Último parágrafo do capítulo anterior (atenção para não pular os capítulos - eles foram postados quase simultaneamente)
Quando Hans trancou a porta, ficamos finalmente só nós dois. Talvez ele já estivesse preparado para qualquer reação da minha parte em relação à presença desagradável de Pamela. Contudo, ele não imaginava que mais uma parcela das minhas memórias tinha acabado de ser recuperada. Nos encaramos por alguns segundos. Com diversos sentimentos entrelaçados um no outro, fiquei sem saber como revelaria o meu recente avanço. Senti o coração pulsar rápido e, num ato de desespero, minhas mãos suadas se agarraram com firmeza nos braços da poltrona.
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continuação
– Qual é o meu problema? – perguntei de modo direto, mas Hans franziu a testa sem compreender. Por isso, voltei a questionar: – Borderline? Transtorno bipolar? Depressão e ansiedade?
Houve silêncio.
Meu primo permanecia em pé e estagnado no mesmo lugar, há uma boa distância de onde eu me encontrava.
– Não vai me responder? Qual é o meu problema?
– Nenhum diagnóstico exato. – Ele mal mexeu a boca para falar.
Deixei escapulir uma risada desgostosa. Aquela era a grande ironia da vida: pertencer a uma família com muitos médicos e ter uma doença sem nome.
– Isso é possível, Hans?
– Sim, em especial quando o paciente abandona o tratamento.
– Ao que parece, esse foi o meu caso – deduzi. – Parei com os remédios por causa da gravidez?
– Não. Foram meses antes.
– E eu fiquei bem sem me tratar? Digo, tive uma gestação tranquila? Houve algum surto?
– Nunca te vi melhor. – Apesar de não sorrir, sua voz saiu suave. - Você estava muito feliz por se tornar mãe.
Mesmo tensa, me senti satisfeita com a sua resposta. Assuntos que envolviam a minha filha mexiam muito comigo.
– Eu gosto de ser mãe.
– É. Eu sei disso. – Ele arriscou dar alguns passos mas parou, ainda mantendo a nossa distância. – A maternidade aflorou todas as coisas boas que você já tinha.
Sua fala me balançou. Mas eu não baixaria a guarda só por ouvir coisas legais. Eu precisava me manter firme porque havia muitas questões a serem esclarecidas. Então, como se aquelas palavras não me causassem efeito, suspirei, endireitando a coluna e prosseguindo com minhas indagações:
– Quando André sugeriu que eu me consultasse com um psiquiatra, por que me levaram a outro médico? O que aconteceu com o doutor Armando?
– Se aposentou.
– Então ele conseguiu se aposentar do jeito que sempre sonhou. – Constatei.
– Vive num sítio no interior do estado – disse e forçou um sorriso, falhando miseravelmente. – Agora cuida de uma horta e cria galinhas com a esposa.
– Que bom. Isso é uma boa notícia. Eles queriam muito isso. – Mesmo feliz pela realização do meu antigo psiquiatra, não consegui demonstrar entusiasmo. Eu estava muito apreensiva. – E quanto a sua irmã, Karen? Sua mãe me disse que ela mora fora do país. Ela costuma vir nos visitar?
– Não muito.
– Como o Leandro morreu?
– Acidente de trânsito. Ele voltava de um trabalho humanitário.
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Resetar
RomanceAVISO: PARA MAIORES DE 18 ANOS - CONTEÚDO ROMÂNTICO E SENSUAL. PEÇO QUE NÃO LEIA SE ESSE TIPO DE LITERATURA NÃO LHE AGRADA. Heloísa perde a memória sem motivos aparentes. Decidida a encarar sua realidade, ela tenta se readequar a sua própria vida. E...