Capítulo 14 parte 2

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Heloísa

"Aprovado Cum Laude". Foi o que ouvi do orientador de Hans no final da defesa de sua dissertação de mestrado. Essa frase em latim só poderia significar uma coisa boa, pois meu primo tentava disfarçar o sorriso de contentamento.

Eu assisti tudo sentada num banco da última fileira do auditório da universidade. Ninguém da nossa família compareceu, pois Hans com seu jeito introspectivo não queria nenhum alarde. Mas eu disse que fazia questão de estar presente num momento como aquele e acabei comparecendo mesmo sem ter sido convidada.

O lugar estava praticamente vazio. Havia apenas algumas pessoas espalhadas nas primeiras fileiras. Presumi que poderiam ser seus colegas de profissão e talvez alguns alunos curiosos.

Hans vestia um paletó escuro e seu cabelo estava penteado para trás. Incrivelmente lindo! De tirar o fôlego de qualquer mulher! Além disso, ele estava extremamente concentrado. Fiquei surpresa com a segurança com que explicava seu trabalho. Ele nunca foi muito de falar, mas precisei reconhecer que tinha uma excelente oratória. Ele não vacilava com as palavras.

Mesmo sem entender o assunto de sua dissertação, eu me sentia orgulhosa e, de certa forma, parte de tudo que estava acontecendo. Há anos eu acompanhava sua dedicação em se tornar um neurocirurgião e um professor universitário. Eu o admirava por nunca se acomodar com o conforto financeiro que nossa família nos proporcionava.

No final, todas as pessoas o cumprimentaram. Preferi permanecer no mesmo lugar aguardando o momento certo para me aproximar. Mas essa espera se prolongou quando meu primo foi abordado por um grupo de amigos. Percebi que o assunto entre eles não terminaria tão cedo.

Ao me colocar em pé, nossos olhares se cruzaram. As pessoas estavam entretidas na conversa, mas ele foi se dispersando do assunto à medida que eu me aproximava. Eu não queria interromper aquelas pessoas. Na verdade, eu nem queria que minha presença fosse percebida. Eu até tinha bastante coragem de me fazer ser notada, fazia parte de mim ser exibida. Mas aquele era o momento do meu primo. Ele sim era o motivo de toda a atenção. O brilho estava todo nele e ali eu era apenas uma apreciadora.

Os amigos de Hans só perceberam minha presença quando ele pediu licença e veio até mim. Não sabíamos como nos comportar em público. Aquilo era estranho, porque quando estávamos só nós dois, as coisas funcionavam de um jeito muito mais orgânico.

Forcei um sorriso, eu odiava me sentir tímida. Já meu primo continuava sério, travando a mandíbula e me fuzilando com o olhar.

– Parabéns. – minha voz saiu baixa.

– Você veio. – ele mal mexeu a boca para falar.

– Eu disse que viria.

Ficamos nos encarando num silêncio incomodo. Quando ele estava prestes a dizer algo, fomos interrompidos.

– Parece que alguém teve coragem de vir – um homem, da mesma faixa etária de Hans, falou. – Nos apresente sua amiga, Hans.

Meu primo ignorava o homem e me encarava de um jeito intimidador.

– Sou Heloísa. – sem jeito, acabei respondendo eu mesma, para não piorar o clima.

– Prazer, Heloísa. Eu me chamo Otávio. – com galanteio e agilidade, ele me cumprimentou com dois beijos no rosto.

– Helô, você veio! – um doutor André mais jovem veio em minha direção e me abraçou amistosamente. Nessa época, André já era amigo de nossa família. Por algum motivo, eu me lembrava disso.

Atrás dele estava uma mulher. Uma morena de olhos verdes que sorriu e estendeu o braço para me cumprimentar.

– Oi, eu sou Cassandra.

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