Capítulo 28 parte 1 (Final)

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HELOÍSA


Foram quase quatro anos revividos em poucos segundos. A velocidade com que meu cérebro trabalhou me exauriu em muitos sentidos, mas não a ponto de perder o juízo. Até porque eu não tinha mais o luxo de pensar só em mim. Estar de volta ao presente era ter Helena em minha vida e, por ela, eu faria todo o esforço para me manter sã.

Munida por essa força de vontade, me atentei ao meu redor. O apartamento de Hans era repleto de valores sentimentais, cada canto contava uma história vivida com muita intensidade. Mas ver um chocalho largado sobre o tapete e um carrinho de bebê próximo ao rack me fez entender que além de recuperar o seu antigo significado, o lugar ganhava novas lembranças. E uma parte delas incluía a minha filha.

Retornar para a realidade do presente ampliou o meu entendimento em geral. Ainda que eu tivesse muitas dúvidas, ganhei uma nova capacidade crítica ao saber um pouco mais sobre a minha própria vida.

Gritar, ofender e até quebrar coisas eram ações que eu deveria deixar no passado. Eu precisava ser muito cautelosa, fazer o possível para que a emoção não sobrepusesse a razão. Não cabia mais agir impulsivamente e ser injusta com aqueles que me cercavam sem antes apurar todo o contexto.

Apesar da minha boa vontade, não pude evitar sentimentos ruins diante da cena que acontecia bem na minha frente. Enquanto Hans levava Pamela à porta, ela puxava assunto na tentativa de prolongar a sua permanência. Ele estendeu a mão para se despedir, mas ela, ignorando o gesto polido dele, o abraçou. E, como se não bastasse, me lançou um olhar arrogante. Seu comportamento me deu ojeriza. A mulher, que durante meses saiu às escondidas com o meu pai, era a ex-namorada de Hans.

Mas qual era a ordem cronológica desses acontecimentos?

Pensando logicamente, a primeira vez que a vi foi no aniversário do meu pai. Então era certo que o seu namoro com o meu primo tivesse acontecido depois. Além disso, do jeito que Antônio era sistemático e íntegro, ele não se envolveria com alguém que pertencesse ao passado de seu sobrinho preferido.

Por outro lado, tinha Hans. Será que ele sabia sobre meu pai e Pamela? Eu esperava que não, pois era difícil aceitar que ele teria coragem de namorar com uma ex-amante do próprio tio.

Mas, mesmo com essa situação tão complicada e asquerosa, eu não poderia focar somente nessa preocupação. Eu tinha outros e maiores problemas para resolver.

Quando Hans trancou aporta, ficamos finalmente só nós dois. Talvez ele já estivesse preparado paraqualquer reação da minha parte em relação à presença desagradável de Pamela.Contudo, ele não imaginava que mais uma parcela das minhas memórias tinhaacabado de ser recuperada. Nos encaramos por alguns segundos. Com diversossentimentos entrelaçados um no outro, fiquei sem saber como revelaria o meurecente avanço. Senti o coração pulsar rápido e, num ato de desespero, minhasmãos suadas se agarraram com firmeza nos braços da poltrona.

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Sigam para a segunda parte do capítulo...

Naty





  


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