T R I N T A E T R Ê S

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ALERTA DE GATILHO
ESTE CAPÍTULO CONTÉM INSINUAÇÃO DE TENTATIVA DE SUICÍDIO, MORTE, DEPRESSÃO E INTERNAÇÃO.

Quando abro a porta da cafeteria o cheirinho do café quente entra em minhas narinas fazendo com que eu suspire, peço um café para eu e para Trevor que está estacionando o carro. Escolho uma mesa mais afastada das outras pessoas até porque nenhuma delas precisa escutar a conversa que teremos aqui.

Trevor abre a porta da cafeteria e claro que a maioria das mulheres do local fixam os olhos nele. Ele apenas caminha tranquilamente até a mesa onde estou, se senta ao meu lado e me dá um selinho.

- Está nervosa, querida? - perguntou, colocando sua mão em minha perna.

- Não muito, só espero que a explicação para ele ter feito tudo isso não seja uma baboseira - digo, olhando para ele.

A garçonete põe nossos cafés na mesa e sai rapidamente, pego o copo bebendo um gole do café quente.

- Vai dar tudo certo - ele diz.

E no mesmo instante que ele diz isso, a porta se abre e meus olhos caem diretamente sobre Matt. Ele está com um moletom verde escuro, uma calça jeans preta e seu cabelo está mais bagunçado do que da última vez que o vi. Ele se aproxima com passos rápidos, se senta e olha para Trevor com receio.

- É ele? - Matt, pergunta, sem tirar os olhos de Trevor.

- Sim, é ele, e você não tem nada a ver com isso. Nós estamos aqui para falar sobre o que aconteceu, não para você me interrogar sobre minha vida pessoal. Então, pode falar logo - digo, o mais calma possível.

Seus olhos se fixam em mim, ele coloca suas mãos em cima da mesa e se aproxima.

- Tudo bem, Scarlett. Vamos começar, o que você quer saber? - pergunta, inspira fortemente, como se o peso do mundo estivesse em suas costas.

- Tudo. O motivo de você ter sumido e feito eu levar a culpa por sua suposta morte e a da minha mãe - digo, com a voz irônica. - Engraçado, você está mais vivo do que nunca - ironizo.

- Eu tive depressão, eu ainda tenho pra falar a verdade, mas naquela época estava em um nível avançado. Eu tentei me matar naquela noite, fui te procurar porque eu precisa resolver o que nós tínhamos, aquilo estava me matando, Scarlett. Eu sentia sua falta todos os dias, eu não conseguia respirar sem você do meu lado, você sempre foi tudo o que eu tinha e por uma bobagem eu te perdi para sempre. E isso me destruiu. Meu irmão viu como tudo isso me destruiu, e acabou te culpando mesmo que ele fosse obcecado por você. A dor de me perder para a depressão era maior do que te perder, então ele resolveu te destruir aos poucos. Eu só soube disso quando fui internado em uma clínica para pessoas com problemas mentais e suicidas, eu sempre soube que estar lá não iria adiantar porque eu já havia perdido uma parte de mim. Foi ele que matou sua mãe, ele que planejou tudo isso sobre você ser julgada, ele planejou cada pedacinho e eu só soube disso quando eu fui liberado da clínica. E como eu já disse, não adiantou nada, eu escondia os remédios na boca e quando a enfermeira saia eu jogava-os na privada e dava descarga. Se eu soubesse todas as merdas que ele estava planejando, eu juro, Scarlett, eu nunca teria deixado ele fazer isso com você - ele falou isso tudo muito rapidamente, suspira e continua. - Eu sinto muito mesmo por tudo isso que aconteceu, eu sempre vou te amar, Scarlett. Se eu pudesse fazer alguma coisa, eu faria, mas eu não posso - ele termina.

Muita coisa se passa por minha cabeça, as palavras se embaralham e tudo parece fazer um pouco mais de sentido. Mike, sempre foi o idiota, eu sabia disso, sempre soube e mesmo assim resolvi deixar ele me destruir.

- Então, foi ele - sussurro, essas são as únicas palavras que saíram da minha boca.

Eu me sinto vazia, não estou surpresa porque nada vindo dele me surpreende. Fico um tempo olhando para o nada e refletindo sobre tudo.

- Matt, obrigada por me contar tudo isso. Eu lamento muito por o que você passou e do fundo do meu coração, eu espero que você melhore da depressão. Ninguém merece passar por isso - digo, calmamente enquanto olho para ele, dou um sorriso leve.

- Eu também espero - ele se levanta, olha para Trevor e diz. - Cuida dela cara, você nunca vai encontrar alguém como ela. Eu te garanto, eu já tentei encontrar - completa e se sai andando.

Trevor segura minha mão e faz carinho com o polegar.

- Scar, está tudo bem? Como você está se sentindo? - pergunta, preocupado.

- Sim, está tudo bem. Me sinto mais leve, mas um pouco culpada porque eu tenho um pouco de culpa por ele estar dessa forma - digo, olhando para ele.

- Ei, você não tem culpa. A culpa é toda daquele babaca do Mike, você não tinha como saber o que ele estava fazendo, ele fez o próprio irmão sofrer no exato momento que ele se aproximou de você - ele diz, com um olhar de conforto. - O que você quer fazer agora? - ele, pergunta.

- Sinceramente? Eu quero tentar esquecer tudo isso, porque prestar queixa contra ele não vai adiantar nada, como Matt disse ele planejou tudo. E eu estou livre, então, isso quer dizer que o plano dele não deu totalmente certo - digo, calmamente com um sorriso no rosto. Trevor, sorri, e logo me dá um selinho.

- Que tal assistirmos um filme e depois arrumarmos as malas para ir para Chicago? - ele questiona, com um sorriso convidativo no rosto.

- Eu acho uma ótima ideia - digo, dando um selinho nele.

Nos levantamos e saímos de mãos dadas da cafeteria. E com toda certeza, essa foi uma bela manhã. Acho que eu só precisava ouvir a verdade para me sentir melhor, e ter Trevor ao meu lado, melhora tudo.

Honey, We're broken (FINALIZADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora