Pequenos Cafajestes {CONCLUÍDA}

Capítulo 53

— Aonde você vai? — Carla perguntou ao deixarem o neto em frente ao prédio onde morava.

— Arrumar uma mochila e sumir daqui para encontrar minha garota. Deus me livre, os dramas de Emanuelly e Luíza me traumatizaram. Eu é que não vou perder tempo, quero aproveitar cada minuto ao lado da minha linda.

— Ah, meu Deus! Acho que essa é a coisa mais romântica que já saiu da sua boca! — Olívia disse com a voz afetada. — Você gravou isso, mãe? Nunca mais teremos essa oportunidade.

— Você que pensa. Esse infeliz está com as bolas amarradas. Agora vai ser mais meloso que Maitê e Vinícius. Aguarde e verá. Logo, logo sai casamento. — O rapaz riu.

— Casamento é bom, mas picada de escorpião é melhor. — As mulheres riram. — Pare de me jogar praga, vó! Achei que eu fosse seu neto preferido!

— Você é.

— Não caia nessa, Matheus, ela diz o mesmo para os outros. Até para mim e Otávio.

— Olívia, não é porque você descobre meus segredos, que tem que sair espalhando aos quatro ventos! — Fingiu repreendê-la.

— Preciso ir, vocês vão me atrasar.

— Você avisou que está indo encontrá-la? — perguntou Olívia.

— Pensei em fazer uma surpresa. — A mãe contorceu a boca.

— Acha que é uma boa ideia? Ela está com os pais e a filha, Matheus. Vocês já conversaram sobre isso? Sobre você se apresentar a eles e se aproximar da menina? — O rapaz franziu as sobrancelhas.

— Por que ele não poderia se aproximar da filha da namorada dele? — perguntou Carla.

— Eu não disse que ele não pode, estou perguntando se já conversaram sobre isso. Talvez Ana Clara queira ter um pouco mais de confiança nessa relação antes de deixar que a menina se apegue a ele. Matheus é todo moleque, vai conquistar a garota sem precisar se esforçar, mas é preciso saber se Clara não vê nenhum problema nisso. — Deu de ombros.

— Não estrague o momento, Olívia! Clara está tão apaixonada quanto ele, e tenho certeza que ela vai adorar a surpresa. — Olhou para o neto. — Vá arrumar suas coisas e suma daqui. — Ele ficou pensativo. — Matheus!

— Eu acho melhor telefonar...

— Vai telefonar o caralho! Seja espontâneo, siga seu coração. Se quer fazer a surpresa, apenas faça. Não pense demais, você sempre agiu por impulso, então continue sendo você mesmo. — Ele olhou para a avó e ela lhe jogou uma piscadela. — Mete o louco! — Matheus gargalhou.

— Você não existe! — disse aos risos, afastando-se do carro quando Olívia deu partida.

Foi até seu apartamento e separou algumas trocas de roupas para a viagem, guardando tudo em uma mochila.

Segundo Clara havia lhe dito, e após fazer uma breve pesquisa, o lugar para onde estava indo era muito pequeno; um distrito com aproximadamente três mil habitantes. Havia apenas um banco com caixa eletrônico, uma padaria, dois minimercados, duas escolas — sendo uma para a pré-escola e outra para ensino fundamental e médio —, e um único hotel, onde pretendia se hospedar. Se os habitantes precisassem de atendimento médico, tinham que ir ao município vizinho, pois ali só existia um posto de saúde para atender a população, e a situação era precária.

Após um banho rápido, se apressou para cair na estrada. Não era muito longe, duas horas de viagem, mas queria chegar antes do anoitecer.

Tamborilando os dedos no volante no ritmo da música que tocava, tentou não dar atenção ao nervosismo, mas quanto mais se aproximava de seu destino, mais pensava nas palavras de sua mãe. E se Ana Clara realmente não o quisesse perto da filha ainda?