Pequenos Cafajestes {CONCLUÍDA}

Capítulo 45

Olhando para a loira com nítido desprezo, Ana Clara esperou até que Laís abrisse a boca para dizer o que queria, já suspeitando do que se tratava.

— Você não vai fazê-lo feliz — disse após um longo tempo. A moça continuou a encará-la.

— Além de oportunista, banca a vidente também?

— O que você acha que tem a oferecer? — ignorou o comentário dela, olhando-a com desdém. — Me acusa de ser oportunista, quando você é uma pobre coitada que claramente está tentando subir na vida. Não somos muito diferentes, afinal de contas. O que nos difere é que eu realmente o amo.

— Ama? — Riu sem emoção. — Você tem uma visão muito deturpada de amor. Não se trai a pessoa a quem se ama, Laís, nem mesmo tenta interferir em sua felicidade. Se Matheus disser que não me quer, não poderei forçá-lo a decidir o contrário. Desejarei que ele seja feliz, independente da escolha que tomar para sua vida, e sairei da vida dele com minha dignidade intacta.

— Ah, que bonitinho... Lição de moral a essa hora. — Revirou os olhos. — Sinceramente, o que ele viu em você? É tão... Simples, sem sal, não há nada excepcional para fazê-lo preferir você a mim. Além de ser... — Clara arqueou as sobrancelhas quando ela engoliu as palavras.

— Gorda? — Sorriu. — Não é nenhum palavrão, não se constranja. Talvez ele tenha visto na mulher gorda, simples, sem sal e sem nada excepcional, o que não encontrou na modelo esbelta de olhos claros. — Se ajeitou em sua cadeira. — Isso é tudo o que você tem a oferecer, Laís? Seu corpo? Não me admira que não tenha prendido a atenção dele o bastante. Deixe-me dizer uma coisa, você é sim uma mulher incrivelmente bonita, por fora, apenas a casca, porque, por trás desse rostinho bonito, das maquiagens e roupas caras, há uma criatura deformada, podre, sem o mínimo de conteúdo. Beleza física atrai os homens em um primeiro momento, mas é a essência de cada mulher que os mantém por perto. Se tem apenas aparência para oferecer, o encanto logo se desfaz. Se não é capaz de oferecer sequer um carinho, uma palavra amiga, uma momento de conforto e compreensão, então só terá relações vazias, baseadas apenas interesses físicos ou financeiros. — A loira enxugou o canto dos olhos, impedindo que as lágrimas transbordassem.

— Eu não suporto ser rejeitada — murmurou mais para si mesma do que para ela. — Ele voltará para mim. — A encarou, claramente tentando provocá-la.

— Acha que vou brigar com você por causa dele? — Riu debochada. — Não por esse motivo, Laís. Matheus é livre para fazer as próprias escolhas, mas ouça com atenção o que vou dizer agora: Se tentar prejudica-lo de alguma forma, se tirar a tranquilidade na qual ele está, para conseguir o que quer, então conhecerá um lado meu que poucos conheceram até hoje, e garanto a você que isso não é uma promessa vazia, Laís. Quer brincar de diabinha? Pois eu lhe mostro como é viver um inferno. — A encarou intensamente.

— Você protege mesmo quem ama, não é?

— Você não faz ideia. — Laís sorriu com acidez e remexeu em sua bolsa, que estava pendurada no encosto da cadeira.

— Na verdade, eu faço. — Jogou um envelope branco sobre a mesa. Clara olhou para o papel e voltou a encará-la. — Não é difícil descobrir sobre algumas coisas. Dinheiro compra tudo, Ana Clara.

— Menos vergonha na cara — comentou enquanto retirava o conteúdo de dentro do envelope. Olhou as imagens e sentiu o sangue ferver em suas veias. — Onde conseguiu isso?

— Como eu disse, o dinheiro compra tudo, até mesmo informações, e quando o investigado é um pobre coitado que não tem onde cair morto, as coisas são ainda mais fáceis.

— Se fizer alguma coisa com...

— Relaxa, não sou uma criminosa, só queria saber o que havia de tão especial em você, no caso, nada mesmo. — Apontou as fotos que ela segurava. — Ele sabe? — Clara a encarou com puro ódio, o que a fez sorrir amplamente. — Não sabe? — Riu, imaginando ter um grande trunfo na mão. — Não é que acaba de ficar interessante essa sua história? — Ana Clara guardou as fotografias em sua própria bolsa.