ABISMO

CAPITULO 1

Camila sentiu o olhar insistente sobre si antes mesmo de erguer os olhos do celular. Já sabia exatamente de quem se tratava e, antes mesmo que Beatriz dissesse qualquer coisa, se preparou para revirar os olhos.

— Bia, qual parte do "não vou com a cara dele" você ainda não entendeu? — murmurou, sem desviar a atenção da tela.

Beatriz suspirou, segurando o riso.

— Eu juro que tento entender, mas falho miseravelmente. O que o Luan te fez, afinal?

Camila bufou, irritada.

— Nasceu.

Beatriz soltou uma risada curta, já acostumada com o jeito ácido da amiga, mas não desistiu.

— Ele é legal, Camila. Super gente boa! Todo mundo gosta dele, menos você.

Camila finalmente ergueu os olhos, encarando-a com impaciência. Seus dedos tamborilavam nervosamente sobre a perna.

— Esse é exatamente o problema. Todo mundo gosta dele. Ele é carismático, fofo, perfeito. Isso me irrita. — Fez uma pausa, como se ponderasse suas próximas palavras. — E eu não confio em gente perfeita.

Beatriz revirou os olhos, cruzando os braços.

— Você implica por implicar. Se desse uma chance, perceberia que ele não é essa imagem que você criou na cabeça.

— E por que eu faria isso?

— Porque ele tá vindo pra cá.

Camila congelou. Antes que pudesse reagir, ouviu a voz descontraída e inconfundível se aproximando.

— E aí, meninas? Sobre o que conversam de tão interessante?

Luan parou ao lado de Beatriz, apoiando-se casualmente no portão do condomínio. O sorriso fácil estava lá, aquele que fazia qualquer um baixar a guarda — qualquer um, menos Camila.

Ela ergueu os olhos lentamente, avaliando-o como se ele fosse uma figura entalhada em mármore que não fazia sentido algum para ela. Seu olhar desceu pela camiseta preta simples e subiu de novo até o rosto, onde os olhos castanhos brilhavam com diversão.

— Sobre como você é insuportável. — Respondeu sem cerimônia, arrancando um olhar de incredulidade de Beatriz.

Luan soltou uma risada genuína, sem demonstrar um pingo de ofensa.

— Nossa, que bom saber que sou o assunto. Fico lisonjeado.

— Não deveria. — Camila rebateu, estreitando os olhos.

Ele inclinou levemente a cabeça para o lado, um meio sorriso brincando nos lábios.

— Mas estou. — E então piscou. — E vou te conquistar, viu? Você querendo ou não.

Camila soltou uma risada irônica, cruzando os braços.

— Quero ver tentar.

Beatriz observava tudo com atenção, contendo um sorriso. Conhecia bem Luan e sabia que ele não recuaria diante de um desafio. E conhecia Camila o suficiente para saber que ela não estava tão imune quanto gostaria de parecer.

Luan manteve o olhar em Camila por alguns segundos a mais antes dela se afastar, ainda com o mesmo sorriso nos lábios. Quando ela desapareceu porta a dentro, Beatriz soltou um suspiro.

Ele olhou para a menina à sua frente, que parecia um pouco sem graça, mas também nervosa. O garoto, que até então tinha sido simpático, fez uma pergunta que a pegou de surpresa.

– O que deu nela? – Ele riu, parecendo realmente confuso.

– Ela é maluca! – A menina respondeu, claramente desconfortável.