Capítulo 6 parte 2

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HELOÍSA

Meu sono pesado foi interrompido por cutucões nos ombros. Ainda com os olhos fechados, me perguntei quem poderia ser o indivíduo que teria coragem de fazer tamanha maldade com a mãe de uma recém-nascida.

Helena, como todas as madrugadas, tinha acordado com cólica. Então, segui com a nossa rotina. Pinguei algumas gotas de remédio em sua boca, troquei sua fralda e a amamentei. Ela golfou o leite em meu braço, chorou por meia hora e soltou puns. Minha mãe veio me ajudar, mas logo desistiu e voltou para o seu quarto. Helena continuou chorando por mais alguns minutos, fiquei nervosa por não lembrar de nenhuma canção de ninar, até que resolvi inventar melodias.

Amamentei de novo e continuei cantando minha própria composição. Num certo momento, ela parou de mamar para sorrir com os olhos fechados. Talvez ela estivesse gostando da música. Sorri de volta. Mais puns foram liberados, teve arrotos também e logo em seguida, minha bebê adormeceu.

Deitei na minha cama, me enrosquei no cobertor, abracei o travesseiro e não vi mais nada até sentir aqueles malditos cutucões. Lentamente fui abrindo os olhos. Entre meus fios de cabelos enxerguei pernas bem trabalhadas vestidas numa bermuda azul acima dos joelhos. Eu já sabia quem era, só não contava que ele pudesse chegar tão cedo.

Fechei os olhos e ainda abraçada ao travesseiro virei a cabeça para o lado oposto sem deixar de resmungar:

- Cai fora.

- Você tem dez minutos para ficar pronta. - Hans disse, e eu fingi que não ouvia. Mas minha tática não funcionou, pois logo ele voltou a se manifestar. - Heloísa, está me ouvindo?

- Não.

- Levanta agora dessa cama.

- Não vou não.

- Eu disse que viria. Então faça o favor de acordar e se arrumar.

- Mas eu disse não ao seu convite.

- Não foi um convite, Heloísa. Você não tem escolha. São seis e meia da manhã. Sairemos em dez minutos.

- Mas você disse que chegaria às sete. - choraminguei com tristeza.

- Vim mais cedo porque sei que enrolaria para acordar.

- Não só vou te enrolar como não irei para essa caminhada idiota.

- Levanta agora, Heloísa. - sua voz saiu baixa, porém em tom de ordem.

- Li um artigo que a mãe tem que descansar enquanto o bebê descansa. Então se manda daqui e me deixa descansar. - houve silêncio e eu pensei que tinha me livrado dele. Mas de repente minha coberta foi arrancada do meu corpo. - Ah não, que crueldade. Não acredito que você fez isso.

O contato com o ar fez minha pele estremecer. Minha camisola estava enroscada até a cintura e eu não usava calcinha. Continuei imóvel abraçada ao meu travesseiro fingindo que não estava constrangida.

- Você está com bunda de fora. - ele disse com a voz impassível.

- Pelo que entendi, minha bunda não é novidade para você.

Após eu resmungar com atrevimento, percebi que meu colchão se afundou. Era Hans se aproximando. Pude sentir o calor de seu corpo amenizar a ausência de cobertor. Logo ele se alojou em minhas costas. Sua mão direita deslizou pela lateral da minha cintura até repousar em meu ventre. Arfei ainda me agarrando ao travesseiro. Meu sono já não existia, meu corpo estava vivo e em grande expectativa.

Sua respiração acariciou meu pescoço. Aquele homem me conhecia mais do que eu mesma. Até a mordida em meu ombro tinha pressão exata para me excitar.

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