele me olhava tão fixamente, e apesar de estarmos no escuro da noite, eu conseguia ver todo o brilho intenso nos seu olhos, que me faziam tremer suavemente. - Ou a gente esquece de tudo isso aqui e se afasta, de um jeito que vai ficar fácil de nos despedirmos. Ou a gente tira o máximo proveito dessas últimas semanas. E eu acho que você sabe qual escolha eu faria.

- Bailey... - era difícil raciocinar. Nunca imaginei que isso aconteceria, e nem sei o que isso significava. Não era como se nós fôssemos as pessoas mais próximas do mundo, mas nesses últimos dias eu me aproximei de Bailey com a maior facilidade do mundo, porque algo nele me despertava tanta coisa boa. Eu amava ficar ao seu lado, e alguma coisa dentro de mim só dizia para eu mergulhar de cabeça logo.

No mesmo instante em que um avião surgiu na pista e decolou sobre nós, eu me aproximei de Bailey sem dizer nada, apenas me inclinei sobre seu corpo deitado e o abracei, lhe dando um beijo. Sua resposta foi rápida, e eu senti que a gente já tinha se conectado há muito tempo atrás. Ele me beijava com muita calma, o que era irônico considerando o pouco tempo restante que tínhamos juntos. Talvez em algumas semanas a gente nunca mais se veria, mas eu não encontrava razões pra não aproveitar esses instantes que ainda tínhamos juntos. Seu braços me envolviam, sua pele quente me esquentava e o seu beijo fazia o meu coração acelerar. 

Ele agora me olhava fixamente, colocando meu cabelo atrás da orelha e rindo.

- Segunda opção, então? - ele disse.

- Uhum.

Apesar do vento estar cada vez mais forte, eu não sentia mais frio, porque ele me abraçava bem forte como se eu fosse escapar a qualquer segundo. O som do seu carro tocava She's Like The Wind, e eu sorria sem nem perceber. Uma parte de mim dizia que eu tava me entregando rápido demais, e que isso poderia acabar mal. Outra parte dizia que eu devia, de uma vez por todas, parar de pensar demais e analisar cada situação tão milimetricamente. Isso significava sair de uma zona de conforto que sempre me rodeou. Era estranho porque eu havia me aproximado de Bailey há pouco tempo, mas sentia como se a gente se conhecesse há vários anos. Seu abraço me confortava, seu calor me aquecia, e o céu derramava sobre a gente toda a luz das estrelas como nunca antes.

Nós ficamos mais algumas horas ali, conversando sobre milhares de coisas. Eu descobri tanto sobre Bailey, coisas que eu nem imaginava, e que me fizeram criar um carinho enorme por ele e por sua família. E mesmo sabendo que as chances de nos despedirmos em menos de um mês eram praticamente certas, eu não desejava que desse errado. Muito pelo contrário, toda célula em meu corpo torcia por Sabina, porque eu sabia que ela tinha tanta coisa pra mostrar pro mundo. Mas não posso negar que encontrei grande conforto no abraço de Bailey, eu só desejava que isso tivesse acontecido um pouquinho antes.

Best for Last | NoalinOnde histórias criam vida. Descubra agora