21. heaven

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Os dias com Bailey ficavam cada dia mais divertidos. Assim que a minha aula acabava, nós saíamos pra comer com Krys e Sabina e passávamos o restante do dia juntos. Nos fins de semana também inventávamos alguma coisa pra fazer, a gente só queria passar aquele tempo ao lado um do outro. Fomos ao cinema assistir De Volta Pro Futuro 2, fazíamos piqueniques no campo atrás do aeroporto, e fomos também num ringue de patinação de salão. Bailey me fazia sentir como se as horas voassem, mas ao mesmo tempo era como se cada segundo ao lado dele fosse equivalente a uma eternidade. Ele me fazia rir todo tempo, e também compartilhava comigo o seu medo de mudar pra uma cidade grande e não conseguir se encaixar. As nossas noites geralmente terminavam no sofá da minha casa ou da sua, e eu já tava acostumada a passar tempo com sua família. Eu, ele e Sabina assistíamos diversos filmes na TV e eles me deixavam em casa quando já tava muito tarde, o que era reconfortante e divertido. Nós três também cozinhamos várias coisas com a minha mãe, que também já tava acostumada com a presença deles em casa. A gente fazia alguns jantares com Hina e meu irmão, que à essa altura já tavam mais que assumidos como um casal. Noah aparecia em algumas noites, um pouco mais calado do que costumava ser, e a gente não tava se vendo tanto nessas férias como eu desejava. Ele saiu de viagem pra casa dos seus avós, contando que voltaria só no retorno das aulas.

No dia em que Sabina recebeu a ligação de resposta da escola, nós três estávamos jantando com seus pais, numa quarta-feira à noite. Antes de desligar o telefone ela já chorava, e assim que o colocou no gancho começou a gritar e pular enquanto a gente se levantou pra abraçá-la e comemorar junto. Eu já sabia que aquilo aconteceria, mas algo em mim ainda não queria acreditar que em poucos dias eu não os veria novamente.

Depois dessa ligação, os meus dias com Bailey ficaram um pouco mais silenciosos. A gente conversava e ria como antes, mas era como se a todo momento uma voz entre a gente nos relembrava que aquilo acabaria logo logo. Faltava menos de uma semana para o fim das férias e para eles irem embora, e eu e Bailey estávamos no meu quarto enquanto eu preparava a aula do dia seguinte. Era fim de tarde, mamãe ainda não tinha chegado e Josh tava num aniversário com Hina. A janela de Noah pela primeira vez em muito tempo tava totalmente fechada, e sua casa, totalmente silenciosa. Eu sentia sua falta, mesmo que fosse uma viagem de poucos dias.

- Você fazia aulas de dança, Jo? - Bailey disse me olhando pelo reflexo do espelho. Ele tava deitado no carpete, com a cabeça apoiada em um braço, folheando uma revista sobre filmes dos anos 70.

- Não. Sempre quis fazer, mas mamãe não conseguia pagar. Eu aprendi com videoclipes, filmes... Praticamente sozinha.

- Uau. - ele sorria. - Já te falei que você dança muito bem?

- Na verdade, não. - eu dei uma risada, me virando e o encarando.

- Bom, você é uma ótima dançarina. - ele fechou a revista jogando ela pra trás e eu me aproximei, me ajoelhando ao seu lado.

- Poucas coisas no mundo me dão sensações tão boas que nem as que eu sinto quando danço. - eu sussurrei, nossos rostos a poucos centímetros de distância.

- Ah é?

- Uhum.

- Quais são as outras coisas?

- Hmm, chocolate. - ele riu. - Roger Taylor tocando bateria.

- Ok.

- E turbinas de avião.

- Turbinas de avião? - ele disse espantado e rindo ao mesmo tempo. Antes de dizer qualquer coisa, eu o beijei, sentindo um enorme arrepio no canto do corpo. Bailey se ergueu se sentando no carpete, e eu me sentei em seu colo, abraçando o seu pescoço enquanto ele passeava a mão nas minhas costas e pela costura da minha calça jeans.

Heaven, do Bryan Adams tocava ao fundo, e eu sentia como se a gente tivesse num filme adolescente romântico. Nosso beijo ficava a cada vez melhor, porque parecia que a gente se conhecia tão bem que ele conseguia identificar direitinho o que eu precisava. Seu toque era tão calmo e preciso, e o seu cheiro já era tão familiar pra mim que me transmita muita segurança. Suas mãos aqueciam as minhas costas por debaixo da minha blusa, e eu sentia eletricidade por cada centímetro do meu corpo. Eu caminhava minhas mãos pelo seu rosto e seu cabelo, que pareciam a cada dia mais macios. Eu com certeza sentiria falta disso, dessa segurança que ele me transmitia. A gente não tinha urgência, a gente não tinha medo um do outro. Eu não me sentia preocupada em o que fazer a seguir ou o que dizer, porque ele conseguia me entender muito bem. Ele compreendia minhas limitações e as minhas inseguranças. Bailey me fazia sentir muito à vontade.

- Eu vou sentir sua falta. - ele interrompeu nosso beijo, olhando nos meus olhos.

- Bailey... - eu acariciava o seu rosto, tentando memorizar cada detalhe que eu não veria mais.

- Isso não é justo.

- Eu sei. - ele parecia chateado. A gente conversava sobre isso praticamente todos os dias, mas tocar nesse assunto era como cuidar de uma ferida inflamada. Doía e ardia, mas era inevitável. - Você já sabe a primeira coisa que quer fazer em Nova York? - eu tentei mudar o foco da conversa.

- Visitar o Empire State Building. - ele sorriu.

- Deve ser maravilhoso.

- Sim. Queria poder dividir tudo isso com você. 

- Telefones existem, sabia?

- Eu sei. - ele me olhava incessantemente, ficando agora sério. - Joalin, obrigado por esse últimos dias.

- Ei, nós não estamos nos despedindo ainda.

- Eu sei. Só queria que você soubesse disso.

- Ok. - ele deu um beijo na ponta do meu nariz. Nós ficamos mais um tempo nos abraçando até que em um reflexo meu coração acelerou. Eu me levantei em um pulo ao ouvir um ruído vindo da casa de Noah. Assim que coloquei meu rosto na janela consegui ver o carro do pai de Noah se aproximando e entrando na sua garagem. O motor desligou e as portas se fecharam, e eu consegui ouvir de longe o tom da sua voz, que era inconfundível. Ele havia voltado mais cedo da sua viagem.

Best for Last | NoalinOnde histórias criam vida. Descubra agora