19. jessie's girl

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Eu já havia me acostumado com a rotina de ser professora de dança. Sabina me buscava todos os dias, a gente ria bastante pelo caminho inteiro, e chegando lá cada uma ia pra sua sala dar aula. Krys assistia minha aula todos os dias, e ele já era bem conhecido por todas as crianças. Bailey surgia de vez em quando assim que as aulas acabavam, e nós todos íamos até a lanchonete comer alguma coisa. Eu chegava em casa muito cansada, apenas pensando em preparar a aula do dia seguinte, e isso consequentemente me fazia ver meu irmão, Hina e Noah com menos frequência. Os três tavam até jogando basquete com o grupo de novo, e eu confesso que sentia saudade dos nossos times não-tão-rivais-assim.

Noah surgia no fim da noite, quando eu já tava me preparando pra dormir. Ele acenava da sua janela e me contava a música que havia descoberto naquele dia, a gente trocava alguns gestos e ia dormir. Eu sentia sua falta. Até demais.

Numa quinta-feira eu e Bailey combinamos o nosso "encontro". Era estranho pensar que aquilo seria efetivamente um encontro, porque eu não sabia nem o que fazer numa situação dessas. Bailey era uma ótima companhia, ele era engraçado e muito inteligente, e me fazia rir a todo momento junto com sua irmã. Além disso, eu não entendia como, mas sempre que qualquer centímetro do nosso corpo se encostava, eu sentia um leve arrepio, ou até mesmo um choque. Eu me sentia apreensiva em ir a um encontro com alguém, mas quando eu o encarava todo suado no chão da minha sala após dançar junto comigo, com Krys e com as crianças, eu não tinha dúvidas de que me divertiria com ele.

Na sexta-feira ao fim da tarde, eu fiquei pronta assim que mamãe chegou do trabalho. Contei pra ela o que tava acontecendo, e ela não demonstrou todo o entusiasmo que eu esperava. Assim que desci as escadas, ouvi algumas vozes do lado de fora de casa, e quando abri a porta encontrei Josh, Hina e Noah sentados na ponta da calçada. Me aproximei deles e dei um abraço nas costas de Hina, afogando meu rosto no seu ombro.

- Onde você tá indo? - ela perguntou enquanto ria.

- Ela tem um encontro. Com o Bailey. - meu irmão dizia não tão impressionado.

- O QUÊ? VOCÊ NÃO ME CONTOU NADA DISSO. - ela levantou espantada, correndo atrás de mim e segurando meus braços. Expliquei pra ela a parte mais resumida da história, e prometi que a gente faria uma noite do pijama pra eu contar como seria o encontro de hoje. Hina ria bastante enquanto meu irmão analisava Noah, que ciscava o asfalto com um graveto. Eles pareciam querer dizer alguma coisa.

- Eu to tentando fazer uma playlist pra você. - eu disse indo até o meio da rua, ficando na frente de Noah. - Tá difícil não colocar nenhuma repetida ou nenhuma que você não conhece, mas eu vou conseguir.

Ele deu um sorriso pequeno, me olhando de baixo.

- Você tá linda, Joalin. - ele disse com todas as palavras. Meu coração acelerou um pouco, eu arrepiei, e antes mesmo de dizer alguma coisa, ouvi um barulho de carro ficando cada vez mais próximo. Em poucos segundos, o carro com que Sabina me buscava todos dias surgiu e estacionou a poucos centímetros de nós. Bailey atrás do volante buzinava algumas vezes. Ele sorria, usando um óculos escuros, jaqueta de couro e o cabelo bem ajeitado. Eu sentia agora borboletas no estômago.

Bailey deu oi pros três, e assim que entrei no carro, meu irmão se aproximou da sua janela, apoiando os braços no parapeito.

- Eu tenho um taco de baseball, Bailey. - Josh tentava parecer bravo, mas as risadas de Hina e Noah ao fundo faziam daquilo uma cena cômica. - É sério.

- Certo. - Bailey acenava com a cabeça.

- Se divirtam. - meu irmão sorria pra mim. - Mas não tanto. Até mais.

- Até. - nós nos despedimos, Bailey arrancou o carro e sumimos de vista. Assim que um pequeno silêncio surgiu, consegui prestar atenção no som, que tocava Jessie's Girl, do Rick Springfield. A letra dessa música estranhamente me fazia pensar em Bailey e Noah, ao mesmo tempo. Isso me deixava confusa, porque nesse momento eu não queria analisar nenhuma situação, ou ponderar o que era melhor e o que eu não devia fazer. Bailey tava do meu lado com sua jaqueta de couro e Rayban, como se a gente tivesse em Top Gun, e eu não queria pensar em mais nada, apenas aproveitar essa noite junto com ele.

- Sabe os planos que fizemos ontem? - ele dizia sorrindo com a luz do pôr-do-sol iluminando o canto do seu rosto. - Então, vai ser um pouco diferente.

- Por quê?

- Você confia em mim, né?

- Talvez. - eu disse sorrindo. Ele continuou dirigindo enquanto a gente cantava algumas músicas que surgiam, a maioria do Queen e do Tears For Fears. Era impossível não admirar o seu gosto musical também.

Alguns minutos depois, percebi que nos aproximamos do aeroporto, que ficava bem afastado do centro. Apesar de morarmos em uma das menores cidades do estado, o aeroporto daqui era bastante movimentado de aviões de pequeno porte, a maioria deles para pequenos passeios pela área que circulava a nossa região. Eu não entendia a razão de estarmos ali, mas decidi simplesmente confiar em Bailey e deixar acontecer. Ele estacionou o carro num campo que ficava bem atrás da cerca que delimitava o aeroporto, na direção em que todos os aviões faziam sua decolagem. Assim que desligou o carro, a música continuou tocando, e Bailey foi até o banco de trás, pegando uma cesta enorme, uma coberta azul e dois travesseiros.

- Essa ideia parecia mais divertida.

Ele sorria bastante, parecendo bem empolgado com isso. Eu saí do carro e encarei o pôr-do-sol logo na nossa frente. Bailey, segurando a cesta e a coberta, se sentou em cima do capô do carro, posicionando os travesseiros no pára-brisa, e me esperando. Seu olhar me convidava pra subir também, então com um pequeno esforço, me sentei ao lado dele. Ele pegou a coberta e nos cobriu da cintura pra baixo, colocando a cesta no meio de nós dois. Dentro dela tinham alguns sanduíches, chocolate, banana, salgadinhos e refrigerante. Ele parecia muito orgulhoso com tudo aquilo, e eu só percebi agora que eu não conseguia parar de sorrir.

- Então, o que acha? - ele me olhava.

- Eu to... Impressionada. - eu ria.

- Bom, ouvi falar que o fluxo de aviões na sexta-feira é o maior de todos. A gente tem algumas horas pra analisar a aerodinâmica deles. - ele ria também.

Não sei se era o vento frio que batia contra a gente, ou a luz do pôr-do-sol refletida nos seus olhos, mas eu me arrepiava dos pés à cabeça. Bailey era encantador.

Best for Last | NoalinOnde histórias criam vida. Descubra agora