Heloísa
Um novo momento do meu passado me veio à mente. A idade exata do ocorrido era incerta, mas eu sabia que era parte da minha adolescência.
Eu cobria os meus braços arranhados numa camisa de flanela xadrez ao mesmo tempo em que tentava acompanhar os passos apressados de meu pai. Recordei que, por algum motivo, ele estava bastante desapontado comigo.
O local eram um aeroporto. Já tínhamos despachado as bagagens, passado no detector de metais e estávamos rumo ao nosso portão de embarque.
Avistei tio Soren e Hans. Lembro que me perguntei o porquê de meu primo estar presente naquela viagem. Senti a necessidade de cobrir ainda mais os braços, depois tentei esconder parte do meu rosto com mechas do meu cabelo e ajustei o boné em minha cabeça.
Quando estávamos nos aproximando deles, vi um Hans mais jovem, menos musculoso e com um corte de cabelo maior, que caía em sua testa. Nossos olhares se cruzaram, mas rapidamente cortei a nossa conexão. Não queria que ele me visse naquele estado.
Ao me ver, tio Soren me perguntou o que tinha acontecido comigo. Antes que eu pudesse responder, meu pai se manifestou dizendo que briguei na escola e que por sorte não fui expulsa. Mas estava suspensa por alguns dias. Ele falava tão abertamente sobre os meus erros, que a única forma de me proteger da vergonha foi abraçar o meu próprio corpo e olhar para o chão.
– Isso acontece. – disse meu tio, num sotaque bastante carregado. – Você puxou a mim. Nunca levei desaforo para a casa.
Ele tentou brincar e me abraçou de lado com o intuito de deixar o clima mais leve. Meu tio era uma pessoa extremamente calma. Essa característica era bem-vinda naquele momento. Sorri constrangida, sem querer falar nada.
Não me recordei qual era o nosso destino. Mas ao entrar na aeronave, apoiei a cabeça no encosto do meu assento e escondi ainda mais o meu rosto. Eu estava triste sim, mas o sentimento maior era o de revolta.
Chegamos numa cidade grande, bastante urbana, com praia e muito sol. Até que tentei ficar com minha camisa flanelada, mas o mormaço era tão sufocante que tive de amarrá-la em volta da cintura. Olhei para os arranhões, alguns grossos e em carne viva. Ao reviver essa situação, fiquei ainda mais confusa por não saber como aquelas feridas foram parar ali. Na verdade, havia muitas coisas confusas e sem respostas nessa lembrança, e uma delas era o motivo de estarmos naquele lugar.
Sentada no sofá da recepção do hotel, eu aguardava meu pai e meu tio terminarem de fazer o check-in. Foi quando ouvi a voz de Hans me tirar da introspecção:
– Quem te fez isso?
– Não te interessa. – falei com malcriação e saí de perto. Por alguma razão ainda incerta, eu estava com raiva dele.
Quando cheguei em meu quarto, percebi que era conjugado com o quarto do meu primo. Imediatamente tranquei a minha porta. Eu não queria a companhia de ninguém e por incrível que pareça, muito menos a de Hans.
Meu pai ligou para o meu quarto dizendo o horário em que sairíamos para o jantar. Falei que não queria sair e ele respeitou minha vontade.
Me sentia febril. Pensei que tomar um banho ajudaria a baixar a temperatura do meu corpo. Abri minha mala, peguei um conjunto de short e camiseta para dormir e fui para o banheiro. Tirei a roupa com cuidado, pois meu corpo estava dolorido. Minha pele arrepiou de frio ao entrar em contato com o ar.
– Meu Deus, estou horrível! – murmurei ao ver no espelho o hematoma roxo perto do olho esquerdo.
Após o banho, eu ainda me sentia fraca. Resolvi tomar um analgésico e me deitar na cama.
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Resetar
RomanceAVISO: PARA MAIORES DE 18 ANOS - CONTEÚDO ROMÂNTICO E SENSUAL. PEÇO QUE NÃO LEIA SE ESSE TIPO DE LITERATURA NÃO LHE AGRADA. Heloísa perde a memória sem motivos aparentes. Decidida a encarar sua realidade, ela tenta se readequar a sua própria vida. E...