(Ainda dentro das memórias de Helô)
HELOÍSA
Estávamos deitados de lado, um de frente para o outro com o cobertor cobrindo metade de nossos corpos nus.
Hans tinha dormido enquanto papeávamos bobagens. Não me importei, pois eu sabia o quanto ele estava cansado. Num único dia ele viajou de um estado para o outro, encarou o trânsito de São Paulo, foi ao estádio de futebol e ainda me proporcionou fodas de altíssimas qualidades.
Fodas. Isso mesmo! Nossa depravação quase nunca ficava no singular.
Acontece que, depois a nossa primeira rodada de sexo, ele se deu conta de que não tínhamos usado proteção. Não senti que ele me acusava de algo, foi apenas uma constatação. Realmente deveríamos ter atentado para isso. Ainda que eu estivesse numa fase de "celibato", eu conhecia Hans e sua sede por prazeres carnais. Ou seja, quem estava em maior desvantagem não era ele. Mesmo assim, me manifestei e disse que, no caso dele, poderia ficar tranquilo em todos os sentidos. Eu fazia o uso de pílulas de anticoncepcional e havia muito tempo – muito tempo mesmo – que eu não tinha relações sexuais.
– Quer dizer que o japonês não deu conta... – ele disse com ironia e contentamento.
– Não foi isso que aconteceu!
– Não? Porque eu te conheço! Você não faz o tipo que nega fogo.
– Você tem uma ideia muito errada de mim, sabia? – falei, controlando a vontade de socar o rosto lindo dele. – Eu apenas não quis transar e Otávio me respeitou!
De repente, o seu sorriso arrogante se desfez. Com certeza a minhas palavras diretas o aborreceram. As frações de segundos seguintes foram sufocantes. Cheguei a temer o mal-estar que poderia se instalar entre nós e estragar tudo. Até que, num movimento rápido e quase grosseiro, recebi um beijo na testa. Tal gesto não era o mais adequado para levantar a bandeira da paz, pois a carranca ciumenta continuava a estampar seu rosto, mostrando como era difícil relevar o fato de que eu era a ex-namorada do seu amigo. Mas aquele era Hans tentando dar o seu melhor. Não dava para exigir muito dele. Por esse motivo, dei um jeito de mudar o rumo daquela conversa com a finalidade de aliviar o clima.
Consegui esse feito sem dificuldades.
Em meio a assuntos aleatórios, fiz a proeza de deixar escapar que não só dormi, como também me masturbei na sua cama após a nossa chamada de vídeo no dia anterior.
Vi suas narinas dilatarem e os olhos brilharem em resposta àquela informação. Com o propósito de me mostrar o quanto eu o tinha provocado, ele segurou a minha mão e a levou até seu membro.
– Olha o que você faz comigo, menina! Eu acabei de gozar e já estou duro que nem pedra!
Instantaneamente, ele me fez deitar com as costas no colchão. Ao se ajoelhar entre as minhas pernas, pediu para que eu repetisse a cena do dia anterior. Alegou que merecia um show à parte, já que eu tinha feito indecências na sua cama.
Reconheci que me tocar na sua frente era uma forma justa de me desculpar por ser tão arteira. Não apenas o obedeci como me superei ao dar a minha melhor performance.
O que aconteceu depois foram outras fodas memoráveis.
Sorri com essas lembranças recentes. Ao velar pelo sono de Hans, contemplei o seu rosto relaxado. Ele costumava estar sempre barbeado, com a pele totalmente lisa. Mas aqueles pelos crescidos me contavam sobre a sua total dedicação ao congresso médico.
As olheiras denunciavam seu cansaço, a vermelhidão causada pela dermatite estava visível na região do nariz e, para completar, eu tinha carimbado a sua testa com um galo. O conjunto desses infortúnios deixaria a maioria das pessoas feias, mas com ele as coisas costumavam ser diferentes. O homem continuava lindo! Pura tentação!
Suspirei, apaixonada, e beijei seus lábios com leveza.
Eu não tinha sono. Minha mente estava acelerada pensando em toda trajetória do nosso tumultuado relacionamento. Eu sentia um misto de gratidão, expectativa e medo. Não dava para ficar daquele jeito ao lado de alguém que precisava descansar, pois uma hora a minha agitação o despertaria.
Ao me levantar da cama, senti incômodo e ardência em toda a região íntima. Mas isso não era ruim, pelo contrário. Porque aquela era a consequência das coisas gostosas que tínhamos feito.
Sem nada para fazer, fui até o banheiro dar um jeito na bagunça. Peguei as toalhas molhadas e parte de nossas roupas. Na sala, juntei o restante das peças que estavam espalhadas pelo chão e levei tudo para a área de serviço. Foi então que me dei conta da minha nudez. A madrugada estava fria e não pude deixar de imaginar Hans me vendo naquela situação. Provavelmente ele me daria um sermão – e uma explicação médica – igual a que eu tinha ouvido horas antes. Em função disso, segui para o quarto de hóspedes e vesti roupas confortáveis.
No relógio do telefone vi que faltavam algumas horas para começar a minha primeira aula na faculdade. Era tempo demais e eu odiava ficar ociosa. Para fazer a insônia valer a pena, resolvi preparar o café da manhã. Eu estava com fome e, além disso, pensei que meu primo ficaria feliz por acordar e ter o que comer.
Na cozinha, comecei pelo bolo de amendoim. Não usei a batedeira caríssima, pois a receita era simples e dava para bater a massa com apenas um fouet. Claro que Hans não precisava saber desse detalhe. Essa era uma informação que eu guardaria a sete chaves.
Quando a mesa ficou pronta, fiz meu desjejum mergulhada em diversos pensamentos. Tomei o último gole de café, já prevendo o que faria. O certo era que tentasse dormir pelo menos um pouco. Mas eu me conhecia o bastante para saber que nessa missão eu não obteria sucesso.
Por isso, resolvi que era hora de ir embora. Eu precisava ficar sozinha, na minha casa e no meu quarto. Só assim eu me concentraria para o dia puxado de aulas quase ininterruptas na universidade.
Tudo bem que Hans pediu que passássemos a noite juntos e, por consequência, esperava me encontrar em seu apartamento pela manhã. Mas eu não seria inconsequente de interromper o seu sono só para me despedir. Como também não poderia ir embora na calada, correndo o risco de causar uma má impressão.
Então fiz um bilhetinho. Expliquei os meus motivos com objetividade e deixei o papel sobre o criado-mudo, bem ao lado do seu telefone. Mais tarde, eu mandaria uma mensagem de texto também.
Porém, antes de partir, não pude conter a vontade tocá-lo. Acariciei o seu rosto, adorando sentir o calor de sua pele. Insatisfeita, beijei suavemente os seus lábios.
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Resetar
RomanceAVISO: PARA MAIORES DE 18 ANOS - CONTEÚDO ROMÂNTICO E SENSUAL. PEÇO QUE NÃO LEIA SE ESSE TIPO DE LITERATURA NÃO LHE AGRADA. Heloísa perde a memória sem motivos aparentes. Decidida a encarar sua realidade, ela tenta se readequar a sua própria vida. E...