HELOÍSA
Meu tempo passou a ser mais dinâmico com a participação de Hans em minha rotina. Além das caminhadas matinais no parque, ele foi comigo a psicóloga e ficou o tempo todo me aguardando na sala de espera. Quando precisei levar Helena a clínica de vacinação, ele nos acompanhou e evitou que eu desse uma bofetada na mulher que agulhou minha filha.
Outro dia, ele me fez assistir vídeos das melhores entrevistas que fiz, além de me fazer acompanhar os jogos dos campeonatos de futebol do mundo inteiro. Ele dizia que eu precisava me manter atualizada para quando voltasse a trabalhar. Também me ajudou a redefinir minhas senhas da internet e fracassou na tentativa de me fazer lembrar como tocar violão.
Ele se importava comigo, isso eu já tinha descoberto. Mas eu não conseguia entender a profundidade de seus sentimentos, pois apesar de sua presteza, a maior parte do tempo ele era reservado e sisudo. Quando resolvia falar, era econômico com as palavras e quando eu fazia perguntas sobre nosso passado, ele simplesmente me deixava falando sozinha.
Cada vez eu ficava mais confusa, pois o que faltava em palavras, eu recebia em ações. Contudo não era fácil ter que lidar com sua constante presença. Na verdade, era quase uma tortura. O homem aproveitava os momentos em que estávamos sozinhos para me pegar de surpresa e me agarrar. O pior de tudo isso foi descobrir que eu era uma presa fácil.
Assumidamente fácil! Era uma droga ter minha carência emocional e meus desejos físicos aliados contra mim.
Eu até que tentava ser forte, tentava dizer não e sair por cima da situação como uma mulher segura de si e controlada. Mas eu estava longe de ter essas qualidades. Eu era confusa, impulsiva e cheia de tesão por meu primo. Racionalidade me passava longe quando nossas bocas se juntavam.
Por sorte (ou azar), sempre éramos interrompidos. Quando estávamos prestes a tirar nossas roupas e cometer os piores atos libidinosos, o telefone tocava, alguém aparecia ou Helena chorava.
No final das contas eu ficava sem saber se o fato do mundo agir em nosso desfavor era na verdade uma coisa boa. Se eu fosse olhar meu histórico, era melhor que nada acontecesse entre nós dois. Por mais que eu desejasse minhas memórias de volta, eu não queria que os sentimentos profundos por Hans voltassem. O amor da antiga Heloísa era apresentado para mim de uma maneira humilhante demais. Eu já tinha entendido que passei a vida correndo atrás de meu primo. Também entendi que fui uma chata insistente e que até cheguei a receber algumas coisas dele. Mas essas coisas que ele me oferecia eram físicas e temporárias.
Eu me pegava pensando nisso, nos poucos momentos que eu ficava sozinha. Dizia para mim mesma que não cederia mais as investidas de Hans, que seria superior a qualquer vontade carnal e seguiria em frente. Mas tudo fracassava quando ele se aproximava. O acordo feito comigo mesma era quebrado em questão de segundos.
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A semana passou sem que meu cérebro pudesse resgatar qualquer lembrança. Não tive outro pesadelo, o que na verdade foi muito bom.
Era sexta-feira à tarde quando eu me olhava no espelho. Horas atrás, Lise e eu entramos num embate quanto ao meu corte de cabelo. Minha prima tentou me convencer de todas as formas a não radicalizar muito no visual. O cabeleireiro sugeriu que eu cortasse abaixo dos ombros. Acabei aceitando e todos ficaram satisfeitos.
Diante da minha própria imagem eu averiguava tudo o que tinha feito. Os cachos que geralmente coroavam minha cabeça deram lugar a fios escovados. Ainda tinha um ar rebelde com mechas assimétricas e amassadas, mas com uma certa elegância. Minhas unhas estavam pintadas de vermelho e eu usava um vestido acinturado verde.
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Resetar
RomanceAVISO: PARA MAIORES DE 18 ANOS - CONTEÚDO ROMÂNTICO E SENSUAL. PEÇO QUE NÃO LEIA SE ESSE TIPO DE LITERATURA NÃO LHE AGRADA. Heloísa perde a memória sem motivos aparentes. Decidida a encarar sua realidade, ela tenta se readequar a sua própria vida. E...