Transtornado após deixar o escritório do pai, Matheus passou algumas horas dirigindo por ruas e bairros que sequer conhecia.
No centro da cidade, havia uma praça na qual alguns aparelhos para exercícios estavam disponíveis para quem quisesse suar um pouco a camisa. Havia também uma fonte razoávelmente grande, onde, durante a noite, luzes se acendiam e davam um charme a mais para o lugar que era cercado por um gramado bem baixinho; um ótimo local para as almas românticas se encontrarem e passarem alguns momentos em perfeita tranquilidade.
Como ainda eram cinco e meia da tarde, a praça estava vazia. Havia alguns bancos de concreto aos arredores, e foi em um deles que Matheus se sentou, aproveitando a pouca sombra que uma árvore projetava.
Passou alguns minutos olhando para o céu, que exibia um tom límpido de azul, ainda que algumas nuvens pudessem ser vistas aqui ou ali.
Ignorando o caos que acontecia à sua volta — pessoas andando de um lado para o outro, correndo de uma loja para a outra, e os rugidos dos motores de carros e motos que passavam a todo instante —, tentou não pensar na bagunça que estava sua própria vida.
Não estava com raiva de seu pai. Não mais. Conhecia Gael bem o bastante para saber que ele agiria com ele com pulso firme. Sabia que não fazia aquilo para seu mal, só queria que ele tivesse alguma reação com relação àquele assunto. Se o filho realmente fosse dele, o pai jamais permitiria que ele abrisse mão de seus deveres.
Admirava o pai que tinha. Sentia orgulho de ser filho dele. Gael era seu grande exemplo, embora as diferenças entre eles fossem notáveis. Não conseguia sentir raiva. Embora tenha se exaltado naquele momento em que estava sendo pressionado, ali, após esfriar a cabeça e refletir, não conseguia sequer se sentir decepcionado. Na verdade, estava arrependido pela forma como falara com ele no escritório. Sempre foram amigos. Gael sempre esteve aberto a ouvir qualquer que fosse o desabafo que ele quisesse fazer, e o aconselhava com tranquilidade e amor, e se dar conta da forma como havia gritado com o pai, fez a culpa pesar em seus ombros.
Com relação ao bebê, não sabia ainda como se sentia. Sua única emoção era o medo. Medo da responsabilidade de ser pai aos dezenove anos, principalmente tendo como base um homem excepcional como seu próprio pai. E se não fosse capaz? E se não conseguisse ser tão bom quanto Gael era para ele e sua irmã?
Já, com relação à Laís, uma raiva sem tamanho crescia mais a cada instante. Jamais imaginou tamanha traição vinda dela. Ele, que sempre lhe estendeu a mão, foi o mais gentil que podia ser quando se encontravam, e ela teve a coragem de armar para ele. Não entendia o que a tinha motivado a cometer tamanha traição, mas se sua intenção era aproximá-lo, conseguiu exatamente o contrário.
— Olá. — Olhou para o lado e viu Ana Clara. Sorriu gentilmente para ela.
— Oi, Clara.
— Está guardando lugar para alguém? — Usou suas palavras quando se encontraram na rodoviária.
— Sim. Para você. — Sorriu e deu dois tapinhas ao seu lado no banco.
— Parecia perdido — disse enquanto se sentava. — Está com problemas? — Ele a encarou seriamente, olhando em seus olhos. — Pelo amor de Deus, Matheus, não me olhe assim. — O rapaz sorriu. — Droga! Quando sorri piora minha situação.
— Doida — disse sorrindo, voltando a olhar para o céu. — Como está seu pai?
— Bem, obrigada por se preocupar. Foi só um susto mesmo.
— O que aconteceu? — Queria estender a conversa para tentar se distrair.
— Ele caiu de um andaime. — Matheus a olhou com curiosidade. — É servente de pedreiro — esclareceu. — Por sorte não estava em um lugar muito alto. Fraturou uma perna e terá que se afastar do trabalho por alguns dias.
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Pequenos Cafajestes {CONCLUÍDA}
RomanceSPIN-OFF DE "PAIXÃO CAFAJESTE" Os mais velhos dizem que é fácil ser jovem, mas descobrir os amores e dissabores da vida não é assim tão simples. Diversão, paixões ardentes e corações partidos... Uma deliciosa mistura de sentimentos nessa comédia rom...