Capítulo 24 parte 1

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(ainda dentro das memórias de Helô)

HELOÍSA

Lá estavam os homens mais rabugentos do mundo: meu amado pai e Hans!

Os dois, que me aguardavam na sala de espera, levantaram do sofá assim que saí do consultório do Doutor Armando.

– O médico quer que me virem ao avesso – falei, sacudindo os papéis com os pedidos de exames.

Atrás de mim, escutei o riso do psiquiatra e, em seguida, ouvi ele falar:

– Doutor Antônio e Doutor Hans, por favor, entrem.

– Eles também vão se consultar? – Perguntei com sarcasmo, mas eu sabia que meu médico costumava conversar com as pessoas que conviviam com os seus pacientes. Bem, não era de se estranhar que Hans teria muito mais a dizer do que o meu pai.

Eles cumprimentaram o doutor Armando de um jeito bem formal e entraram calados no consultório. Ao ver essa cena, não me segurei e disse para a secretária:

– Isso tá parecendo a sala do diretor no ensino médio.

A mulher não esboçou reação. Voltou a digitar no computador como se não tivesse me escutado. Dei de ombros. Tubo bem ela ser apática comigo, afinal, não era fácil lidar com gente de todo o tipo o dia inteiro. Era cada maluco que deveria surgir na sua frente....

Vasculhei um revisteiro em busca de algo para me distrair. Eu tinha esquecido o telefone em casa e o jeito seria compartilhar bactérias das minhas mãos com as bactérias de uma revista velha. E coloca velha nisso! Depois de surgir a possibilidade de cada ser humano ter a própria internet nas mãos, adquirir informações em periódicos de papel nas salas de espera era raridade (e um insulto aos ambientalistas). Entretanto, acabei encontrando algo interessante: um exemplar cheio de artigos sobre psiquiatria.

Sentei no sofá pronta para obter um pouco de conhecimento. Folheei, mas sem conseguir me concentrar em nada. A verdade era que, apesar do meu bom humor naquele dia, não dava para negar que eu estava apreensiva. Eu ainda não sabia qual era o meu problema e qual seria o tratamento.

Continuei passando página por página até encontrar a foto de um cérebro. Não era a imagem de uma tomografia ou de um desenho didático qualquer. Era algo muito real! Parecia uma noz gigante, só que avermelhada e gosmenta!

Minhas mãos suaram e perderam a firmeza. Imediatamente fechei a revista. Nem eu sabia que era fraca para essas coisas!

– Nunca mais vou comer bombom de nozes – sussurrei, largando a revista de qualquer jeito sobre uma mesinha de canto.

Foi então que a porta do consultório abriu e doutor Armando me chamou para entrar outra vez.

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Até o próximo capítulo...

Naty

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