HELOÍSA
Um dia após a minha festa de aniversário, recebi um telefonema surpreendente. Lise tinha passado meu número para ninguém menos que Otávio. Fiquei sem saber se ele tinha pedido o meu contato, ou, se minha prima tinha bancado o cupido.
Otávio não fez rodeios. Foi logo me convidando para sair. Infelizmente tive que recusar, pois o vestibular estava próximo e eu não queria me distrair. Mas ele me fez prometer que quando passasse a primeira fase das minhas provas, sairíamos para assistir uma peça de teatro e depois jantar.
E foi o que aconteceu.
Assim que fui aprovada na primeira etapa da Fuvest, recebi sua ligação. Fomos ao teatro e jantamos num restaurante de cozinha contemporânea.
Foi o primeiro encontro adulto da minha vida. Durante anos pensei que Hans seria o homem a me levar para um programa como aquele. Afinal, era ele que sempre estava presente nos momentos importantes da minha vida. Contudo, já fazia um tempo que ele tinha decidido abrir mão desse direito. A escolha de Hans de se afastar e cortar o contato era dolorosa mas, no momento, tudo o que eu podia fazer era respeitá-lo.
Pensar nessas coisas me distraiu enquanto comia uma generosa fatia de torta Sacher.
– Tem alguma coisa de errado com a sua sobremesa? – Otávio perguntou me despertando de meus pensamentos.
– Não! – sorri tentando mostrar que estava tudo bem. – Essa torta está ótima!
Naquela noite, quando Otávio me levou de volta para minha casa, nós nos beijamos. Eu mentiria se dissesse que o beijo não mexeu comigo. Senti carinho e vontade de abrir meu coração para uma coisa nova.
Com seu jeito genuíno, Otávio contribuía para que eu me auto firmasse como mulher. Era bom saber que havia um homem disposto a me conquistar. Isso mostrava que eu valia a pena o esforço.
Pensei em como eu poderia viver o presente sem jamais esquecer o meu passado. Talvez isso fosse possível. Eu queria aproveitar as oportunidades que a vida me dava. Eu precisava disso.
Mas, por outro lado, comparações involuntárias aconteciam a todo instante em minha cabeça. A verdade era que eu nunca deixaria de acreditar que um dia Hans e eu nos acertaríamos de uma vez por todas.
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O vestido longo de saia rodada esvoaçava enquanto eu era girada na pista de dança. O calor da primeira quinzena de dezembro mostrava que estávamos prestes a entrar num verão que prometia temperaturas muito elevadas. Surpreendentemente, o traje formal não me causava desconforto, pois as alças finas e o decote em V profundo contribuíam para que eu não sentisse calor.
Da cintura para cima o tecido se ajustava em meu corpo fazendo um jogo de "esconde e mostra". Da cintura para baixo, o vestido se abria numa saia godê de cetim preta com um tule sobreposto. Os pequenos cristais cravejados em todo o comprimento e a fenda que se abria à medida que eu me movimentava, davam um toque muito especial à aquela peça exclusiva.
Hava Nagila, uma canção hebraica, era entoada e dançada com bastante animação pelos convidados. Apesar da cerimônia não ter sido totalmente judaica, os noivos optaram por receber a benção de um rabino. Ramona, a noiva de André, dançava com entusiasmo sem se importar com sua gestação avançada. Eu me lembrei que ela relutou em se casar, mas quando a pressão dos familiares ficou insuportável, resolveu ceder com a condição de esbanjar luxo numa grande comemoração.
Meu coque elegante foi se desfazendo até meus cabelos se soltarem totalmente. Mas Otávio continuava a me rodopiar sem se importar com isso. Eu ria alto acompanhando seu ritmo. Havia tempos que eu não me divertia tanto.
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Resetar
RomanceAVISO: PARA MAIORES DE 18 ANOS - CONTEÚDO ROMÂNTICO E SENSUAL. PEÇO QUE NÃO LEIA SE ESSE TIPO DE LITERATURA NÃO LHE AGRADA. Heloísa perde a memória sem motivos aparentes. Decidida a encarar sua realidade, ela tenta se readequar a sua própria vida. E...