12. every rose has its thorn

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Assim que nos aproximamos da nossa rua, eu conseguia sentir um pequeno alívio no meu peito. Já havíamos acostumado com o vento frio e a leve neblina que nos assolavam por cada quarteirão, por andarmos um pouco rápido e por estarmos todos tão juntinhos. Chegamos na porta de casa e Josh se virou para Hina, que se encolhia por trás dele.

- Eu tenho uma ideia. Noah, você dorme aqui com a gente hoje. - ele disse todo animado. Noah ainda não havia falado nada, e eu estava começando a me preocupar. Nós quatro entramos pela porta, que era um tanto barulhenta. Assim que a fechamos, encontramos mamãe deitada no sofá embaixo de cobertas, com a televisão ainda ligada no volume baixo. Josh se aproximou dela e disse alguma coisa que a fez acordar, ela resmungou algumas palavras e voltou a dormir. Nós subimos as escadas e fomos até meu quarto.

- Pera aí. - Josh sussurrou, puxando Noah e desaparecendo por alguns segundos. Eu e Hina nos entreolhamos e demos uma risada. Um minuto depois os dois surgiram na porta, carregando dois colchões. Às vezes eu me esquecia que meu irmão tinha uma beliche, até porque ele vivia com sua porta fechada. Eles jogaram os colchões no chão do meu quarto e nos olharam. Eu e Hina não falamos nada, e eu só conseguia sorrir. - Por quê não fazemos uma madrugada do pijama?

- Como funciona isso? - Hina perguntou rindo.

- Basicamente a gente deita e dorme. - ele respondeu todo animado com a ideia. Noah deu um pequeno sorriso e eu fiquei um pouco mais tranquila. Aquilo era a coisa mais fofa que meu irmão já tinha feito por mim. Ele provavelmente tava preocupado com como eu tava me sentindo, e só por ter os três dormindo perto de mim nessa noite já me tranquilizava bastante. Eu e Hina dormiríamos juntas na minha cama (que milagrosamente era de casal) e os dois dormiriam nos colchões. Josh foi até um armário no corredor e voltou com lençóis, travesseiros e colchas. Eu peguei dois pijamas e fui com Hina até o banheiro para nos trocarmos. Assim que voltamos, Noah e Josh já estavam deitados lado a lado, sussurrando sobre um assunto qualquer.

Hina se deitou e eu estava em pé ao lado do interruptor, pronta pra apagar a luz. Noah me olhava, e eu tentava a todo custo, mas não conseguia ler muito bem o que ele tava pensando. Eu apaguei a luz e fui correndo até minha cama. Deitei ao lado de Hina e finalmente me senti segura. Ela deu um beijo suave na minha bochecha, afundando seu rosto no meu ombro e dizendo boa noite.

- Brigada por isso. - eu disse para os três, com toda a minha sinceridade. Eu não imaginava que era assim que minha noite acabaria, desse jeito tão carinhoso. Tentei fechar os olhos e dormir, e logo veio tudo de volta. As cenas se repetiam na minha cabeça como um turbilhão de flashes, as risadas ecoavam por todo lugar, e eu tentava pensar em qualquer outra coisa. Foquei em Hina, que respirava do meu lado e tinha uma presença tão doce, que conseguia me acalmar só de estar ali. Foquei no meu irmão, que sempre esteve ao meu lado me protegendo de alguma forma, mesmo que ele não demonstrasse tanto. Foquei em Noah, que há poucos minutos caminhava comigo segurando a minha mão, transmitindo pra mim a segurança de estar na companhia de alguém que nunca, em hipótese alguma, me machucaria da forma que aconteceu comigo hoje.

Eu estava bem. Eu estava segura.

Poucas horas depois, acordei sentindo a luz do sol bater no chão do quarto e ouvindo barulhos do corredor. Olhei ao meu lado e Hina dormia profundamente, a cabeça quase afundada embaixo do travesseiro. Me levantei devagar e vi Josh todo jogado no colchão como ele sempre dormia: o travesseiro bem longe, a coberta toda embolada e metade do corpo no chão. O colchão de Noah tava vazio, e logo imaginei que ele já teria ido embora. Isso me fez preocupar com o que tava acontecendo e no que ele tava pensando. Assim que saí do quarto, ouvi alguns barulhos vindos da cozinha. Provavelmente mamãe tava comendo. Desci as escadas na ponta dos pés e assim que me aproximei, os dois me olharam. Noah e mamãe tavam sentados na mesa tomando café-da-manhã, e eu certamente interrompi suas risadas. Ele comia cereal, e mamãe comia salada de frutas.

- Bom dia, Jo. - ela disse toda sorridente, puxando uma cadeira para eu me sentar. - Tudo bem?

- Sim... - Noah sorria pra mim. Assim que me sentei, os dois me olharam por alguns segundos até eu começar me servir.

- Noah fez panquecas. Que são, por sinal, muitos boas. - ela se levantou. - Eu vou fazer uma caminhada. Noah, por favor, venha aqui todo dia fazer essas panquecas! E Joalin, mais tarde eu converso com você e seu irmão.

- Sobre o quê?

- Talvez sobre ficar fora de casa por quase 24 horas sem me avisar? - ela disse um pouco séria. Em segundos já tava saindo pela porta e desaparecendo de vista. Percebi que agora Noah me encarava, ainda em silêncio.

- Por favor, fala alguma coisa. - eu disse.

- Joalin... - sua voz era calma

- Você ficou bravo comigo ontem? É isso né? Foi um erro aquela brincadeira toda, eu devia ter ido embora antes de tudo... Mas eu não sabia o que fazer, eu achava que ele gostava de mim. Eu achava que eu gostava dele...

- Joalin. - sua mão encontrou com a minha em cima da mesa. - Eu não to bravo com você, claro que não.

- Então o que é?

- Eu não sei. - ele parecia sincero. - Eu acho que fiquei chateado com a situação toda. Eu odiei o que ele fez com você, aquilo foi muito desnecessário. Te expor daquele jeito, sabe? Fazer aquelas piadas, rir daquela forma. Foi muito errado. É com ele que eu to bravo.

- Ok...

- Você não teve culpa de nada, tá bom?

- Ok.

- Eu espero que você fique bem. - ele deu um leve e reconfortante sorriso, e eu respirei bem aliviada. Ele conseguia me acalmar tão fácil que me assustava.

Best for Last | NoalinOnde histórias criam vida. Descubra agora