Capítulo 14 parte 3

465 132 219
                                    

OBS: o desenho acima é de minha autoria (assim como a maioria dos desenhos dos topos dos capítulos) ;)

————————————————

CAPÍTULO 14 PARTE 3
(Ainda dentro das lembranças de Helô)

Heloísa

No outro dia, acordei antes das sete da manhã. Fiquei um bom tempo deitada na cama vendo Hans dormir um sono profundo. Ele parecia relaxado, algo que não era constante nele. Outra coisa incomum era ele dormir por horas seguidas, pois, mesmo que estivesse muito cansado, seu vigor se recuperava rápido. Imaginei que poderia ser efeito das bebidas do dia anterior, já que seu corpo não estava acostumado com álcool.

Resolvi levantar da cama e fui para o banheiro. Lá eu domei meu cabelo num coque no alto da cabeça. Cuidei de mim tentado não pensar muito na noite anterior. Porém, era impossível administrar meus pensamentos. Eu estava chateada e confusa demais. Eu queria ter mais ambições na minha vida, eu precisava de propósitos maiores e decisões mais concretas quanto ao meu futuro.

Na verdade, eu queria tudo sem precisar abrir mão de Hans.

Coloquei um roupão por cima do pijama e fui para a cozinha. Avisei a empregada que meu primo tinha dormindo em casa. Tomei café em silêncio, sendo observada por ela. Minha paixão não era segredo para ninguém que convivia comigo. Em alguns momentos, eu me sentia vulnerável por isso.

Droga! Não vejo a hora da minha adolescência acabar logo!, praguejei em pensamento e fui para o jardim.

O dia estava bonito. Céu azul e poucas nuvens. Caminhei descalça, sentindo a grama pinicar os meus pés. Desejei contar meus dilemas para algum adulto. Se tia Cris não fosse a mãe de Hans, seria a pessoa para confiar minhas crises. Ou talvez a minha mãe, com seu jeito artístico de compreender a vida, pudesse me ajudar de alguma maneira. Já tinha um tempo que ela dizia que eu deveria morar com ela nos Estados Unidos. Eu sempre negava, mas andando no jardim comecei a cogitar a hipótese. Um tempo fora vivendo novas experiências poderia ser bom. Tudo bem que existia o fator Hans dentro daquela equação. Eu não queria me afastar dele, pois diante do turbilhão de dúvidas que eu vivia, ele era a única certeza que eu tinha na vida.

– Bom dia. – a voz do dono dos meus pensamentos soou atrás de mim.

– Que susto! – saltei, me virando de frente para ele.

– Não queria te assustar.

– Não tem problema, eu estava distraída. Você dormiu bem? – perguntei, e ele apenas afirmou com a cabeça. – Já vai embora?

Ele não me respondeu, mas sentou no banco do jardim, já vestido e alinhado como se aquela roupa não tivesse sido usada no dia anterior.

– Senta aqui do meu lado, Heloísa.

Um pouco insegura, fiz o que ele me pediu. Hans olhava para frente, como se estivesse fitando o horizonte, enquanto meus olhos estavam fixos em seu perfil, estudando cada parte de seu rosto.

– Está tudo bem? Você parece tenso.

– As coisas que andam acontecendo entre nós não vão mais se repetir.

Ele disse de uma forma tão direta que perdi o ar por alguns segundos. Quando me recobrei, soltei, numa voz fraca e magoada, o primeiro pensamento que me veio à mente:

– As coisas? A gente não faz coisas, Hans.

– Você me entendeu. Não vamos mais nos relacionar.

– Por quê? Fiz alguma coisa errada? – a inexperiência me levou a fazer perguntas que me reduziam a nada.

– Não quero discutir os motivos com você. – falou com objetividade, mas sem alterar o tom de voz. – Só quero acabar logo com isso.

ResetarOnde histórias criam vida. Descubra agora